sábado, agosto 20, 2011

Sonhar engorda



Téta Barbosa



Sonhos são como amigos.

Você vai com a cara do sujeito, depois trocam telefones e, quando menos espera, ele está te levando pra casa porque você está bêbado demais para dirigir.

E os sonhos vão ficando por ali, como quem não quer nada, esperando o momento certo de você chorar no ombro dele, a chance de ser seu amigo de fé, irmão, camarada.

Hoje comi um sonho (de padaria). Com recheio de framboesa e umas 30 mil calorias, mastiguei a guloseima sem dó nem piedade, enquanto esperava o voo Belo Horizonte/Recife.

Num insight momentâneo (graças ao estado dopado em que me encontrava por ter ingerido um Dramin antes de entrar no avião), decidi filosofar:

Pessoas é que devem devorar os sonhos e não o contrário!

Simone de Beauvoir ficaria orgulhosa dos meus pensamentos cobertos de açúcar (sem afeto).

- Decifra-me ou te devoro, disse eu confiante para o sonho. No que ele não respondeu (sonhos são assim, dificilmente respondem enigmas), eu devorei.

Porque, minha gente, se um dia o sonho quiser te devorar, nem adianta correr porque ele te engole sem mastigar.

E a gente é engolido diariamente e nem percebe. Pela rotina, pela pressa, pelo trânsito, pela música ruim que toca na rádio, pela ganância, pela falta de sonhos e às vezes, mas só às vezes, pelo excesso deles.

E ainda dizem que o ser humano não tem predador natural! Eles estão aí, por toda parte, te devorando como uma sobremesa.

"Só se deseja o que não se tem" diria Platão, revoltado também com a inquietude dos sonhos que “vêm abalar o sono, em busca de satisfazer seus próprios desejos”.

Esses egoístas!

É permitido ser do contra, querer fechar os olhos e não sonhar?

Porque, no momento, tudo o que desejo é ter exatamente o que já tenho.

Seria pecado mortal, sujeito a purgatório, se contentar com o que se tem?

Vou excitar a ira dos Deuses e dizer, sem medo da maldição da Esfinge:

- Ok, pra mim já deu. Já tenho a casa, o filho, os livros, a família. Agora, Sr. Sonho, pode descansar ou, quem sabe, ir cuidar dos sonhos alheios. Os meus já foram satisfatoriamente realizados. Obrigada pelo serviço. Ali está a porta de saída.

Se eu titubear na hora H, posso até completar, para aplacar a dúvida:

- Deixe seu telefone anotado neste papel, caso eu mude de ideia!

Sim, os sonhos são como amigos. E, a eles, também se aplica o ditado popular: "Sonhos, sonhos, negócios a parte".

Fiquei louca? Espero que sim. Ou, é só o efeito do Dramin, vai saber.

- Um de creme, por favor. Para viagem.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e alhures. Ela também tem um blog - "Batida Salve Todos" de onde pedimos emprestado este texto.

Um comentário:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Olá primo,

Sonho é bom de qualquer maneira...mesmo que engorde. Sonhar então...Nem é bom pensar...Abraços, Márcia