Girley Brazileiro
O óbvio acontece no Recife e o drama se repete na zona da Mata Sul do estado. Exatamente como eu previa no ano passado, no mês de junho, quando vaticinei (tô é arretado...) que os governantes logo esqueceriam as tragédias da época.
Hoje, enquanto a capital está submersa no mar da irresponsabilidade administrativa, o interior desaparece por não verem cumpridas as promessas redentoras. Num ano de eleições, como foi 2010, prometeram o céu. Graças a isso, ganharam as eleições! Não foi? Deram como agradecimento o ônus do abandono...
Qualquer cidadão recifense sabe que, com uma chuvinha de nada a cidade submerge e o pânico se instala nas pessoas e nos motoristas em face da desmedida desordem reinante. E se algum “espírito de porco” semeia um boato, como o de ontem (quinta feira, 5 de maio de 2011) a cidade se transforma na antevisão do inferno.
É incrível o que acontece nesta cidade: o inverno chega destruindo e quando, aos poucos, vai dando lugar ao sol do verão, que volta a brilhar e esquentar os “quengos” dos administradores da cidade, levando-os, aparentemente, ao ponto de fusão, eles se esqueçem de limpar as galerias pluviais, os rios e canais e, por fim, as ruas da cidade, cada vez mais imundas. O resultado sai caro e é cobrado no inverno seguinte.
O Recife é hoje uma das cidades mais sujas do país. Uma vergonha! Uma cidade abandonada. O Burgomestre está muito mais preocupado com as futricas políticas do que com os seus eleitores, entre os quais não me incluo, porque meu voto ele jamais teve ou terá. Alheio às responsabilidades de administrador, enquanto a cidade se afogava, ele estava dançando num tablado flamenco de Madrid. Ele dançava por lá e nós “dançávamos” aqui... gostasse do entre aspas?
Moro numa zona tida como nobre da cidade, ironicamente chamado de bairro dos Aflitos. É nesta época de chuvas que entendo melhor a denominação. Vivo permanente e literalmente aflito, porque se a chuva me pegar em casa, fico ilhado e se me pegar na rua, não consigo voltar para casa. Em dias de chuva os vizinhos mais descontraídos praticam esqui aquático e tiram os barcos da garagem e navegam esportivamente pelo leito do rio, digo, da rua.
Quer ver uma coisa inacreditável? Meu filho, voltando de viagem, alta noite da última sexta-feira (29.04.2011), não pode vir para casa por falta de táxis e, diante da cidade afogada, ficou retido no aeroporto. Sem outra alternativa, terminou indo dormir num hotel, em Boa Viagem. Até por segurança, é claro. Aqui prá nós, é de lascar!
Quer ver outra coisa estúpida: um centro de compras no bairro de Casa Forte, aqui bem próximo, está há dois dias fechado por conta da inundação que sofreu, no andar térreo. Olha essa foto aí, a seguir. Um canal, na lateral do prédio, transbordou e invadiu as lojas térreas, a casa de força e caixas de elevadores.
Um desastroso prejuízo para quem se municiou de mercadorias e se preparou para faturar na venda de presentes do dia das mães. Quem vai pagar o “pato”? O contribuinte! É claro! Aquele mesmo que paga IPTU caro e ISS inaceitável, que abarrotam os cofres da Prefeitura. Esses são os idiotas que, numa crise de amnésia e no entusiasmo da festa eleitoral a cada quatro anos, votam nos irresponsáveis, responsáveis pela situação calamitosa que vivem hoje. O ideal seria que as eleições ocorressem na época do inverno rigoroso. Eu queria ver irresponsável ganhar eleição. No minimo trocariam de irresponsável... ai, doeu...
E na Zona da Mata Sul do estado? Meu Deus! Não posso esquecer o trabalho de ajuda que realizamos no ano passado, com Shelterboxes, do Rotary International, tentando minimizar o sofrimento daquela gente pobre e saturada de tantas e repetidas enchentes. Taí! Admiro essa gente corajosa e moldada com um barro da cor da esperança. Inocentes, acreditam piamente que os governantes vão dar uma solução ao problema e, no inverno seguinte, estarão livre do pesadelo. É doloroso ver que, a cada desastre, sem ter outra coisa a fazer, enterram os mortos, reconstroem ou limpam a casa atingida até o teto, compram novas tralhas e voltam a se instalar no mesmo sitio. Até quando, gente?
Duas coisas para terminar: será que o que foi prometido, hoje, pelo Governo do Estado vai sair do papel? Prometeu construir não sei quantas barragens no interior. Tomara que ele cumpra. Depois, disso, uma perguntinha que não cala: se essa coisa do Recife submerso acontecer numa semana ou dia de Copa do Mundo, em julho de 2014, em que vai dar? Deus que nos acuda, nessa terra dos afogados!
http://gbrazileiro.blogspot.com/
NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens
Um comentário:
Girley
Hoje o nobre amigo está realmente insuperável. Com a corda toda. Também, não é pra menos. Vosmicê iniciou a sua bela peroração com a adequadíssima palavra "óbvio". Isso me relata ao grande Nelson Rodrigues quando cunhou "o óbvio ululante" hoje perfeitamente aplicável aos petralhas que nos governam. Tomei a liberdade de postar a sua (e nossa) indignação no Blog do Hugão. Veneza Brasileira mas nem tanto! Meu abraço. Hugo
Postar um comentário