segunda-feira, agosto 29, 2011

'Por debaixo dos pano'


José Virgolino de Alencar

Antônio Barros é um excelente compositor de música nordestina, do forró legítimo, perfeitamente integrado no que de melhor existena música popular brasileira. Sua discografia é imensa, variada e eclética, com destaque para as que cantam o São João do Nordeste, muitas delas gravadas por Luis Gonzaga, Elba Ramalho,Trio Nordestino, Marinês e outros importantes cantores. Tendo como parceira a sua esposa Cecéu, mais boas melodias saíram da fornalha da dupla, como “Homem com H” e “Por debaixo dos pano”, ambas consagradas na voz de Ney Matogrosso.

Ao lembrar da música “Por debaixo dos pano”, uma irônica e satírica observação sobre o que se faz no Brasil em muitos segmentos dos negócios, políticos e sociais, mostrando a característica de agir “por debaixo dos pano”, ou seja, dar aquela empurradinha no lixo, escondendo debaixo do tapete, pois bem, ao pensar na música, vi a semelhança do que ela diz com o que ocorre em nosso país.

Em Brasília, centro nervoso do país, onde pulsam os procedimentos aéticos, imorais, pouco dignificantes para uma nação, encontramos os maiores exemplos da lixeirada posta embaixo do tapete e das negociatas, tramóias, desvios de dinheiro, tudo “por debaixo dos pano”.

Toda semana, como num verdadeiro seriado, que poderia chamar-se “Serial Corruption”, é encenado um capítulo da endêmica, ou epidêmica já, prática que transforma a Capital Federal na corruptolândia. Graças à vigilância da imprensa, que levanta “os pano” da corrupção, se tem revelado episódios escabrosos, onde a criatividade dos meliantes, escondendo dinheiro em cuecas, em meias, nas braguilhas e nos bolsos mesmos, deixam estupefatos os brasileiros, cidadãos trabalhadores, que pagam impostos e veem o dinheiro escorrer pelos dutos da propina e do conluio, enquanto os fatos e notícias da sujeira vão para “debaixo dos pano”.

Quanto mais o tempo passa, quanto mais se muda de gestores, mais a mudança que vemos é o aumento da bandalheira, a ocorrência com maior freqüência de casos que estarrecem a opinião pública.

Embora estarrecedores, deixa maior perplexidade a reação das autoridades, seus discursos, suas medidas anunciadas, todas na contramão da ética e da moral, querendo convencer, no grito, que estão adotando as providências corretas.

O que nos deixa mais pasmos ainda é a acomodada aceitação da sociedade brasileira, a inércia diante dos fortes ventos da corrupção, parecendo que a opinião pública está anestesiada, apática, ou até mesmo encarando como normal todo esse contexto de ostensiva afanação do dinheiro do erário.

Os autores das patranhas desfilam por Brasília, não se acanham de botar a cara na televisão e afirmar que não existe nenhuma verdade nos fatos denunciados, embora a imprensa mostre imagens, documentos, testemunhos de gente de dentro que, flagrado com a boca na botija, quer limpar a imagem entregando os companheiros.

As informações mais convincentes sobre as bandalheiras saem exatamente de gente envolvida, confessando os crimes e dando pistas para apurações sérias, objetivas e as consequentes penas. Se aqui fosse um país sério nessa vertente constituída pelos seus políticos.

Apesar dos testemunhos que vêm das entranhas do próprio sistema, onde há uma nítida briga de foice e um claro fogo amigo, a autoridade que substitui o auxiliar defenestrado se desmancha em elogios ao antecessor, coloca-o nas alturas da moralidade, e aí é de se perguntar por que o sujeito foi chutado, se era tão competente e perfeito.

Nesse enredo triste, desse seriado de petralhadas, só uma verdade fica zoando na cabeça do brasileiro. A sujeira cada vez aumenta mais e cada vez mais vai na trilha da música de Antônio Barros e Cecéu: escafede-se “Por debaixo dos pano”.

DO BLOG NETPAGE - VIRGOLINO DE ALENCAR

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