sábado, dezembro 03, 2011

O vento como herança





José Virgolino de Alencar



É na Bíblia que, sem idolatria revestida de fanatismo alienado, porém aceitando-a como o livro da sabedoria e que nos ensina virtuosíssimas lições sobre a vida, comportamento humano, vivência espiritual e, sobretudo, conduta moral, encontramos os melhores exemplos que nos fazem refletir e tê-los em elevada consideração.

No Livro dos Provérbios, destacamos o aforismo que deverá ser observado através dos séculos, enquanto a humanidade viver sobre a Terra e desejar a paz e a harmonia entre os homens. No citado provérbio, lemos: “Aquele que derrubar a sua casa, herdará o vento”.(Há outras traduções para o texto bíblico, mas prefiro ficar com esta versão).

No sentido físico, se o homem põe sua casa abaixo, sobram os escombros, o espaço livre por onde passará o vento, nada restando para o insensato que derrubou sua morada. Levando para o campo da simbologia, em que não há a derrubada física, mas a destruição moral de sua casa, o homem também somente herdará ventos da insensatez, com a desestruturação da paz de sua família, da organização do lar, onde reinará a desarmonia, a desagregação, restando o sopro dos ventos da discórdia, ventos malfazejos que carregarão o que sobra de amor no seio da família destroçada.

No segmento da política, no contexto democrático, em que o governante é o chefe da casa, que administra em nome da família formada pela comunidade que ali reside, cabe a ele manter a harmonia, a paz, os valores éticos e morais, devendo saber exercer a liderança desse pátrio-poder político, oferecendo educação, mantendo a saúde e a segurança da sociedade sob seu comando.

Contudo, quando o chefe da sagrada área territorial/residencial não apresenta postura comportamental adequada à liderança, desviando-se de todos os princípios que norteiam uma boa condução do grande lar que é um ente estatal, quando ele não apresenta a exigida qualidade da serenidade, da sensatez, quando a educação se apóia em métodos dos donos de casas medievais, querendo mais mostrar força bruta, arbítrio nas decisões, passando um verdadeiro trator nos costumes, nas normas consuetudinárias e no acordo implícito num comando deferido pelos comandados e não baseado em poderes advindos de deuses mitológicos fantasiados em sua mente, pois bem, por tudo isso, o chefe do lar tende a derrubar sua casa e deixar como herança o vento.

Em nossa província Tabajara, estamos assistindo a um triste exemplo de comando familiar-político sem a devida atenção para o conselho do aforismo bíblico, onde o mandatário rasgou a cartilha que delimitava seus poderes e ações, bitolados, por conta de normas de civilização e de democracia, entre as linhas de princípios, conceituações, competências e atribuições inscritas numa carta aprovada pela maioria dos que compõem a própria razão de ser da entidade estatal, ou seja, sua população, ameaçando ostensivamente derrubar a casa de seu povo, sem notar que no final se herdará o vento.

A lição bíblica nos abre a vertente da lucidez, porque há, na família paraibana, gente bem-formada, que sabe traduzir o verdadeiro sentido das palavras do livro sagrado, adotando, ditada pela consciência e pela certeza de que o direito da maioria deve prevalecer, a prudente barragem à destruição da casa.

A sociedade mostrará que o pátrio-poder pode ser contestado, interditado, objetivando manter de pé o domicílio que é de todos, não permitindo que o capricho, a ação claramente tresloucada, o personalismo exacerbado por um desequilíbrio emocional, tanto quanto por uma estranha e espantosa egolatria, levem ao chão o lar onde, até agora, prevalecia a paz e a tranqüilidade.

Precisamos, agindo na linha do aforismo bíblico, evitar que reste para nós o que prevê o conselho da sapiência que vem dos tempos imemoriais da formação cristã:

2 comentários:

Carlos Cordeiro disse...

"Este blog, embora tucanófilo e apaixonado pela Mulatinha, continuará legível enquanto contar como colaboradores inteligentes, cultos e independentes como o José Virgolino". Carlos

Hugo Caldas disse...

Calico do meu coração. Você sabe que não é nada disso. Mas em verdade vos digo: este Blog é tão democrático que chega a publicar o seu despautério. Devia era comentar sobre a Pitombeira da casa do Mago Gilvan, que nem fez o Almir. Hugão