sexta-feira, dezembro 16, 2011

E NÃO COMUNICOU O NOVO ENDEREÇO


Percival Puggina

Desconfio até do nome. Comissão da Verdade? Que coisa mais incompatível com um governo recheado de mentirosos públicos. Desde quando, senhores, a verdade se tornou instrumento da política? Talvez não exista nessa atividade algo tão seviciado e tão fracionado em metades e quartas partes. Eleitoralmente, a mentira funciona muito melhor do que a verdade.

A ideia de formar uma comissão de sete pessoas (essa conta só pode ser ato falho) designadas por uma oitava diretamente interessada nos rumos do trabalho contraria elementares princípios metodológicos. Ademais, se para escolher seus ministros, supostamente um colegiado sobre o qual incidem exigências superiores, a presidente andou na escuridão, quem lhe entregará uma boa lanterna para designar essa versão tupiniquim dos sete sábios da Grécia? Pois é. Mas o Congresso Nacional julgou tudo muito bem pensado e aprovou sem pestanejar, com os votos do governo e muitos - valha-nos Deus! - da oposição. De fato, a racionalidade foi embora e não comunicou o novo endereço.

Não estou dizendo que seja desnecessário ou inconveniente esclarecer a situação de mortos e desaparecidos. Há famílias interessadas em tais respostas e é justo buscá-las. Mas essa questão, profundamente humana, é apenas marginal nas motivações. O que queriam mesmo, desde que se tornaram hegemônicos, era acabar com a anistia e levar a julgamento seus inimigos de então. Como o STF não deixou, criaram o próprio tribunal e, cautelosamente, reservaram a seus crimes solene indulgência plenária: "Nós fora! Lutávamos pela democracia!". Haverá quem acredite? Não só não eram democratas como escarneciam de quem fosse. Por outro lado, as lições de pensadores como Aristóteles, Tomás de Aquino e Francisco de Vitória sobre o direito de resistência à tirania em nada os socorrem. Faltava-lhes condição essencial de legitimidade, representada pela luta por uma causa nobre. A causa deles, financiados e treinados pelo comunismo internacional, não tinha nobreza alguma. Mundo afora, produzia vítimas aos milhões. Era radicalmente totalitária. O povo, por isso, jamais os apoiou. É preciso ter perdido o senso de realidade para afirmar diferente. Moviam-se pelo mesmo ódio que inspirava Che Guevara, guerrilheiro modelo, quando discorria sobre o "ódio como fator de luta" para transformar o militante em "fria máquina de matar". O mesmo que ensinava Marighella, o venerado camarada, em seu manualzinho do guerrilheiro urbano. A anistia, com seus efeitos jurídicos e políticos, seguiu um princípio ético e político superior - o princípio do perdão. E lhes franqueou o poder. Mas quem assume o ódio como categoria do seu ser político não consegue operar sem ele.

A comissão é filha desse sentimento. Longe de mim, que fique claro, proteger torturadores de direita ou guerrilheiros e terroristas de esquerda. Suas maldades os credenciam a cantos bem quentes do inferno. O objetivo dessa comissão, já bem verbalizado, é um acerto unilateral de contas. Não reconheceriam a verdade nem se trombassem com ela, nua e crua, numa tarde ensolarada. Mas a definirão em reunião caseira, tomando chimarrão. Estabelecerão um tribunal de exceção. Arbitrariamente e à margem do ordenamento jurídico, submeterão pessoas a linchamento moral (pena de exposição pública, sem julgamento formal nem direito de defesa). O que fará o Poder Judiciário ante uma zorra dessas?

Para concluir. Merece pouco crédito o apreço por direitos humanos de quem, periodicamente, vai a Cuba soluçar nostalgias no cangote de Fidel Castro. Aliás, se em vez de brasileiros fossem cubanos e criassem, por lá, uma comissão da verdade, iriam investigar sabem o quê? Os crimes de Fulgêncio Batista...

ZERO HORA, 04 de dezembro de 2011

2 comentários:

Unknown disse...

Quando nem as mentiras e nem as verdades são nobres.


Uma sociedade que escolheu “se organizar” através de um Estado com regime democrático precisa aprender a conviver e respeitar os acordos que faz... ...o que se deveria trazer a discussão, como valor contributivo à história, não é a “Lei da Anistia”, que o Neolulopetismo, sub-repticiamente, tenta invalidar, mas os verdadeiros fatos e motivos e os “supostos erros e acertos” que “as partes” não tiveram ou tiveram, para que não se repitam no futuro!...

Transcorrerão dezenas, talvez uma ou mais centena de anos para que sejam entendidas as verdadeiras causas e consequências da "Ditadura Militar", mesmo assim se suas verdades e mentiras forem inseridas no real contexto em que ocorreram o que só acontecerá sem o lateralismo das paixões e quando amainarem os sentimentos revanchistas: de dor ou jubilo pela “derrota” ou “vitória”, que não houveram, pois só houve perda...

Mas mesmo com o passar desse inexorável tempo é possível que nunca venhamos saber o verdadeiro lado das verdades e das mentiras que hoje se confundem na covardia do anonimato, mas por quê? Porque, nesse caso, nem as supostas verdades e mentiras são nobres; ambas podem ter causado júbilo e dor, mais, nesse momento, é “rescaldo” de uma batalha entre irmãos, pois sempre se soube que não haveria vencedor o que se confirma agora...

Unknown disse...

Minha mente doentia!

Às vezes chego pensar que possuo uma mente doentia, quando tenho pensamentos pecaminosos, como por exemplo: imaginar que os capangas chicaneiros dos poderosos políticos de plantão tenham alguma culpa por estarem com suas caras de pau estampadas nos noticiários sobre crimes políticos, ou do fisco, ou vice-versa ou todos ao mesmo tempo. Mas fico desconfiado porque, invariavelmente, nunca estão no papel de um “Eliot Ness” ...