
José Virgolino de Alencar
Atente, leitor, para o seguinte poema de Bertolt Brecht(Palavras a um General):
“General, teu tanque é um carro forte. / Ele derruba uma floresta / E esmaga cem homens. / Tem, porém, um defeito: / Precisa de um motorista. / General, teu bombardeiro é poderoso. / Voa mais depressa que a tempestade, / Tem, porém, um defeito: / Precisa de um mecânico. / General, o homem é muito útil. / Sabe voar, sabe matar. / Tem, porém, um defeito: / Ele sabe pensar.”
Ressalvados os generais heróis cabos de guerra, que defenderam e ajudaram a formar nações, o poema brechtiano calha para aqueles generais que exercem o jericomando, ou seja, o comando com ideias de jerico. Para estes, os tanques e bombardeiros são peças pouco úteis, porque encontram no seu caminho os homens que têm um grave defeito: sabem pensar.
E por saberem pensar, terem consciência de nacionalidade e cidadania, jamais irão pilotar tanques e bombardeiros a serviços de jericomandantes, ao contrário, vão fazer frente ao poderio bélico com uma arma também letal, que não mata fisicamente, mas derruba a prepotência e leva ao chão a moral dos exércitos do despotismo.
Essa arma é a “palavra”, que usada por quem sabe pensar abala estruturas autoritárias, imperiais, principalmente, repito, de generais jericomandantes. A palavra, quando bem disparada, montada na verdade, tocando o alvo frágil da alma de cabotinos de guerra, funciona como bala, podendo ser chamada de “balavra”.
Segmento importante da comunidade de nossa pequena Paraíba, composto de homens que sabem pensar, pensar alicerçado no conhecimento adquirido nas cátedras, profissionalizados em formações extensivas, pós-graduação, doutorados e debruçamento sobre bibliografias e jurisprudências de seu campo de atuação, está dando uma prova eloquente de que sabem reagir à prepotência, simplesmente porque brechtianamente sabem pensar.
Para isso, não estão acatando diretrizes personalistas, à margem das normas institucionais, recusando-se ao servilismo a quem quer impor formas dissonantes da estrutura constitucional do país, tentando construir modelos que não estão na cartilha que dita as regras para a nação e seus cidadãos.
A consequência disso tudo, do pretenso e abusivo despotismo, de um lado, e de outro, a irresignação cidadã dos que pensam e veem longe, é a ameaça de destruição de um setor vital, básico, essencial para a sobrevivência do Estado e do atendimento às demandas da sociedade, como vem a ser a área da administração fiscal-tributária pública, de onde sai a vitamina que anaboliza e mantém firme o organismo estatal.
Esse fato não é nenhum alarme falso, nem alardeamento insensato, tão pouco retórica vazia, mas visão clara do contexto que está se armando, em que a estrutura fiscal-tributária, após uma greve de 40 dias e já há 18 dias encerrada, com a volta ao trabalho do pessoal, encontra-se em constrangedora situação.
Tem três Secretários designados e na realidade não tem nenhum, porque não está definido quem realmente comanda; tem em torno de 140 cargos em comissão e nenhum preenchido; tem quase 1.000 fiscais em atividade, nos seus postos de trabalho, porém com ação delimitada por falta de comando, de plano de fiscalização, de distribuição de tarefas, enfim, de diretrizes para o efetivo funcionamento do setor.
O governo não sabe como fazer andar o sistema, vive desopilando ameaças, uma das quais a substituição da mão de obra. Se o fizer, funcionará como faca sem gume, porque pessoal qualificado, capacitado, profissionalizado, é coisa que demanda tempo e muitos recursos e recursos não poderão sair de uma mina que o próprio poder mostra intenção de soterrar.
Todo esse cenário, que nem tão cedo será rearrumado, foi desenhado, simplesmente porque no comando do Estado ninguém teve o toque de visão coincidente com o pensamento de Brecht, em suas palavras ao general: os homens do fisco paraibano têm um defeito – sabem pensar.
E como sabem pensar, não se submetem a um jericomando qualquer.
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