quarta-feira, abril 06, 2011

Bolsonaro e o fuzilamento da direita

Guilherme Fiuza, Revista ÉPOCA

No Brasil de hoje, como se sabe, ninguém é de direita. Ou melhor: a direita existe, mas é uma espécie de sujeito oculto, que só aparece para justificar os heroicos discursos da esquerda – eterna vítima dela.

Capt Jair Bolsonaro

Lula governou oito anos, promoveu seus companheiros aos mais altos cargos e salários estatais, fez sua sucessora, e a esquerda continua oprimida pela elite burguesa. É de dar pena. Nessa doce ditadura dos coitados, é preciso cuidado com o que se fala. Os coitados são muito suscetíveis. Foi assim que o deputado federal Jair Bolsonaro foi parar no paredão.

Capitão do Exército, Bolsonaro é filiado ao Partido Progressista, mas é uma espécie de reacionário assumido. Defende abertamente as bandeiras da direita – que, como dito acima, não existem mais. Portanto, Bolsonaro não existe. Mas fala – e esse é seu grande crime.

Depois da polêmica entrevista do deputado ao CQC, da TV Bandeirantes, o líder do programa, Marcelo Tas, recebeu e-mails de telespectadores revoltados. Parte deles protestava contra o próprio Tas, por ter dado voz a Jair Bolsonaro. Na Constituição dos politicamente corretos – assim como nas militares –, liberdade de expressão tem limite.

A grande barbaridade dita por Bolsonaro no CQC, em resposta à cantora Preta Gil, foi que um filho seu não se casaria com uma negra, por não ser promíscuo. Uma declaração tão absurda que o próprio Marcelo Tas cogitou, em seguida, que o deputado não tivesse entendido a pergunta.

Foi exatamente o que Bolsonaro afirmou no dia seguinte. Estava falando sobre homossexualismo, e não percebeu que a questão era sobre racismo: “A resposta não bate com a pergunta”, disse o deputado.

Se Jair Bolsonaro é ou não é racista, não é essa polêmica que vai esclarecer. No CQC, pelo menos, ele não disparou deliberadamente contra os negros. Estava falando de promiscuidade, porque seu alvo era o homossexualismo.

O conceito do deputado sobre os gays é, como a maioria de seus conceitos, reacionário. A pergunta é: por que ele não tem o direito de expressá-lo?

Bolsonaro nem sequer pregou a intolerância aos gays. Disse inclusive que eles são respeitados nas Forças Armadas. O que fez foi relacionar o homossexualismo aos “maus costumes”, dizendo que filhos com “boa educação” não se tornam gays.

É um ponto de vista preconceituoso, além de tacanho, mas é o que ele pensa. Seria saudável que os gays, com seu humor crítico e habitualmente ferino, fossem proibidos de fustigar a truculência dos militares?

A entrevista também passou pelo tema das cotas raciais. Jair Bolsonaro declarou o seguinte: “Eu não entraria num avião pilotado por um cotista. Nem aceitaria ser operado por um médico cotista”.

É a resposta de um reacionário, um dinossauro da direita, proscrito pelas modernas ideologias progressistas e abominado por sua lealdade ao regime militar. Mas é uma boa resposta. E agora?

Agora o Brasil bonzinho vai fazer o de sempre: passar ao largo do debate e choramingar contra a direita. Eis um caminho de risco zero. Processar Bolsonaro, o vilão de plantão, é vida fácil para os burocratas do humanismo.

No reinado do filho do Brasil, até o nosso Delúbio, com a boca na botija do mensalão, gritou que aquilo era uma conspiração da direita contra o governo popular. O filão é inesgotável.

Cutucar o conservadorismo destrambelhado de Bolsonaro é atração garantida. Mas censurá-lo em seguida não fica bem. Parece até coisa dos antepassados políticos dele. A metralhadora giratória do capitão dispara absurdos, mas não está calibrada para fazer média com as minorias – e isso é raro hoje em dia.

De mais a mais, se manifestantes negros podem tentar barrar um bloco carnavalesco que homenageia Monteiro Lobato, por que um deputado de direita não pode ser contra o orgulho gay e as cotas raciais? Vai ver o preconceito também virou monopólio da esquerda.

3 comentários:

Unknown disse...

A Esquecida Polissemia dos interesses Sociais.

Ultimamente não se discute nem se opina sobre política sem a idéia abstrata, obscena e dominadora da trilogia ideológica: Esquerda, Centro e Direita, tão radical que tende ao “lateralismo” onde o ser político deve estar sobre um ringue para poder opinar... ...Pois essa é uma deformação herdada da Burguesia política dos últimos dois séculos, mas que, por interesses atuais, os nem tão burgueses políticos ainda cultivam.

Esse é o mal maior da política, mas não deveria, pois a evolução do “homem antropológico” deveria induzi-lo a ser representado, nas inter-relações sócio-políticas, por suas idéias, por sua cultura por seu caráter, por sua capacidade de distinguir as “verdades absolutas das relativas”. O grau de sua sapiência em perceber o que ocorre ao seu redor é que deveria diferenciá-lo.

Esquecemo-nos de que as tendências às políticas de objetivos sociais são polissêmicas apontando para todos os quadrantes de interesses, comparável a uma “Rosa de ideologias” formadora da contradição aos fundamentos naturais do desenvolvimento social... ...Enquanto este é a “base para organização e harmonia da sociedade moderna” a polissemia de interesses é a natureza do ser antropológico interagindo na sociedade e não permitindo freios a esse princípio, que contradiz a deformada “trilogia ideológica”, m as admite a “moderação”......

Precisamos, portanto, avançar, pois estamos atrasados e se não nos aligeirarmos vamos estagnar no avanço da Cultura política e Geral!

Carlos Mello disse...

"Estamos na época dos "panfletários a favor" (a expressão não é minha), em que todos os articulistas e formadores de opinião caem de pau sobre o que chamam vagamente de 'direita". Em alguns casos, o epíteto se dirige a quem não esposa suas ideias; em outros, a quem denuncia as safadezas dos que estão no poder; e na grande maioria, a quem fala alguma coisa que não seja o mantra laudatória ao PT dos petelhos. Assim fica difícil, gente. Como vamos elogiar as medidas certas - que há, sem dúvida - dos governos petistas, se não podemos senão elogiar tudo, em bloco, sob pena de ser acusado de heresia direitista? Somos o país da piada pronta, segundo o Simão. E também da opinião pronta, repetida um bilhão de vezes pela mídia amestrada. Um nojo. Então, lá vou eu, que nunca fui de direita, dar meu grito e entrar pro paredão: Viva o Bolsonaro! Carlos Mello

Unknown disse...

Sinal de Tempos...

Estamos presenciando um surto de manifestações de desagravo proliferando na mídia, que são, no mínimo, estranhos... ...Pois me causam estranheza quando desagravam: Lula, Dilma, José de Alencar, Sarney, Aécio Neves, Tarso Genro, Bolsonaro, agora Cabral... ...E as perdas materiais e morais que seguimentos da sociedade sofrem pelas ações desses agentes públicos? Quem os agravará?

Onde fica a dignidade da sociedade presenciando esta extemporaneidade de uma pregação, no mínimo, nebulosa. Em que adiantará, no "vago do Tempo e do Espaço", dizerem impropriedades quando, muitos desses, agora desagravados, cometiam seus crimes... ...Por que viram as costas à “verdade”, que jaz copiosamente profanada?...

Poucas pessoas, “do bem” ou que se dizem do bem, ignoram quem eles realmente são no contexto político. Como supor que a Imprensa e seus Agentes os ignore, pois que não são idiotas... ...ou são? A lógica desse procedimento me leva crer que agem dessa forma conscientemente!

Esses procedimentos estapafúrdios e surrealistas aparentam ser um sinal de tempos malignos que se aproxima e que me assusta... ...Receio que sejam as profundezas do inferno revirando suas entranhas para mostrar o mal que se acumula há tanto tempo...