sexta-feira, janeiro 06, 2012

Mutilações no código florestal e nossas velhas catástrofes





Breno Grisi



Amigo Hugo:
Passadas as festividades de fim de ano (velho)-começo de ano (novo), adentramos este último já enfrentando nossas bem conhecidas tragédias ambientais. O "ecologiaemfoco" destaca os indicadores de tragédias, colaborando para esclarecer aos interessados quão desastrosa poderá ser essa mutilação anunciada no novo código florestal brasileiro, prestes a ser aprovado. Abraço. Breno

ECOLOGIA DA RESTAURAÇÃO. Se há algo que realmente faça um ecólogo (ou uma ecóloga) sonhar, pelo menos aqui no Brasil, é ele (ou ela) imaginar que está participando de um projeto efetivo de restauração de um ambiente degradado. Principalmente um que, estando próximo a centro urbano, tenha sido continuamente castigado pelos maus tratos dos seres humanos. E quando todos pensarem que “está tudo perdido”, no final (do sonho) esse ambiente restaurado volte a ter estrutura e funções idênticas às anteriores às intervenções antrópicas! Afinal, muitos ambientes resistentes (a modificações) são também resilientes (ou seja, têm elasticidade, ou potencial para retornarem ao estado natural).


Existe uma sociedade internacional da restauração ecológica ("SER ─ Society for Ecological Restoration International"), sediada nos Estados Unidos, cujo site é: http://www.ser.org/. Acesse na página inicial desse site, numa coluna na esquerda, o “Restoration Project Showcase” e veja várias fotos de ambientes “antes” e “depois” de restaurados. Algumas delas estão aqui reproduzidas.

"ECOLOGIA PREVENTIVA". E isso existe?! A importância de se restaurar ambientes degradados não se resume ao aspecto puramente paisagístico. Muitos brasileiros, principalmente os residentes em Santa Catarina e Rio de Janeiro, que escaparam das tragédias das enchentes e desmoronamentos (em 2008), assim como os atuais sobreviventes da tragédia repetida (agora, de dezembro/2011 para janeiro/2012), com maior força em Minas Gerais e novamente no Rio de Janeiro, assim como os sobreviventes daquelas enchentes acontecidas em Pernambuco e Alagoas (em 2010)... talvez suspeitem (mas nem todos) de que na maioria das vezes, nossas próprias ações de desmatamento da vegetação ribeirinha, de encostas e topos de morros causam assoreamento dos rios, que facilmente transbordam com poucas horas de chuvas contínuas, deixando para trás mortes e grandes perdas materiais.

Não seria difícil concluir que há muito tempo a maioria desses rios transbordantes deveria ter sido desassoreada e a vegetação de suas margens restauradas. Esta é a "ecologia preventiva". Observem os leitores que em duas das fotos acima, os ambientes desnudos (quase sem vegetação) que foram restaurados, situados próximos a corpos de água, passaram de condutores de material erosivo para retentores de solo e matéria orgânica diversa. Muitos desses locais constituem-se em planícies de inundação, arrefecendo o impacto das enchentes. Tais locais devem permanecer com vegetação. Observem particularmente a diferença do ambiente desnudo do “Wetland Research Park, Ohio State University” e após restauração (as duas fotos da esquerda). Vejam também as duas fotos da direita.
E observem o desenho ilustrativo (advertência: sou péssimo desenhista) de duas situações numa encosta de um morro. Na situação natural (parte superior da ilustração), predomina no declive da encosta uma vegetação arbustiva; e na parte plana (no final do declive) predominam árvores. A vegetação arbustiva no declive exerce pouco peso no solo que esteja recebendo muita água das chuvas; e nos momentos de insolação, transpiram e aliviam o peso do solo, que é pouco profundo e que quando encharcado tende a deslizar sobre a rocha que está logo abaixo. No entanto, a vegetação arbórea na parte plana, no final do declive da encosta, exercerá “força de contenção”, opondo-se a um possível deslizamento da encosta. Probabilidade esta que desaparece quando o ser humano efetua um corte na parte inferior do declive (como se vê na ilustração inferior) ao construir uma rodovia ou moradias.

APRENDENDO COM A NATUREZA. E concluindo. A Natureza ensina. É só observar! E os adeptos do novo código florestal, favoráveis aos desmatamentos em margens de rios, encostas e topos de morros, só lamentam quando os rios transbordam, as encostas desmoronam... e culpam (alguns inocentemente, mas outros “cinicamente”) a agressividade da Natureza!!!

NR - O "Ecologia em foco" está listado nos meus "links recomendados" em sexto lugar, de cima para baixo à direita de que desce. HC

Um comentário:

Anônimo disse...

Somente a mudança de comportamento e participação integral de todos, será possível transformar a triste realidade que vivenciamos. Abraço. Márcia