terça-feira, janeiro 17, 2012

Antes que se esqueça tudo... no carnaval...





Breno Grisi




Nem sei se deveria continuar comentando sobre tragédias, neste pre-clima carnavalesco, em que o brasileiro pelo menos procura esquecer suas mazelas. Eu, particularmente, não consigo me "desligar", talvez porque não consigo aceitar o carnaval, nem tampouco aceitar calado uma de nossas maiores tragédias diárias: o trânsito. E é bom não esquecer, apesar do carnaval, que mais mortes acontecerão nesse período. Veja o que colhi numa de nossas revistas mensais:

Porque tantas mortes no trânsito brasileiro? Vejam quanta lucidez nesta análise do antropólogo Roberto DaMatta (revista Planeta nov/2011):

1) "Não temos educação, do ponto de vista da igualdade. Obedecer no Brasil significa subordinação e inferioridade. Quem é superior não obedece".

2) "A origem do comportamento individualista e violento do motorista deriva da formação cultural do Brasil, país com origem escravista que se tornou republicano privilegiando a aristocracia. O automóvel é visto e usado como instrumento de poder, dominação e divisão social".

3) "O brasileiro se considera aristocrático no trânsito quando é essencialmente transgressor: não obedece a lei, dirige embriagado, desrespeita os pedestres, tem esquemas próprios para transferir suas multas e, quando parado por um policial, tenta suborná-lo".

4) "Para o brasileiro, as incivilidades praticadas no trânsito são cometidas sempre pelos outros, nunca por ele. Daí a dificuldade em se criar a cultura da direção defensiva".

5) "Afinal, quem tem de se preocupar com prevenção é sempre o outro. É ele que tem de abrir caminho para o dono da rua".

6) "Fechar, xingar e ser agressivo no trânsito são apenas expressões do conceito do 'sabe com quem está falando'? e do 'jeitinho brasileiro', práticas comuns de um país que, apesar de ser República, nunca perdeu os privilégios aristrocráticos".

7) "A suposta aristocracia motorizada considera os transeuntes como obstáculos que atrapalham o trânsito".

8) "Os pedestres, por sua vez, também desrespeitam as leis e atravessam a rua com o sinal fechado ou fora das faixas (quando existem, acrescento eu; neste ponto falham as autoridades). Ambos desrespeitam as regras do sistema e criam, cada um à sua maneira, sua relação com a rua. O brasileiro não aprende em casa ou na escola a ver o outro como alguém que tem os mesmos direitos de usufruir o espaço que é de todos. Para nós é o contrário: o espaço de todos pertence a quem ocupá-lo primeiro, com mais agressividade". (Observação minha: aqui em João Pessoa vem funcionando razoavelmente bem a prioridade dos pedestres nas faixas apropriadas, quando existem; mas é impressionante a altivez e vagareza com que algumas pessoas atravessam a rua),

E concluo eu: SE NOSSAS ESCOLAS FUNCIONASSEM (inclusive as auto-escolas)... ou seja, FORMASSEM CIDADÃOS... poderíamos começar a pensar em civilizar os adeptos do "jeitinho brasileiro". E reduzir as mortes no trânsito. Sem garantias, no entanto, durante o período do carnaval.

Desejo a todos os adeptos do carnaval, um período de paz e respeito à vida.

Nenhum comentário: