segunda-feira, fevereiro 21, 2011

O Brasil Anedótico


O Guarda-chuva do Padre Severiano


A pasmaceira reinante. O "déjà vu", o nada de novo no front, os ronaldos salvadores da Pátria, o carnaval carioca, a gente se vendo na Globo, et caterva, nos incitam à um exercício de imaginação. Semanalmente iremos postar textos interessantes de vários autores do passado e tentar em gotas homeopáticas, reviver um pouco os tempos áureos desta terra Pindorama, dita Das Palmeiras. Um exemplo curioso é esse texto de Humberto de Campos em seu livro, "O Brasil Anedótico".


Humberto de Campos

De regresso de Paris, onde deixara a batina, o padre Severiano de Rezende surgia uma tarde, à rua Gonçalves Dias, trajando jaquetão claro, chapéu de palha, flôr à lapela, mas tendo à mão, em conflito com aquela meia elegância, um guarda-chuva de cabo torcido. Ao encontrá-lo à porta da Confeitaria Colombo, Emílio de Menezes abriu os braços para estreitá-lo:

- Estás belo, padre, assim à paisana!

- Achas?

- Decerto

E olhando melhor:

- Agora é só a bengala que traja à clerical.

- Que bengala? Estranhou o ex-sacerdote. Isto é um guarda-chuva...

E Emílio:

- Pois é isso mesmo: que é um guarda-chuva senão uma bengala de batina?

"Discurso na Academia Brasileira de Letras, 8 de maio de 1920"

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