William da Rocinha entregando prêmio para presidente de ONG desarmamentista. Mais uma vez, militância esquerdista se envolve com criminosos
Tanto o jornal O Globo quanto o Extra, seu irmão mais popular, deram com estardalhaço a notícia que o líder comunitário William da Rocinha havia sido flagrado, em um vídeo, vendendo um fuzil AK-47 para o traficante Nem, recentemente preso pela polícia.
O Extra foi fundo: com o título “Impostor” acima da fotografia de William, ele mostra quatro das “qualidades” ostentadas no currículo de William:
1 – Fez campanha pelo desarmamento
2 – Dava palestra sobre ética
3 – Defendia paz e direitos humanos
4 – Recebia dinheiro do traficante Nem.
Que coisa estranha, não é mesmo? O camarada se diz contra armas, pela ética e é flagrado entregando um fuzil, contrabandeado ou roubado, pois não se vende este tipo de arma para civis, e sendo pago por um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro. Este mesmo indivíduo era (foi exonerado) funcionário do gabinete da vereadora Andrea Gouvêa (PSDB) – outra convicta antiarmas – na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o salário de R$4.647,54. Mas o senhor William de Oliveira era uma pessoa respeitada em certos meios, em especial no da tchurma do desarmamento. Circula na internet uma foto de William recebendo de Denis Mizne, presidente da ONG Sou da Paz, em 2004, um prêmio por sua participação na campanha do desarmamento. Atrás dele, servindo de pano de fundo, em letras garrafais, a seguinte frase: “Acabe com sua arma antes que ela acabe com você”. Será que esse “acabe com sua arma” refere-se também às armas pesadas, como a que o senhor William foi flagrado vendendo aos traficantes?
Só se surpreendeu com esta história quem quis ou quem tinha interesse em usar a expertise de William da Rocinha, ou William, o Amigo das Comunidades, como prefere ser chamado agora. Eu sugeriria um novo nome: William dos Fuzis. E a história remonta ao ano de 2005, quando William foi pego em uma escuta telefônica em que, em nome do chefe do tráfico da Rocinha, ele instruía bandidos a deixar dois fuzis roubados do Exército em uma favela dominada por outra facção, com o intuito de incriminar os adversários. Com a risível explicação de que, ao mandar seus amigos se livrarem dos dois fuzis, estava tentando evitar uma guerra entre facções rivais, William dos Fuzis foi absolvido e libertado depois de nove meses “de férias” na cadeia. Por incrível, que pareça William foi absolvido. O argumento em sua defesa: William estava jogando armas fora (lembrem-se, ele é um dos entusiastas do desarmamento) para evitar uma luta mortal entre facções rivais.
O que as Organizações Globo não contam agora é que demonstraram a maior simpatia pelo senhor William no período que antecedeu o referendo de outubro de 2005. Querem provas? Numa entrevista à jornalista Taís Mendes, publicada em O Globo de 05/03/05, pág. 21, o senhor Rubem César Fernandes, diretor do Movimento Viva Rio, fazia uma apaixonada defesa de William de Oliveira, presidente de uma organização de moradores da favela da Rocinha e acusado de ligações com o tráfico. Para defender seu protegé, o senhor Fernandes cometeu verdadeiros absurdos e afrontas ao bom senso ao declarar que o dirigente comunitário, que em vez de chamar as autoridades joga no mato – ou manda jogar – fuzis que haviam sido furtados das Forças Armadas,é coerente com o William que conheci. E que: Mentira não chega a ser crime.
O amigo leitor acha pouco? Então aqui vai mais uma:
Dando seguimento ao caso, O Globo escalou um jornalista respeitado: Zuenir Ventura, que na quarta-feira, 09/03/05, publicou em sua coluna semanal de 1/3 de página um artigo intituladoVersão Polêmica, onde procurou livrar a cara do dirigente da comunidade da Rocinha. Interessante que um jornalista tarimbado como Zuenir cometa um erro básico e mortal para quem pretende bem informar seus leitores: o de dar voz somente a um lado interessado, “por acaso”, o do senhor William de Oliveira. Zuenir baseia seu artigo em uma entrevista que o dirigente comunitário deu a Xico Vargas, do site Nominimo. Entretanto, nada impediria, em nome de um jornalismo isento, que Zuenir telefonasse para o secretário de Justiça e ouvisse sua versão dos fatos, uma vez que as acusações eram graves e incluíam o próprio titular daquela pasta.
Aproveitando a oportunidade única que lhe era oferecida, o dirigente comunitário posou de vítima do sistema e de uma armação da Polícia. Segundo ele, o doutor Marcelo Itagiba, secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, não queria que o Ministro Edson Vidigal, do STJ, que tinha uma visita planejada à favela da Rocinha, se encontrasse ”com um dirigente de nada, um preto favelado”. (Atenção: isto é transcrição literal do que foi dito na matéria escrita por Zuenir).William reiterou que tudo o que queriam era arruinar sua ilibada reputação. Zuenir encerra a matéria com as seguintes palavras: “Há informações que William diz só fornecer à Justiça. A ela caberá decidir se houve de fato armação política.”
A matéria de Zuenir teve pronta resposta do então Secretário de Segurança Pública, publicada na seção de cartas de O Globo de 10/03/05. Marcelo Itagiba negou categoricamente a frase racista a ele atribuída, e mostrou fatos e ações da PM e da Polícia Civil na verdadeira Zona de Guerra que era a favela da Rocinha.
Por uma dessas ironias da vida, no domingo seguinte, a revista Veja de 16/03/05, trouxe uma extensa reportagem intitulada O Fio da Navalha, com transcrições de conversas do líder comunitário em que fica exposto todo o envolvimento de William de Oliveira com o crime organizado. Ao contrário das unilaterais afirmações de Rubem César Fernandes e Zuenir Ventura, a matéria de mais de três páginas da Veja trouxe testemunhos de pessoas com vasto conhecimento dos problemas das favelas: a antropóloga Alba Zaluar, que há 30 anos estuda a violência nas favelas e o domínio do tráfico, e o então deputado Carlos Minc, que comprovavam as espúrias ligações entre o tráfico e um substancial número de lideranças comunitárias em favelas.
O capítulo seguinte da emocionante novela aconteceu no dia 17/03/05, quando o Secretário de Segurança Pública e o senhor Rubem César Fernandes foram solicitados pelo Globo a expressar suas opiniões sobre O Caso Rocinha. Não faz sentido fazer aqui uma análise profunda do artigo do doutor Itagiba, uma vez que este se concentra em demonstrar, com números, a ação da polícia em comunidades como a Rocinha e outras.
O senhor Rubem César Fernandes, em sua matéria, foi bem mais moderado do que quando faz declarações aos jornais. Ele abriu o artigo, intitulado Insurreição pela cidadania, relatando que, em 2004, o Movimento Viva Rio desenvolveu 1.134 projetos em favelas e periferias pobres. Segue dizendo que estas ações foram desenvolvidas com 1.380 instituições parceiras. Ele só se “esqueceu” de dizer, ou de contestar as afirmações contidas em Veja, que daquele total apenas 73 (5,3%) ações foram em parceria com entidades de moradores.
Como “ninguém pode enganar todos, todo o tempo”, a verdade acabou por prevalecer: a imagem criada por William Oliveira de um bom moço, protetor dos favelados, ruiu por terra em 3/12/2011. Em 5/12/2011, o Ministério Público denunciou William Oliveira e comparsas à Justiça pelos crimes de associação ao tráfico e compra e venda ilegal de arma de uso restrito. Que fique a lição.
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