sábado, janeiro 28, 2012

O Enterro do Prefeito






Arael Costa




Caro amigo Hugo

Como lhe prometi, ai vai o episódio que teve como causa o prédio que então servia de sede à Prefeitura da Capital, à época ocupada por Apolônio Sales de Miranda.

O prédio pertencia ao Estado da Paraíba e o então Governador José Américo, ao criar a Universidade da Paraíba - hoje Universidade Federal da Paraíba, o doou, junto com outros imóveis como a Faculdade de Direito; o Hospital Arlinda Marques, que se tornou a sede da Faculdade de Medicina; o Centro de Saúde, junto da Igreja de N. Sra. de Lourdes, que se tornou a Faculdade de Odontologia e outros, que receberiam escolas e administração da novel universidade.

Como o prédio em questão era ocupado pela Prefeitura e para evitar maiores constrangimentos, a Escola de Engenharia se instalou precariamente em alguns prédios da Av. Duque de Caxias, enquanto se buscava uma nova sede para a PMJP (que veio a ser o prédio da antiga fábrica de cigarros Amorim, no final da Av. Cardoso Vieira, onde ficou até bem pouco tempo).

Infelizmente a precariedade das instalações da Escola, fez com que seus professores usassem suas amizades e prestígio para apressar a solução do problema, que se tornou possível na transição da federalização, quando os imóveis da então universidade estadual foram doados ao governo federal, para possibilitar a medida.

A concretização da medida, com a entrega do prédio à Escola não foi aceita pelo prefeito, que então baixou um decreto desapropriando-o, fato que se concretizado inviabilizaria o processo de federalização. Isto gerou muitos protestos, dos quais o dos estudantes, que resolveram fazer um enterro do prefeito, com o cortejo fúnebre saindo da sede da UEEP, que ocupava algumas salas em um edifício ao lado da sede do INSS, até o Palácio do Governo. Para engrossar o movimento, a estudantada esperava contar com a presença do povão, daí marcando o evento para as 11 horas da manhã, hora que você nem lembra era de muito movimento no Ponto de Cem Réis e adjacências e colocou um carro de som nas ruas do comércio chamando do povo a participar. Ocorre que o locutor designado - Fernando Pereira, tomou umas e outras e passou a falar o seguinte, com fundo musical de uma música erudita que se considerava fúnebre:

“Povo de João Pessoa. Os estudantes universitários da Paraíba cumprem o doloroso dever de comunicar a todos o falecimento do prefeito Apolônio Sales de Miranda, vítima de diarreia cerebral, e convidam a todos a participarem de seu féretro, que sairá da sede da UEEP às 11 horas, para o forno do lixo.”

Revoltado, o prefeito que tinha ares de desequilibrado, resolveu invadir a sede da UEEP à frente de guardas municipais bem armados, só não conseguindo graças à resistência de alguns estudantes, sob liderança de Euclides Dias de Sá, que também armado pôs-se à porta da UEEP barrando a passagem de Apolônio.

Nesse ínterim, acordado pelo barulho, o estudante de medicina Paulo Soares, que dormia em um quarto nos fundos da API, viu o quiproquó pelo muro da Associação e correu ao Palácio do Governo, para pedir socorro ao então Cel. Newton Leite - estudante de odontologia, que, então, se deslocou até o local, levando alguns soldados da guarda palaciana, desarmando o prefeito e os guardas municipais e levando, a pé, pela Av. Duque de Caxias, com o cortejo de estudantes a vaiá-lo, o prefeito Apolônio até o Palácio, para conversar com o Gov. Pedro Gondim, onde se deu o desfecho do incidente, com a revogação do decreto municipal.

Obs: Tudo a respeito da Paraíba me interessa. Obrigado Arael.

Um comentário:

Carlos Cordeiro disse...

O velho Arael, de quem me lembro muito bem e com quem tomei muita birita. Era sobrinho do Noca, e ambos usavam a calça meio caída no pé da barriga. A história é ótima e ele deve saber muitas outras. Como é membro da APL, podia muito bem juntá-las e publicar em forma de livro, às expensas dos imortais. Não? Carlos