quinta-feira, julho 28, 2011

Paulinho Perneta




Hugo Caldas



Conheci o Paulinho Nóbrega nas trincheiras de Saint-Quentin, França em 1918 durante a I Guerra Mundial. Éramos da infantaria inglesa, eu, como segundo tenente e ele, como cozinheiro do regimento a nos servir sopa, costeletas e ananases ao jantar. Soa um pouco surrealista mas a história foi essa mesmo. Fazíamos parte do elenco do Teatro do Estudante da Paraíba na segunda metade da década de 50 e encenávamos "Fim de Jornada", peça do escritor inglês R.C. Sherriff, ambientada no front.

Da esquerda para a direita: Valdez, Paulinho, Celso Almir, Sosthenes e Hugo

Bom amigo, piadista, espirituoso e de fácil convívio.

À época vivia um amor tumultuado e o Paulinho sendo amigo do casal estava sempre pronto a apaziguar os ânimos fazendo o papel de conselheiro e cupido ao mesmo tempo. Tenho pra mim que ele também era apaixonado pela minha Amelinha.


Paulinho entre Ednaldo e Elpídio Navarro

O tempo foi passando, e após inúmeras vivências terminei por achar o caminho da cidade do Recife - "a vizinha capital do sul" - como dizia certo cronista social da época, onde haveria de assumir por concurso um posto na Panair do Brasil e onde fincaria para sempre as minhas raízes. Paulinho acho que ao mesmo tempo, retornou à casa paterna no Rio Grande do Norte e nunca mais nos vimos.

Retornei várias vezes à João Pessoa especialmente na data de aniversário do amigo comum Elpídio Navarro que aproveitando-se do ensejo reunia a velha guarda do TEP para almoço, rememorações e muita conversa jogada fora. Vinha gente até de Nova Iorque. O Paulinho nunca apareceu e era assunto recorrente, "por onde anda o Paulo Nóbrega"? Alguém dá notícias do Paulinho Perneta? Nada. Parecia que o nosso amigo havia sumido no oco do mundo.

Com o passar do tempo e já aposentado me veio a idéia de criar um Blog para o registro das memórias e das boas lembranças. Vários amigos prestigiaram a empreitada. Uma especial postagem de Elpídio - "Paulinho Tripa Gaiteira", relatava peripécias dele e Paulinho na Praia do Poço em priscas eras. Coloquei um comentário indagando mais uma vez sobre o paradeiro do nosso heroi. Dias depois me aparece a resposta que me tirou do ar. Alguém que não se assinava dava conta de que o meu amigo havia falecido. Não costumo dar guarida a textos anônimos mas pela importância da informação consenti em aceitar a notícia funesta.

Ontem à noite estava eu corujando a web quando me chega o seguinte e-mail:

"Boa noite Sr Hugo, estava olhando seu blog e fiquei surpresa com a notícia de que Paulo Alves da Nóbrega tinha falecido. Seu colega do teatro da PB. De maneira alguma, ele está vivo, eu sou filha dele, meu nome é Sylvia Machado da Nóbrega, e comentei com ele essa noticia que Graças a Deus não é verdade. A pessoa deve ter confundido com outro. Se quiser manter contado meu e mail é... Tenho certeza que ele irá gostar de receber noticias suas. Abraços, Sylvia Nóbrega".

No primeiro instante fiquei sem fala. Depois, fui me recuperando e daí a pouco era uma alegria só! Então era uma inverdade. Durante todo esse tempo. Alvíssaras, o Paulinho estava vivinho da silva! Tal qual um novo Jota Cristo redivivo, ele ressurgia dos mortos, não ao terceiro dia, mas após quatro anos. Claro que de imediato respondi ao e-mail, a Sylvia me forneceu o telefone, batemos um longo papo e botamos a conversa em dia. A mesma voz mansa e amiga que eu conhecia tão bem.

Ontem à noite fui dormir feliz.

9 comentários:

Celso Japiassu disse...

Hugo:
Que beleza saber do Paulinho. E ainda por cima vivo como sempre esteve.
Ele mora onde, em Natal?
Abração.

W.J. Solha disse...

Beleza, Hugo. Nada como um bom personagem pra se fazer uma boa crônica! Solha

Ana Arnaud disse...

Parabéns, Hugo. A vida é assim, sempre nos apresentando surpresas que nos fazem lembrar, recordar e poder dormir feliz.

Osman Godoy disse...

Que beleza Hugo!
Não conheci os outros ,mas o Celso Almir não me é estranho . Acho que foi meu colega no Pio X . Sabe mais alguma coisa dele?
Estive no Pio X entre 1952 e 1953.
Abrs Osman

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Estimado primo Hugo,
Que delícia de notícia você recebeu!
Seu coração ficou em festa!!!
Agora é só colocar o "papo" em dia para a alegria de todos.
Um grande abraço. Márcia

Sylvia Nobrega disse...

Li o capitulo em homenagem a painho ri demais!!! Essa turma com certeza deixou saudades, e nunca é tarde para reviver.

Abraços,

Sylvia Nóbrega

Nazareth Xavier disse...

Hugão.
Que bom que Paulinho tá vivinho da silva. Graças a Deus. Chega de baixa na turminha do TEP. Bjs. Naza

Anco Márcio de Miranda Tavares disse...

Nesse tempo eu tava apenas na plateia. Foi uma super produção. Lembro ainda de "MORRE UM GATO NA CHINA", com Gilson e Lucy, ambos falecidos e "O MENINO DE MOONE NÃO CHORA" com Walderedão, hoje delegado aposentado. Naquele tempo precisava ter talento, hoje basta apenas dar o rabo. As bonecas do PASTORIL PROFANO fazem sucesso há 19 anos com 3 sessoes por noite... Eu juntava dinheiro pra assistir às peças. Me lembro de Dr.Walter Oliveira, que fez muito por nosso teatro, da filha dele, Elizabeth que trouxe a dança pra cá. Depois entrei no grupo do Liceu com Rubens Teixeira com "O JUDAS EM SABADO DE ALELUIA", e com a chegada de Leonel Albuquerque, entrei pro "GOTSR", Grupo Oficial do Teatro Santa Roza, onde (pasmem!) fui nomeado como ATOR e permaneço nesse emprego, aposentado, até hoje.Ou seja, fui profissonal de teatro na Paraiba nos anos sessenta. Estreei no GOTSR em "SENHORA DOS AFOGADOS" de Nelson Rodrigues. Nessa peça Elpidio que era iluminador, botou umas jarras de barro cheias dágua ali no "quadro de luz" e uma pedaços de metal pendurados num fio que fazia as luzes apagarem "em resistencia". O que faltava em recursos se tinha em criatividade. Zé Bolinho batizou essa gerigonça de Elpidio de FARÉL. E quando a gente perguntava o que era, dizia morrendo de rir, "é meu carai embrulhado num papel..." Anco Márcio

Anônimo disse...

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