
Eduardo Almeida Reis
Pena Capital (sexta, 30/set) CB11.131
Bela senhora, advogada de nomeada, professora doutora de direito, mandou-me vídeo em que pretendia provar a existência de Deus com a imagem de uma santa que chora, transpira e movimenta a íris, num fenômeno que, segundo a remetente, nem a NASA explica.
Fé e descrença são sentimentos difíceis de contestar, mesmo que a NASA e Freud expliquem. É muito mais inteligente deixar que os outros creiam, ou não creiam, do que tentar convencê-los de algo com a suposta auditoria da NASA. Na cidade onde vivo, famanaz psicanalista diz que faz força, há 40 anos, para não acreditar em Deus, mas tem sido derrotado pelos milagres que vê acontecerem em seu divã. Enquanto philosopho, acho que o doutor é um gabola ao referir-se aos milagres que alcança em seu divã. Caso típico de cassação do registro pela Sociedade Brasileira de Psicanálise.
Números confiáveis informam que 7% de população mundial é atéia. Seria conveniente que um instituto de pesquisas, também confiável, levantasse o preparo intelectual e o comportamento moral de uma parcela expressiva dos 7%, comparando-os com o preparo e o comportamento moral de uma parcela dos 93% restantes.
Os ateus temos argumentos irrespondíveis pelos monoteístas. Se um ônibus despenca de uma ribanceira, mata afogadas 35 crianças e só uma sobrevive, logo aparece quem diga que foi salva por Deus. Então, é preciso admitir que as 35 mortes foram obra do mesmo ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de tudo que existe.
O politeísmo faz muito mais sentido: um deus para salvar a criança e outro deus para matar as 35. Um para conduzir os aeroplanos aos seus destinos, outro empenhado em derrubá-los no caminho. E assim por diante, em tudo quanto existe por aí.
Famoso apresentador de televisão, que dizem ser candidato a prefeito de São Paulo, vive dizendo que só comete crime quem não acredita em Deus. Do meu cantinho, acho que o rapaz é a prova volumosa da inexistência de um ente infinito, eterno, sobrenatural etc.
Vejamos os políticos que circulam pela cidade onde se publica este Correio Braziliense. Em sua esmagadora maioria dizem acreditar em Deus, quando são a maior prova da inexistência do nume. É inadmissível que uma divindade, que tudo pode, acoberte os superfaturamentos e a ladroeira do Dnit, da Valec e de tantos outros órgãos públicos, cuja lista não caberia nesta página, nem mesmo em fonte miudinha.
Que dizer, então, dos crimes cometidos em nome de Deus? Os bandidos que mataram milhares de pessoas no September Eleven eram homens de Deus a serviço de Alá. Os inquisidores que torravam pessoas nas fogueiras e vendiam a gordura escorrida dos corpos eram homens de Deus. Os cruzados eram o quê? O leitor já leu o livro “Os Jesuítas”, escrito pelo jesuíta Malachi Martin?
O assunto é muito mais que delicado. Portanto, o mínimo que se pede é que os teístas cuidem dos seus deuses e deixem os ateus em paz.
A Coluna de Eduardo Almeida Reis é publicada diariamente no Correio Braziliense.
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