Coluna do Moacir Japiassu

O insuportável do futebol na TV
por Moacir Japiassu (*)



No ano de 1556 o rei d´Espanha
proibiu o uso da palavra conquista
(Talis Andrade in Eterna Censura)

Janistraquis anda mais-que-revoltado com as transmissões de futebol pela TV, pois a chamada "mesa de corte" abandona a toda hora os lances ao vivo para exibir videotapes; e o, digamos, responsável por esse absurdo nos faz perder grandes momentos da partida só para exibir as milhares de câmeras espalhadas pelo estádio.

A queixa é, contudo, bem antiga e justifica-se repeti-la agora, às vésperas das decisões dos campeonatos estaduais. Em coluna de 18/12/2003, Janistraquis já botava a boca no trombone:

“Considerado, essas coisas acontecem no mundo inteiro e em todas as partidas, como estamos carecas de testemunhar; parece que para um sujeito se aboletar na chamada ‘mesa de corte’ de uma transmissão de futebol deve passar antes por curso superior de ‘burricivante tequinicologia’!”.

É mesmo; trocar o tempo real pelo que chamam de “imagens recuperadas” é o PhD, o despotismo, a transcendência, o paroxismo da extravagância, todavia esperamos que se descubra vacina para esta doença em 2004, ano que deve ser excepcional em todos os setores da Nação, a julgar pelo discurso dos ministros e do Excelentíssimo Senhor Presidente da República!!!

Hoje, 12 de maio de 2011, meu assistente resolveu criar o seguinte slogan dirigido àqueles profissionais mais desatentos:

SE BEBER, NÃO CORTE!

******

Idade Média

O considerado Álvaro Borgonha, jornalista e escritor paulistano, envia o melhor suelto do mês, este que percorre a internet em ritmo de carruagem:

Na última semana beatificamos um papa, casamos um príncipe, fizemos uma cruzada e matamos um mouro.

No casamento do príncipe havia o príncipe pai que, depois de matar a princesa, se casou com o dragão.

Bem-vindos à Idade Média!

******

Doce criatura

Deu na excelente coluna Política & Economia NA REAL, do portal Migalhas, dos considerados Francisco Petros e José Marcio Mendonça:

Alexandre Tombini parece exercer o papel de "bonzinho" na equipe econômica. Suas intervenções verbais têm carecido de determinação e firmeza o que faz ficar muito mais perceptível a ausência de independência operacional do BC. Seu pedido para que os distintos consumidores adiem compras soa desconexo com qualquer preceito de teoria econômica que leve em consideração a racionalidade dos agentes econômicos. Por que alguém, com capacidade de consumo, atenderia às palavras do presidente do BC ? Realmente...

******

Juiz ladrão

José Roberto Wright, que é honesto cidadão de vida irrepreensível, ótimo filho, pai amantíssimo e marido exemplar, não percorre os mesmos caminhos quando o assunto é futebol; desde que trocou o apito pelo microfone da Rede Globo tem-se revelado o mesmo juiz ladrão de sempre. Um pouco mais presunçoso, diga-se a bem da verdade.

******

Cabo Genoino?

O considerado Ivan Resende Coelho, funcionário público aposentado, escreve de sua casa em Vila Isabel:

Condecorado pelo Exército, o ex-guerrilheiro do Araguaia José Genoino recebeu a Medalha da Vitória. A honraria foi um mimo do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Não é por nada, mas dá a impressão de que Genoíno foi íntimo da repressão e, quem sabe, até mesmo uma versão light do inesquecível Cabo Anselmo... Por que a imprensa não tocou neste assunto?

Que maldade, Ivan; que maldade!

******

Desarmamento-1

A Jovem Pan informou que há 100 mil assassinos à solta no Brasil.

Janistraquis achou pouco:

"Considerado, esse é, certamente, o número oficial; a realidade nos diz que devem existir mais de um milhão deles pelo país afora. De todo modo, garanto que a campanha do desarmamento acabará com essa multidão de sicários.".

******

Desarmamento-2

O considerado José Truda Jr. despacha de seu minarete em Santa Tereza, de onde tem ampla visão das besteiras que ocorrem aqui embaixo:

Após assistir na TV às cenas do assassinato de um jovem à saída de uma boate em Jaraguá do Sul, ocorreu-me contribuir com a Campanha pelo Desarmamento sugerindo que sejam incluídos também canivetes, facas de cozinha, lixas de unha, instrumentos perigosíssimos que, em mãos erradas, podem por em risco a vida do cidadão.

Não é brincadeira. Para ilustrar a sugestão, fui procurar nos mecanismos de busca e achei, só no G1, quase quatrocentas ocorrências para a tag "jovem esfaqueado".

******

Grosso modo

O considerado Valdir de Andrade Dias, advogado em São Paulo, jura que escutou no jornal Hoje:

"A apresentadora disse, em algum momento da reportagem: a grosso modo, com esta pronúncia -- grôsso modo. A grôsso modo. Isso está certo? Um professor do Colégio Objetivo ensinou a meu filho que a pronúncia é aberta: grósso modo."

O professor do seu filho tem razão, ó Valdir; a expressão é latina e dispensa preposição: grosso modo, ou seja, de modo grosseiro ou 'aproximadamente', 'mais ou menos', por aí...

******

Aeroportos e estádios

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo varandão desbeiçado sobre as falcatruas é possível enxergar o gramado onde pernas-de-pau e cabeças-de-bagre fingem ser craques, pois Roldão enviou à sede mais uma côdea de sua perplexidade:

Editorial do Correio Braziliense do sábado, 7/5 - "Copa não pode ser perdida de véspera" -, alerta para o fato de que as ampliações dos aeroportos brasileiros não ficarão prontas a tempo. Bem ou mal, os aeroportos estão operando. Cabe ponderar se a Copa será disputada nos estádios e não nos aeroportos e quase nenhuma arena estará terminada em 2014. Seria então o caso de se privatizar os estádios e não os aeroportos...

******

Lídio Toledo

A considerada Solange Noronha, jornalista mineira/carioca que mantém um excelente blog, enviou a notícia à coluna e, de repente, me vi na Redação da revista Pais&Filhos, menino ainda e com a cabeça plena de sonhos e cabelos vermelhos.

Muitas vezes o Dr. Lídio me tratou as contusões na enfermaria do Botafogo. Sou Vasco, porém o velho amigo Claudio Mello e Souza, meu companheiro na Ed. Bloch (ele era diretor de Fatos&Fotos), me apresentou ao médico do seu clube e da Seleção Brasileira.

Sempre tive uns problemas no ombro, por causa dos exercícios com pesos que outro médico me indicou como forma de combater a hipertensão. Eu exagerava, como exageram todos os jovens de vinte e poucos anos, e o Dr. Lídio me recebia na antiga sede do Mourisco e me encaminhava para tratamento no aparelho de ondas curtas, forno de Bier, aquelas modernidades dos anos 60.

Creio que nunca agradeci ao doutor com a devida reverência.

******

Mestre Talis

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo fragmento encima a coluna. O poeta escolhe com sabedoria & arte as palavras de uma sempre necessária denúncia. Insere-se no livro Sertões de Dentro e de Fora.

Fila indiana

Depois do vexame no Paraná, onde foi goleado por 6 a 0 pelo Coritiba, o time do Palmeiras voltou de ônibus para SP. Os considerados Álvaro José Almeida Netto e mais 12 apaixonados pelo "Verdão" acham que os craques deveriam voltar "de a pés", como diz Janistraquis. Na revanche de ontem à noite, se precisavam fazer pelo menos 6 gols, fizeram apenas 2, para tristeza dos 17 torcedores presentes ao estádio.

******

Camisinha obrigatória

O considerado Éderson Rodrigues, advogado em São Paulo, envia o que, na opinião dele, é provavelmente "a notícia mais ridícula do mundo" e que foi distribuída jornais afora pela Agência Estado:

Sob o título Motel pode ser obrigado a dar preservativo para cliente, lia-se:

Brasília - A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou hoje um projeto que obriga motéis, hotéis e pousadas a cederem preservativos aos clientes. A proposta tem caráter terminativo e seguirá diretamente para a Câmara, salvo se houver recurso para a votação em plenário.

O projeto, de autoria da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), previa que a obrigatoriedade fosse apenas para os motéis. Emenda do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), porém, incluiu os hotéis, pousadas e estabelecimento similares entre os que estão obrigados a ceder pelo menos um preservativo a seus frequentadores.

"Não é de lascar?", vocifera o advogado, ao que Janistraquis completou:

"A notícia ganha ares de boçalidade extrema com a 'emenda' do ex-paraibano Lindbergh Farias, né não?".

(Leia a íntegra no Blogstraquis

******

Nota dez

O considerado Sérgio Augusto, maior jornalista cultural do Brasil, ensaísta de primeiro mundo, escreveu no Estadão:

Em 2007, no sexto aniversário do 11 de Setembro, o jornal U.S.A. Today computou cerca de trinta livros de ficção inspirados de alguma maneira pelo ataque às torres gêmeas e, com o respaldo de críticos e acadêmicos, concluiu que o atentado terrorista ainda não havia gerado uma obra literária à altura da sua magnitude. Ponderou-se que era assim mesmo, que o melhor da ficção criada à sombra da guerra do Vietnã só surgira depois do fim do conflito.

Segundo Norman Mailer, as grandes tragédias coletivas levam dez anos para ser processadas e plasmadas em ficção de alto nível. Está chegando a hora de o 11 de Setembro produzir finalmente o seu O Emblema Rubro da Coragem, o seu Vinhas da Ira, o seu Os Nus e os Mortos (que Mailer processou e plasmou em apenas dois anos).

Leia no Blogstraquis a íntegra da obra-prima e conheça a literatura inspirada nas guerras.

******

Errei, sim!

“COLEGA DE INFORTÚNIO – Nosso considerado Alexandre Garcia, que tem vivido seus dias no Congresso entre heróis do sertão e outros nem tanto, admirou-se ao saber que o grande chefe apache Gerônimo foi, de certo modo, colega de infortúnio do ex-deputado João Alves & Asseclas.

Pelo menos foi o que informou o Correio Braziliense nesta legenda histórica (em todos os sentidos): Líder dos apaches, Gerônimo foi cassado por milhares de soldados americanos.” (junho de 1994)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com

(*) Paraibano, 68 anos de idade e 48 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada “Carta a Uma Paixão Definitiva”.