terça-feira, fevereiro 14, 2012

O Carnaval de Salvador seus monumentos históricos e a falta da beleza visual






Aldo Tripodi




O Monumento ao Dois de Julho é o mais vilipendiado no carnaval


Recentemente o Ministério Público proibiu os minitrios de saírem no cortejo na festa de Dois de fevereiro alegando entre outras razões que era também para preservar o patrimônio histórico. O pau que da Chico dá em Francisco. Porque o Ministério Público também não proibi os super trios de sair no centro histórico de Salvador. Deixo logo de “cara” que não sou contra o carnaval. Mas acho que o centro histórico de Salvador não é mais palco para esta mega festa.

O Campo Grande, por exemplo, com seu belíssimo monumento ao Dois de Julho é vilipendiado e colocam tapumes para que não sofra nenhuma depredação. O seu entorno vira um sanitário a céu aberto, sem ser hipócrita não acho obsceno fazer suas necessidades na rua. Sejamos honestos mais de dois milhões de pessoas na festa bebendo o tempo todo e não tem banheiro químico suficiente ai não tem jeito! Não vamos esconder esta verdade.

O que acho obsceno é o IPHAN quem tem uma lei que não permite nem construções no entorno de monumentos históricos nem que se tampe a sua visibilidade. Acontece que tal lei parece que não atende ao Campo Grande, nem a Praça da Piedade, o Palácio da Aclamação, só para citar alguns. Um absurdo um dos monumentos históricos mais belos de Salvador o Dois de Julho, de uma imponência impressionante e de uma beleza neoclássica deixou de ser tombado? Lembro, o próprio IPHAN mandou não mais colocar palco em frente ao Farol da Barra, pois tirava a sua visibilidade e isto era contra a lei, agora no Campo Grande pode. Com a palavra o IPHAN

Deveriam transferir a festa para a Av. Paralela, desce trio sobe trio sem nenhum atrativo plástico visual, e não nem “desfile” é, pois presume-se do ponto de vista da estética uma procissão a ser admirada pela beleza e seu encantamento não é o acontece, os trios parece uma grande caixa de leite pintada. Fantasias não mais existem; O carnaval pressupõe fantasias e beleza, menos o de Salvador.

As ruas, becos e vielas, entre a Av. Sete e Carlos Gomes viram banheiro público. Os que moram no centro, por exemplo, no Largo Dois de Julho, é “invadido” por mercadores ambulantes que vem do interior, ai acampam embaixo de lonas de plástico, e claro sua necessidades, melhor nem falar, que o digam as ruas que compõem o bairro. Neste mesmo local no canteiro central preparam seus “churrascos de Gatos” e queijo coalho que é recortado em cima de papelão falo porque vejo da minha janela e sou testemunha. Cadê a vigilância sanitária.

A Praça da Piedade é tampada de tapume, por que será? Será que os organizadores pensam que os foliões vão arrebentar e estragar a Praça? Então não é festa, eles e todos os comerciantes também colocam tapume, parece que se preparam para uma guerra civil. A simples lógica o Centro Histórico não comporta mais o número de folião ai multidão de um lado, multidão do outro, vem outra multidão puxada pelas “estrelas” ai quando se encontra o “pau come”, pois brigam por espaço. Estudo feito pela polícia militar já apontou que a maioria da violência acontece justamente por esta falta de espaço.

Outros aspectos, só sobra para o “pipoca” 1 metro entre a corda e o passeio o resto é privatização pelo ricos e poderosos blocos e aqueles que não podem sair, só resta olhar prá cima, na maior “festa popular do mundo”. Popular para quem, já que o povo só tem 1 metro de rua para se divertir. Deveria ser repensado o carnaval e retomar sua beleza plástica e visual como fazem os blocos afros, estes, aliás, só podem sair depois da meia noite. Não entendo, o carnaval oficial é aberto domingo “às 13h, e porque o Ilê com sua beleza e sua dança e plasticidade não abre o carnaval. Preferem uma caixa de leite pintada e com uma “estrela” claro, afinal as televisões estão cobrindo. Depois de meia noite coitados do blocos afros só aprecem em pequenas cenas nas reportagens. Os moradores do centro à noite ficam sitiados não tem direito de ir e vir é quase impossível atravessar Rua Carlos Gomes e Av. Sete.

“Triste Bahia ó quão dessemelhante” (Gregório de Mattos).

Aldo Tripodi e crítico de arte
Mestre em Teoria e História da Arte EBA/UFBA
Professor de Arte-Educação da UNEB

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