quarta-feira, janeiro 25, 2012

Lágrimas da Coreia

Guy Sorman



Norte coreanos chorando a morte do ditador. O pranto de uma população controlada por um regime totalitário é sempre suspeito.

Quando Stalin morreu, em 1953, eu era criança e vi os russos chorando na Praça Vermelha; nossa única fonte de inf ormação era então as Notícias Pathé, projetadas no cinema antes do “grande” filme. Nem por um instante, minha família – que era de esquerda em um subúrbio comunista de Paris - duvidou da autencidade do sofrimento demonstrado.


Quando Mao Tse-Tung morreu, em 1976, me lembro do Porte St. Antoine, a leste de Paris, coberto de preto e adornado com um retrato gigante do líder falecido; na Praça da Paz Celestial, os chineses estavam chorando. Imaginemos Hitler morto em 1938: sem sombra de dúvida, teríamos visto os alemães chorando e também alguns franceses, como por Mao.

A histeria que foi vista na televisão - pessoas chorando, batendo a mão no peito, gritando Pai na passagem do cortejo de Kim Jong-Il em Pyongyang - não é, sem dúvida, um fato inédito. É recorrente às ditaduras, em todas as civilizações: o funeral de Nasser no Cairo em 1970 desencadeou reações silmilares.

Descobriu-se, contudo, que os jornalistas e comentaristas não estavam no lugar para explicar à televisão francesa que as lágrimas da Coreia do Norte deviam tudo à tradição confuciana. Pobre Confúncio, igualmente respeitado na Coreia do Sul, mas, do lado de Seul, o Confucionismo incita ao sofrimento, discreto, para com o pai de família, não para com o “chamado pai da nação”. Alguns observadores no local, entretanto, informaram que apenas uma linha de frente estava chorando em frente às câmeras.

Isso me lembra um conselho que Norodom Sihanouk me deu, no exílio no Camboja, depois de viver na Coreia do Norte e lá manter uma residência: “Não acredite”, disse-me ele, “em nada do que você vê em Pyonyang, os norte-coreanos são excelentes no palco.” Um bom conselho que eu tenho usado sobre o lugar. Kim Jong-Il foi também um cineasta, Norodom Sihanouk também e a Coreia do Norte é um grande produtor de desenhos animados.

O sofrimento nacional da Coreia do Norte é, sem dúvida, o palco, mas, como fazer com que a população aceite desempenhar esse papel? Certa vez alguém fez a mesma pergunta sobre a URSS: é cultural (o Homem Russo), é ideológico (Homo sovieticus) ou tudo efeito de terror sobre as massas? O terror, evidentemente! Como ficou claro para todos após o colapso do regime: os russos, repentinamente, não choravam mais pelos seus dirigentes, mortos e vivos. Um norte-coreano que chorou o Grande Líder morto não tem sofrimento, ele tem medo. Quanto aos franceses que sofreram pela morte de Stalin ou Mao, eu não tenho explicação racional para oferecer!

De Midia@Mais

Um comentário:

Anônimo disse...

Lágrimas de crocodilo. Melhor dizendo.