terça-feira, agosto 16, 2011

'Nullus, ne supra crepidam'




José Virgolino de Alencar





A frase latina original, “Sutor, ne supra crepidam”, é de autoria do pintor grego Apeles(352 - 308AC), dirigida a um sapateiro que, ao olhar para um quadro do artista(imagem de mulher usando uma sandália), meteu-se a analisar a obra como um todo, extrapolando seu limitado conhecimento sobre calçados.

Apeles considerou atrevida a opinião do sapateiro e detonou a frase: “Sutor, ne supra crepidam”, ou seja, “Sapateiro, não vá além das sandálias”. A frase vem atravessando os tempos para significar um conselho a quem ousa ir além dos seus parcos conhecimentos e deita falação sobre o que não entende.

Ninguém mais em nossos dias desse início de século XXI merece receber o sensato conselho de Apeles do que o ex-metarlúgico que se meteu a dirigir uma nação, sem ter qualquer noção do que seja comandar um país, traçar seus destinos, fazer dele um país sério.

Ele é um confesso “não sei de nada”, mas não consegue segurar a língua que, aliás, presa por característica congênita, insiste em se soltar, em irritante incontinência verbal, e querer falar sobre tudo, mesmo que efetivamente não diga nada de proveitoso.

Nesse quesito, ele supera o sapateiro lá da época de Apeles, porque além da sandália e das pinturas que lhe surgem à frente, ele quer entrar pela psicologia dos personagens e fatos que “analisa”, com suas metáforas mambembes, onde o “nada” se liga à “coisa nenhuma”.

Pessoalmente, sempre desejei que alguém mais próximo tenha a oportunidade de ficar frente à frente com ele, ouvi-lo atentamente, para no fim disparar o conselho: “Lula, ne supra crepidam”. Me bate a curiosidade de ver sua reação, sem entender nada da frase, sorrindo amarelo e falando alguma asneira para descartar o desentendimento do conselho.

Acho que não falta gente com vontade e ousadia(consciente) de traduzir livremente a frase: “Lula, não vá além do torno mecânico”, ou seja, “limite-se ao seu parco saber da profissão de torneiro, de onde não deveria ter saído, livrando o país dessa zorra em que seu período de governo nos meteu e ainda temos de tolerar uma continuidade piorada do que se pensava que pior não ficava.”

Apeles, com certeza, jamais imaginou que sua frase, mais de quinhentos anos depois, viesse a calhar num personagem de um país que nem os nostradamúlogos poderiam prever que seria descoberto, muito menos os tristes caminhos políticos que tomaria. Mas, na verdade, está lá, na antiguidade grega, a forja do pensamento humano, os ensinamentos de como seria esse complexo mundo. Eles disseram tudo. Nós apenas repetimos.

E assim, como diz o filósofo André Gide, “todas as coisas já foram ditas, mas como ninguém escuta é preciso recomeçar”, repito à exaustão a frase de Apeles, porque vejo, na cena brasileira, principalmente a política, muitos sapateiros querendo ir além das sandálias e muita nulidade extrapolando sua reduzida capacidade intelectual. Então, ratifico a sentença de Apeles, adaptando aos dias atuais:

“Nullus, ne supra crepidam”.

Eu garanto, autocriticamente, que não vou além das minhas sandaliências.

DO: BLOG NETPAGE-VIRGOLINO DE ALENCAR

Um comentário:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Sr. José Virgolino,

Que beleza!
É sempre bom lembrar conselhos desta natureza...
Vale uma criteriosa reflexão.
Sempre será tempo de aprender com quem sabe mais, reconhecendo assim a limitação que ainda existe em tantas situações e decisões.
Humildade é preciso.
Abraços. Márcia