
Arael Costa
Caro amigo Hugo
Pelo menos, a minha interveniência, acolhida por extrema distinção do amigo, me levou a uma grata surpresa, que é saber notícias de um velho amigo, com quem há muito não tinha contatos.
Que bom! Isto ficará ainda melhor se, por obra e graça da Internet e a interveniência de outros bons amigos, como você, encontrar o e-mail do Carlos, para retomar esse contato, que como muitos outros da época, sempre nos é muito valioso.
E, apenas para festejar o reencontro, registre-se "a estória do pênalti que o goleiro não podia pegar."
O fato ocorreu nos anos 50, do século passado, quando o campeonato brasileiro de futebol era disputado por seleções estaduais, que começavam a peleja em “chaves” regionais, como a do Nordeste, que incluía representações do Ceará a Bahia, disputando uma classificação de forma semelhante ao que vemos hoje na Copa do Mundo.
Lógico que com a presença de potências regionais como Bahia, Pernambuco e Ceará, aos demais estados restava um papel de coadjuvantes, nem sempre de luxo, pois que seus potenciais não se comparavam aos dos líderes incontestes da região.
Isto persistiu até que o futebol da Paraíba recebeu um mecenas, altamente dedicado, que foi José Américo Filho, filho do Governador José Américo e torcedor “doente” do Botafogo - do Rio de Janeiro e da Paraíba, que tomou a si a ingente tarefa de superar essa inferioridade, conclamando as principais lideranças empresariais do Estado a dar suporte à formação de uma seleção que superasse adversários tão fortes e tranquilos.
Dito e feito formou-se uma bela seleção - toda integrada de valores locais, em sua grande maioria, amadores ou semi amadores, como Noca e Kleber, dois de seus valores mais destacados.
Esta seleção rendeu o esperado, superou Pernambuco e Ceará e chegou às finais da chave, contra a Bahia.
Os jogos eram disputados em duas partidas, com alternância de campos, disputando-se uma “negra” se ocorresse empate.
Esta, então, a situação da Paraíba, que perdeu a primeira, disputada em Salvador, por um a zero, derrota esta que a colocava em desvantagem, mesmo sendo a segunda partida disputada no antigo campo do Esporte Clube Cabo Branco, em Jaguaribe, aqui.
Como não havia iluminação nos campos de futebol, à época, as partidas eram disputadas somente aos domingos e a seleção bahiana chegou a João Pessoa, logo nos meados da semana, o que a fez cair na primeira das armadilhas que o esperto Américo Filho e dirigentes como Genival Leal de Meneses, Cel. Passos Fialho e outros armaram e que se concretizou através de um jantar oferecido aos visitantes no Restaurante Elite, na praia de Tambaú, cujo prato principal provocou uma forte diarréia em quase todos os principais jogadores da Bahia, que, debilitados, não conseguiram conter o ímpeto dos nossos, no domingo, perdendo a partida, por também 1 x 0.
A sorte estava lançada! Haveria uma terceira partida ou “negra” a ser disputada no domingo seguinte, em campo que seria indicado por sorteio, realizado em Recife, na sede da Federação Pernambucana de Futebol, dirigida então por Rubens Moreira, representante regional da então CBD, velha raposa do futebol brasileiro e amigo do nosso dedicado dirigente.
Não deu outra...
Terceira partida no “Estádio” do Esporte Clube Cabo Branco.
A Bahia tomou, então, todas as cautelas possíveis e imagináveis, bloqueando o hotel Aurora, onde se hospedava e trazendo da “boa terra” tudo que garantisse a saúde dos jogadores. Do cozinheiro ao camarão seco e a água mineral Dias D’Avila, além de renomados e eficientes “pais de santo”, com forte escolta da Polícia Militar, passaram a integrar a comitiva submetida a uma concentração que faria inveja aos SS da Alemanha nazista.
Eis que os orixás dormiram no ponto e se concretizou outra armadilha: o juiz seria o Tenente Aluísio Lira, da briosa Polícia Militar da Paraíba.
Não sem os competentes protestos pela escolha marota do representante da CBD no Nordeste - Rubens Moreira, é claro, a seleção bahiana entrou em campo, para enfrentar principalmente uma torcida como o “estádio” cabobranquense nunca vira.
Fui, como o Repórter Esso, testemunha ocular da história, pois joguei na preliminar, disputada pelas seleções dos “Gordos” vs “Magros”, do Colégio Pio X.
Joguei nos magros...
O jogo foi uma disputa que parecia uma luta entre gladiadores no Coliseu de Roma.
Mas a Bahia conseguia segurar o empate de 0 x 0, que a favorecia, por ser a primeira vencedora.
Então, a torcida paraibana manifestou seu apoio, com o grito de guerra: “está na hora do pênalti”.
Com o que concordou o corretíssimo árbitro, que na primeira oportunidade atendeu ao clamor da turba, marcando a requerida penalidade e, após apitar, correndo para a marca do pênalti, travou o seguinte diálogo, com os jogadores:
“Vem Noca, bater...” Noca, que tinha um potente chute de esquerda, bateu o pênalti e o goleiro bahiano, para surpresa de todos, pegou a bola.
O Tenente Aluísio, do alto de sua autoridade, decretou: “bate de novo, Noca, que o goleiro se mexeu”.
Houve protesto, mas a ordem foi cumprida, com nova intervenção exitosa do goleiro.
Nova ordem: “bate de novo...”
Com nova convocação: “...vem, Galeguinho, a vez é tua.”
Protestos os mais veementes de toda seleção bahiana, com a revolta mais ferrenha do goleiro, que gritou para o Tenente Lira: “seo juiz, tenho certeza de não me mexi. Não é possível.”
Ao que o Tenente Lira retrucou: “você já viu goleiro pegar pênalti, desgraçado. Bate de novo, Galeguinho.”
A Paraíba ganhou o jogo por 1 x 0 e foi disputar as finais em São Paulo, onde não passou do primeiro jogo.
Ai, já são outras estórias...
Um comentário:
Maravilha! Já passou meu e-mail pra ele, cachorrão?
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