
Raul Córdula
Um livro pode ser apreciado como fonte de saber, por seu conteúdo e como objeto de fruição visual, por sua forma. SAMICO, de Weydson Barros Leal, é um exemplo do livro que contem estes dois aspectos, o livro para se ler e para se ver, o livro continente e conteúdo, objeto de prazer.
Com prefácio de Ariano Suassuna, onde ele revela as relações que existe entre ambos, contida numa estética advinda de profundas raízes nordestinas que se encontra na arte dos dois principais fundadores da arte com face nordestina, o que se segue são a qualidade do texto de Weydson e a beleza da arte de Samico. Ariano conta que foi ele quem sugeriu a Samico mergulhar na literatura
de cordel, e assim ele fez, e foi além, não se limitou a ilustrar versos e sim a reinterpretá-los. De fato, quem observar profundamente sua arte irá ler uma narrativa visual sem palavras, além do título – primordial para a leitura de cada obra – que conta histórias, mitos e mistérios próprios, independente de um suporte literal.
Sobretudo é um livro que revela o pintor Samico, pouco conhecido, mas fundamental como elemento de ligação entre o popular e o erudito, pois sua experiência pictórica é anterior à arte de gravar, e sendo assim seu imaginário telúrico e mitológico nasce mesmo é na pintura.
O texto de Weydson é uma epifania, uma revelação de detalhes e particularidades do artista e seu fazer contínuo. Samico revela minúcias técnicas, maneiras pessoais de resolver problemas do material criativo em relação à expressão da gravura e da pintura. Ele revela, sobretudo sua face de inventor, sua habilidade de criar e fazer ferramentas próprias para seu ofício, como goivas, formões e rolos de impressão próprios para determinados espaços e tensões do papel. Samico é exato, busca o ótimo, se não o perfeito.
As revelações continuam em direção ao sentido simbólico contido nas lendas que ele cria e recria: “O que me interessa nessas lendas são os absurdos. Mais do que a própria lenda. Há também a questão de que as lendas são universais, elas podem pertencer a qualquer povo, em qualquer época e lugar.” Mas a revelação mais surpreendente deste livro é exemplo que o autor utiliza para ilustrar o nível de detalhamento da arte de Samico: a série de 35 esboços, todos elaborados detalhadamente, para uma só gravura, A Caça, o que nos leva a pensar em seu trabalho como um caminho iniciático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário