sábado, julho 16, 2011

O QUE LUZIA PERDEU NA HORTA

Maria Amélia Oliveira

Comecei por escrever um comentário ao artigo do Carlos Mello e acabei entrando com minha “horta da Luzia” (era assim que a gente chamava essas mini-memórias, no tempo do Pasquim). Pena não conhecer João Pessoa, para curtir mais o artigo do Carlos. Mas, Ipameri, (aquela do meu tempo) acho, não é muito diferente dessa antiga João Pessoa.

Em Ipameri (para os mais fraquinhos em Geografia pátria, esclareço: cidade do interior de Goiás, aos domingos tinha o que a gente chamava de "suarê". Hora de botar um vestido godê guarda-chuva, com três ou quatro anáguas engomadas que lanhavam as pernas, com brincos iguais ao colar e o indefectível band-aid no calcanhar, como muito bem retratou o Aldir Blanc na música; "Dois pra lá, dois pra cá". Até hoje me arrepio com essa música. E a gente lá no clube, esperando ser chamada para dançar pelos rapazes, que se amontoavam perto do bar e lá de longe (bem longe), escolhiam com quem dançar. Olhavam em direção a uma mesa onde estavam sentadas ansiosas duas ou três donzelas, acompanhadas, é claro, dos pais de uma delas. Ao sinal de rodopiar que o mancebo fazia com a mão, as garotas se entreolhavam e, acho, a mais esperta se levantava e ia ao encontro do rapaz, já que ir a baile pra tomar chá de cadeira era o fim da picada.

A minha memória mais antiga era tomar banho de chuva junto com meus irmãos, todos pelados (éramos bem pequenininhos), incentivados pelo meu pai que dizia que aquele ritual era bom pra criar imunidade. Luminaleta, meu Deus, era o remédio que me davam sempre que chovia forte, com raios e trovões. Eu começava a chorar histericamente, se a família toda não estivesse dentro de casa. Achava que a chuva mataria todo mundo na rua (até hoje tenho medo de temporais) e nunca pensei que alguém mais conhecesse essa tal de luminaleta.

Os cabelos daquele tempo eram um capítulo à parte. Coque tipo bosta de vaca era a moda. Como eu sofria com meus cabelos muito lisos que não sustentavam aquela arquitetura toda. O jeito era usar bom-brill por dentro do coque. Que trabalheira era usar cerveja (não existia fixador, ou eu não podia comprar, sei lá)pra encorpar o cabelo e, depois, desfiar toda a cabeleira pra cobrir o nefando artefato. E ficar o tempo todo com um espelhinho na mão pra verificar o bom comportamento do “mil e uma utilidades”. Mas, tudo valia a pena, principalmente se aquele glorioso penteado era elogiado pelo rapaz em quem se estava de olho.

A gente ia ao cinema e guardava lugar para o namorado (namoro escondido, é claro) até que as luzes se apagassem e ele sorrateiramente deslizasse para a cadeira ao lado (o coração saltava pela boca). Assistíamos ao filme de mãos dadas e rostos colados. Eu saía do cinema sozinha (ele se mandava antes do filme terminar) e com torcicolo, mas tão feliz, que nem dava bola para a dor no pescoço. Ah, a primeira vez que usei salta alto! Tinha 3 ou 4 cm. de altura e se chamava salto brotinho. Foi uma emoção inesquecível.

Meu primeiro namorado era conhecido por Bolota (como eu fui me lembrar disso, meu Deus?). Nessa época os rapazes usavam levantar o colarinho da camisa e o meu pai se referia ao meu namoradinho como o "golinha". Um dia, minha melhor amiga esqueceu o diário dela na minha casa e quase morri de susto quando li que ela apaixonada pelo Bolota, que ela, pra disfarçar, não escrevia por extenso, mas desenhava uma bola. Fiquei tão mexida com a revelação, que não tive dúvida: terminei o namoro, sem contar pra ninguém, muito menos pra amiga, a razão. E mais decepcionada e triste fiquei quando ele apareceu com outra sirigaita, não dando chance pra minha amiga.

Como Ipameri é perto do fim do mundo, tudo chegava lá estropiado (quando chegava, porque o subjuntivo nunca chegou) e eu me lembro que na minha casa tinha uma peça na sala de jantar, que todos chamavam de “tajér”. Pra mim, era o nome daquele móvel. Qual não foi minha surpresa, já casada, descobrir que era o étagère francês devidamente estropiado.

É, meu amigo, estamos velhos. E que bom que ainda podemos nos lembrar da nossa infância e juventude. Vamos recordar, enquanto o "alemão" (cruz credo) nos deixar em paz. Era feliz e curti muito tudo. Obrigada por me trazer, com suas memórias, estas lembranças. Foi um bom exercício. Beijos

3 comentários:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Maria Amélia Oliveira,
Como é bom recordar acontecimentos vividos e que deixaram saudade...
Como isto é agradável!
Alimenta nossa emoção.
E quem não tem fatos para recordar?...Grata.

Ana Arnaud disse...

Maria Amélia, o meu cabelo sempre foi muito fino, liso e pouco, por isso nunca consegui "embrulhar" o bombril com ele, mas usar a cerveja como fixador, com aqueles rolinhos de plástico para fazer o cabelo ficar com as pontas viradinhas pra fora, eu fiz muito... kkkkkkkkkkkkkk. Vc me fez dar boas risadas lembrando disso.E o cheirinho que ficava depois?

yanmaneee disse...

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