quinta-feira, setembro 01, 2011

Há um século: vivendo livremente na Inglaterra




Alan J. P. Taylor, historiador inglês escreveu esta passagem memorável em English History, 1914-1945 (Oxford University Press, Oxford, 1970):

Até agosto de 1914, um inglês sensato e cumpridor da lei era capaz de passar a vida quase sem notar a existência do Estado, exceto pela agência de correio e o policial na rua. Ele podia viver onde quisesse e como quisesse. Ele não tinha nenhum número oficial ou carteira de identidade.

Ele tinha a liberdade de viajar ao exterior ou deixar o país para sempre sem um passaporte ou qualquer outro tipo de permissão oficial. Ele tinha liberdade para trocar o seu dinheiro por qualquer outra moeda, sem restrição ou limite. Era livre para comprar bens e produtos de qualquer país do mundo nas mesmas condições em que os comprava na Inglaterra. A propósito, um estrangeiro era livre para passar a vida neste país sem pedir permissão e sem informar a polícia.

Diferentemente dos países do continente europeu, o Estado inglês não obrigava seus cidadãos a prestar serviço militar. Um inglês, se assim o quisesse, poderia se alistar no exército regular, na marinha, ou nas forças territoriais britânicas. E também era livre para ignorar, se assim o quisesse, as questões de defesa nacional. Chefes de família abastados ocasionalmente eram convocados para prestar serviços como jurados em tribunais.

De outra maneira, ajudavam o Estado somente aqueles que assim o desejassem. O cidadão inglês pagava impostos numa escala modesta: perto de duzentos milhões de libras esterlinas em 1913-1914, ou, bem menos do que oito por cento da renda nacional. [...] De maneira geral, o Estado agia apenas para ajudar àqueles que não podiam ajudar a si próprios. O Estado deixava o cidadão adulto em paz e por sua própria conta.

Comentário: Em 2011, só é possível sonhar com um Estado assim tão limitado.

Originalmente publicado no blog do autor em 21.07.2011

De M@Mais:

De agosto de 1914, início da I Grande Guerra, o Estado inglês aumentou exponencialmente o seu poder de intervenção; passou a “ajudar” mais e a controlar como nunca antes: gerou mais e mais dependentes. A brevíssima passagem acima reproduzida é um vivo contraste com a Inglaterra descrita no artigo Londres já vinha se aquecendo, de Gerson Faria.

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