José Virgolino de Alencar
Perguntar não ofende, mas tanto os políticos quanto muitos outros seres humanos menos delicados costumam reagir mal a perguntas, nem sempre ofensivas.
O Senador Roberto Requião reagiu e agiu como um autêntico brutamontes diante da pergunta feita por um jornalista, pergunta que todo mundo quer fazer e o faria se tivesse oportunidade.
O ex-Governador do Paraná renunciaria à pensão que recebe do tesouro daquele Estado, se o atual mandatário lhe provasse que o caixa não poderia mais arcar com a despesa?
Devolverá, se Sua Excelência, atual chefe do Executivo paranaense, prometer não aceitar a pensão após deixar o cargo e editar lei proibindo aos futuros governantes de perceberem tão privilegiado benefício?
O parlamentar da chamada Alta Casa congressual tomou o gravador do jornalista, gravou a entrevista para si, apagou a do entrevistador e devolveu o equipamento. Diante da repercussão negativa, Requião foi à tribuna do Senado, ronronou, ronronou, mas não justificou a arbitrária, truculenta e ditatorial atitude.
Pela cara de Requião na imagem da entrevista, que também foi gravada pela televisão, se o jornalista não tivesse entregue o gravador e insistisse em confrontar o descontrolado Senador, ainda hoje o colega de Sarney estaria correndo atrás do, para ele, atrevido profissional.
Isso me lembra duas histórias de perguntas que tiveram reação pouco educada dos indagados.
Na primeira, um Auditor do Tribunal de Contas da União, ao procurar um Prefeito de uma cidadezinha do interior brasileiro, para cobrar-lhe a prestação de contas do Fundo de Participação dos Municípios-FPM, ocorreu o diálogo a seguir e suas conseqüências.
O Prefeito, pequeno agricultor, encontrava-se em suas roças e o Auditor foi obrigado a deslocar-se até lá. Quando o técnico perguntou à autoridade municipal sobre a situação do “fundo”, o alcaide, grosso e pouco instruído, partiu para cima do funcionário, que não teve outra alternativa senão correr e desistir da auditoria.
Na segunda, um pouco folclórica, dá conta da existência, na cidade de Patos, no interior da Paraíba, de um cidadão de nome “Seu Lunga”, conhecido pela irritação diante de qualquer pergunta sobre sua vida e pela verve irônica ao dar as respostas.
Seu Lunga tinha um filho estudando na Capital, acabara de se formar e havia chegado à sua cidade natal, para alegria de seu pai que lhe preparava uma recepção festiva à noite. Logo de manhã, ao circular pela cidade, Lunga ouvia e respondia com a proverbial irritação a pergunta dos habitantes que, naquela cidade, conheciam bem uns aos outros e mais ainda o famoso conterrâneo: “Roberto chegou?”.
Lunga foi inchando o saco, mas, para não estragar a festa, contratou um molecote por dez paus(dez unidades da moeda da época) para dar a informação, mesmo que não lhe fosse perguntado. E o molecote, em cima de um banquinho, gritava pra todo mundo: “Roberto chegou”.
No fim da tarde, com a notícia já conhecida de todos, Seu Lunga pagou ao moleque e o dispensou. O aprendiz de porta-voz recebeu o dinheiro, mas não se conteve e disparou a pergunta: “Seu Lunga, Roberto chegou mesmo?”. Dizem que o velho Lunga correu atrás do moleque até se cansar, ao ponto de passar a festa emburrado e de mal-humor. Não queria de modo algum ouvir a pergunta sobre o caso do moleque. Se o fizessem, a festa com certeza estaria acabada.
Todos nós temos perguntas engasgadas na garganta, esperando uma vez para perguntar, ainda que sob risco de ser destratadamente recebido.
Eu, por exemplo, tenho vontade de perguntar ao Lula se ele sabia que era presidente do Brasil e se sabia onde ficava este país.
Nesse caso, convenhamos, ele até teria razão de se irritar por seu temperamento que só não é mais grosso por falta de espaço, mas, também convenha-se, é essa a impressão que ele me causou nesses oito anos em que zanzou pra cima e pra baixo no Aerolula ou Airnephel, surfando nas nuvens, com o pensamento na Lua, embora a boca vocalizasse 51 razões para ele se achar que estava por cima da carne seca.
Enquanto isso, o pobre brasileiro encontrava-se longe da carne seca, porque nem esta tinha para comer.
Enfim, essas e outras perguntas, que queremos fazer a nossos políticos, acho que não seriam incômodas.
Perguntar, não ofende.
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