sexta-feira, julho 22, 2011

Isto não é ficção!



José Virgolino de Alencar






Rodovia BR-101 – Duplicando problemas


Desde 2026, com previsão inicial para ser inaugurada no final de 2008, arrasta-se a duplicação da BR-101, no trecho Recife -João Pessoa – Natal. Entramos no segundo semestre de 2011 e as obras, até agora, com um atraso injustificável, só duplicaram os problemas da velha rodovia com pista única e apenas um faixa em cada mão. É mais um capítulo da novela da corrupção e da temerosa gestão dos transportes e sua infraestrutura obsoleta, caduca e em plena desmontagem.

No domingo, dia 17/07, fomos vítimas, eu e minha esposa, do cenário de irresponsabilidade alojada no Ministério dos Transportes e no seu carro-chefe que constrói e administra as estradas federais - o DNIT. Viajando de João Pessoa a Recife, para levar ao Aeroporto dos Guararapes uma cunhada que embarcaria para Petrolina, deparamo-nos com problemas que elasteceram o tempo normal do percurso, fazendo com que ela perdesse o voo. E na volta, enfrentamos mais problemas.

No primeiro atropelo, as águas invadiram a pista da nossa mão de direção, obrigando-nos, mesmo sem qualquer aviso ou controle de fiscalização, a entrar na pista contrária, rodar um tempão na contra-mão e somente no final do desvio encontramos a Polícia Rodoviária Federal orientando para retomar a mão de direção, o que significa que eles sabiam do empecilho lá atrás, mas postaram-se no ponto de gargalo, não reclamaram de ninguém e encararam como se tudo estivesse normal.

Ao entrar em Recife, na velha BR-101 já duplicada há muito tempo, mas gasta de modo a travar o trânsito,eis que surge outro problema. Fomos avisados que, à frente, a estrada estava invadida pela água e não se poderia passar.

Voltamos para pegar o acesso por Paulista e Olinda, atravessar Recife de norte a sul, indo por Boa Viagem e finalmente chegando ao aeroporto atrasado e com o voo fechado, embora faltassem 25 minutos para a decolagem. A companhia não aceitou as justificativas, minha cunhada perdeu a passagem e foi obrigada a comprar outra para embarcar tempo depois.

Na volta a João Pessoa, novo e mais grave problema. Nas proximidades de Goiana, entramos num congestionamento longo para o local e para a hora (domingo à tarde só viaja no percurso Recife-João Pessoa ou João Pessoa-Recife quem tem importante negócio). Contudo, atribuímos o problema à duplicação, vendo os carros fluírem parecendo normal, como observando os que vinham em sentido contrário, o que nos fez pensar que a vagarosidade era apenas resultado da chuvarada que caíra. Na realidade, eram os veículos voltando porque não podiam ultrapassar Goiana, onde as águas cobriram uma ponte, como levaram parte da placa do asfalto da nova pista.

Embora a confusão já perdurasse por muitas horas, não tinha Polícia Rodoviária Federal, não tinha defesa civil, a polícia de Goiana, tão próxima, não se fez presente e os motoristas, tontos, sem opções e orientações, rodavam pra lá e pra cá, indo e voltando em busca de saída.

Depois de horas de indecisão, resolvemos mais uma vez entrar pela contramão tentando encontrar um desvio pela cidade de Itambé, pernambucana geminada com a cidade paraibana de Pedras de Fogo (a divisa entre os Estados e o limite dos municípios ficam exatamente no meio de uma rua, de um lado Pernambuco, do outro, Paraíba.

Conseguimos alcançar o desvio e nos dirigimos para Itambé/Pedras de Fogo. Bem à frente, uma patrulha da Polícia pernambucana avisou que, naquela estrada, uma ponte havia caído e não tinha acesso a Itambé. Fomos orientados a voltar, entrar mais a sul de Pernambuco, ir ao município de Condado e de lá retomar o acesso à via para Itambé. Foi o que fizemos.

Por uma estradinha estreita, esburacada, maltratada, chovendo muito, não tendo na rodovia, embora fosse uma PE, nenhuma sinalização, de quilometragem, de indicação de sentido, dos perigos, como não havia, num trecho de quase trinta quilômetros, nenhuma casa, nenhum posto, sequer esses vendedores de beira de estrada. Era o deserto total. É a chamada Zona da Mata de Pernambuco, onde a mata não é conservada, é abandonada.

Finalmente chegamos a Itambé/Pedrasde Fogo e, embora não conhecêssemos a área, sabíamos que, ao sair daquela cidade em direção ao Norte, estaríamos seguindo com destino à Paraíba. E aí foram mais trinta quilômetros de buracos, de deserto, de trecho ermo, com muita chuva, num triste percurso a partir de uma cidade que é boa geradora de receita para o Estado, mas que não recebe o devido retorno.

Assim, alongando o percurso em 60 km, retomamos a BR-101, a 40 km de João Pessoa, na pista duplicada, mas mal-sinalizada, sem qualquer iluminação, embora tenha postes e lâmpadas ao longo do trecho que se considera a entrada da capital paraibana.

Os problemas enfrentados não foram uma circunstância de azar pessoal. Foram centenas de pessoas vitimadas pela incúria de gestores irresponsáveis, motoristas desorientados que, com certeza, perderam compromissos importantes.

Não é também um caso isolado. Está bem situado no contexto da irresponsabilidade predominante no setor de transportes do país, sob o comando de uma máfia, de sanguessugas dos recursos do tesouro e a população, contribuinte dos impostos, que se lixe e se vire para enfrentar as tragédias.

O episódio me faz concluir que o país está entregue às baratas. E são baratonas anabolizadas, musculosas, alimentadas com o dinheiro público, o meu, o seu, o nosso.

Nenhum comentário: