
Sônia van Dijck
BRASIL: um país racista
Entra ano a sai ano e o Brasil não muda: cultiva a corrupção, é assolado pela violência urbana, tem péssimas estradas e um sistema de saúde pública de dar inveja à sala de entrada do inferno; além de um sistema de educação pública pra lá de miserável, nos últimos anos, sustenta um ministério composto por grandes estrelas da mediocridade (considerando que alguns notáveis da corrupção foram fustigados pela mídia e caíram podres); mas, acima de tudo e antes mais nada e deixando de lado qualquer bobagem de consideração histórica e pra começo desse papo sem futuro, o Brasil é um país racista.
Um caso aqui, outro ali e outro de que já se falou… e o Brasil não se emenda e continua um país racista. O racismo aqui é tão oficial que tem cotas de vagas para negros em universidades e em concursos públicos. O racismo aqui é tão oficial que tem sempre cota para negros a serem admitidos como criminosos, ameaçadores, marginais – na categoria da negatividade, o Brasil concede 100% de cotas para negros.
Aqui, ali e acolá, o Brasil associa a cor da pele ao mal, ao negativo, ao crime. Por isso mesmo, e sendo a maioria de seus políticos corruptos de pele branca ou desbotada e até negros embranquecidos pelo colarinho branco, o Brasil nunca pensa que a cor da pele não diz nada do caráter, da moralidade, da vergonha na cara.
Assim, um garoto de pele negra pode ser facilmente confundido com um marginal, em qualquer restaurante metido à crême de la crême no território brasileiro, quando não passa de boteco de quinta categoria metido à besta.
Não é um caso isolado e acontecido por acaso. Esse sujeito dono do restaurante Nonno Paolo (Paraíso – São Paulo capital) só repercutiu, estupidamente, a mentalidade racista que vigora no Brasil. Esse racista desinformado não lê o noticiário ou faz de conta que não sabe que os grandes bandidos da República têm aparência branca; que muitos traficantes têm aparência branca. E, aí, esse dono de boteco metido à besta, vomita todo seu nojento preconceito contra o garoto negro filho de um casal espanhol, turistando em um país que tem um estúpido dono de restaurante, capaz de maltratar uma criança negra.
Diante da legislação em vigor no Brasil, o racista proprietário do Nonno Paolo (Paraíso – São Paulo capital) cometeu crime de racismo – com o agravante de ter sido contra uma criança incapaz de compreender a língua portuguesa usada por seu carrasco.
O crime não é uma questão de cor da pele. Tanto isso é verdade que o imbecil dono do restaurante Nonno Paolo (Paraíso – São Paulo capital) cometeu crime de racismo, apesar de sua aparência branca (suponho que tenha aparência branca, considerando a dimensão de sua crueldade diante de uma criança negra).
Apesar das sugestões de aconchego, carinho, segurança, proteção, contidas no nome do restaurante – NONNO… – um menino negro foi humilhado por causa da mentalidade racista de um sujeito cruel.
Espero que os pais do garoto consigam que as autoridades brasileiras apurem o crime cometido contra seu pequeno e que o criminoso receba a punição prevista na Lei.
Mas, como não acredito muito na Justiça brasileira (ultimamente notabilizada pela armação para fazer impunes os mensaleiros de aparência branca e de colarinho branco), peço que repassem amplamente este conjunto. Os negros brasileiros não estão livres de atitudes racistas no cotidiano – não dá para ficar indiferente, não dá para ficar no comodismo da aparência branca e isso não me interessa. Esse garoto foi vítima do racismo da sociedade brasileira. A única forma de acabar com esse crime é denunciar amplamente e exigir que se cumpra a Lei.
De qualquer modo, não pretendo frequentar o restaurante Nonno Paolo (Paraíso – São Paulo capital) – sou negra e odeio racistas, uma vez que pago minhas contas e os impostos que o governo me cobra (desde a caixa de fósforos). Tenho certeza de que meus amigos escolherão outros restaurantes e que respeitam direitos verdadeiramente humanos – afinal, Sampa tem milhares de restaurantes e cantinas para quem não cultiva o racismo.
Um comentário:
Beleza de comentário! Parabens a Sonia van Dijck. Concordo com TUDO dito por ela. No Brasil há racistas, sim. E não são poucos!!!
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