domingo, outubro 02, 2011

Vale a Pena Ver de Novo









A propósito do imbróglio CNJ, quando a ministra do Superior Tribunal de Justiça e Corregedora Nacional de Justiça, Eliana Calmon, constatou que a "magistratura está com problemas de infiltração de bandidos escondidos atrás da toga" e o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ, Ministro Cezar Peluso, bate o pezinho no chão e exige retratação - achei por bem, postar mais um "Vale a Pena Ver de Novo". O texto de hoje foi publicado no dia 28 de janeiro de 2007, também um domingo. Nele se verifica que a safardanagem vem de longe e se reporta a escândalos no âmbito do Estado de Pernambuco mas nem por isso menos importante. HC


RECUERDO 17 - É TUDO VERDADE

Hugo Caldas

Estas são algumas manchetes dos jornais de Pernambuco.

"Dezesseis juízes sob investigação em Pernambuco."
"Magistrados estariam envolvidos em irregularidades desde falta disciplinar a fraude financeira." "Quatro acusados estão foragidos, três no Pará e um em Pernambuco."
"Juiz preso por golpe milionário em Salgueiro."
"Mais oito pessoas presas na RMR do Recife ao tentar fraudar títulos avaliados em R$ 89 milhões. Também são acusados de participar do crime advogados e uma ex-juiza."
"OAB do Estado suspende registro de dois profissionais."

Realmente não entendo o que se passa "neste país". Ou melhor, entendo e muito bem. Já lá se vai o tempo em que se dizia "decisão judicial não se discute". Cumpre-se". Tal era o respeito que tínhamos pelos juízes e demais autoridades. Infelizmente, hoje não é mais assim. Instalou-se o caos. A Lei do Gerson corre solta. A impunidade se tornou regra. O exemplo vem de cima.

Como disse certa vez Ruy Barbosa, a pessoa parece sentir vergonha de ser honesto. Honestidade se tornou sinônimo de babaquice. Mas, francamente, como aceitar uma decisão judicial expedida por um cafajeste desses?

Isso tudo vem à propósito de uma história muito edificante que passarei a lhes contar. Tudo é absolutamente verdade como no filme do Orson Welles. Claro e evidente que o nome do personagem aqui citado é fictício. Não sou maluco nem nada. O caso aconteceu tal como abaixo relatado.

Há uns vinte e tantos anos, envolvido na minha rotina de trabalho, qual seja, aulas particulares de inglês ao digamos, Dr. Rogério, advogado bastante conceituado no meio, quando um belo dia ele, apesar de se sentir satisfeito com o progresso conseguido, já havia viajado por duas vezes à Inglaterra e assegurava-me ter se saído muito bem. Argumentou que gostaria de interromper as nossas aulas, pois havia se inscrito para o concurso de juiz. Precisava então, dedicar todo o tempo possível na melhor preparação para o tal concurso. Concordamos e passamos uns oito anos sem notícias um do outro.

Certa tarde o encontro casualmente na Av. Dantas Barreto, bem ao lado do Forum Paula Batista. Apressei o passo e fui ao seu encontro, abracei-o dizendo...

- Devo chamá-lo Dr. Rogério ou meritíssimo juiz?
- Nem uma coisa nem outra, meu caro professor.
- Como assim, que aconteceu? disse eu pressentindo algo fora do normal.

- “Ao interrompermos as aulas, para me dedicar de corpo e alma ao concurso, comecei a me enturmar, passando a frequentar tudo quanto era foro e tribunal de justiça. Logo, para o meu maior desapontamento, terminei por descobrir que existe uma lista de preços (propina) que vai do oficial de justiça ao juiz. A terrível constatação foi uma ducha de água fria na minha cara, na minha alma e no meu coração. Achei melhor desistir de tudo, tão envergonhado me sentí”.

- Fiz um acordo com as empresas para as quais trabalhava como advogado e apanhei o meu FGTS que deu uma boa soma. Com esse dinheiro comprei uma loja de material de construção na Av. Norte e não quero ver na minha frente nada que me lembre, mesmo remotamente, Lei, Justiça, Juizes etc. É o meu "Jus Esperneandi". Estou vivendo bem melhor. Cabeça fria, e altiva, vou duas vezes por ano à Europa e agora os meus dois filhos que eventualmente me substituíam quando das viagens, assumiram de vez o negócio. Leis, Direito? Nunca mais!"

Terminamos a conversa, já a tarde se fazia noite, no Bar Savoy, enxugando algumas canecas do precioso líquido. Quando dito precioso líquido ainda era honesto. Sem água. Nos despedimos com um longo e fraternal abraço. Nunca mais o vi.

Algum tempo depois soube por um dos seus filhos, que ele, Rogério, havia se mudado definitivamente para Portugal. Ao que consta, comprou uma quinta lá pelos arredores de... deixa pra lá! Leva uma vida correta, honesta e não morre de saudades de Pindorama.

2 comentários:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Comentário anterior feito por Márcia.Grata.

Marcia Barcellos disse...

Infelizmente falta caráter, dignidade, moral, seriedade,comprometimento com a verdade. Marcia