Djanira Silva
Este é o momento, pensou. Seguiu o som dos suspiros, o barulho das folhas secas amassadas e disse, comigo foi assim. Abriu a porteira. A sombra de corpos abraçados repetia em movimentos embalados no ritmo perpétuo, ritmo que não muda com o tempo. Parou. Reconheceu a estrada, o caminho que agora, como um imã, a trazia de volta carregando a dor da liberdade. De que lhe servia ser livre se não tinha quem ocupasse os espaços vazios? Um sentimento forte, destruidor feito um grande incêndio percorreu seu corpo. O coração estremeceu. Ouviu sinos. Onde seria o incêndio? Quantas décadas decorreram desde a última e grande emoção? Quantas? Extinto o incêndio, a alma em cinzas. Na torre o silêncio dos sinos. Voltou à realidade. Julgou ouvir pássaros e sereias.
Continuou a subir.
A estrada esperava, sempre esperou. Um casal de jovens passa abraçado. Murmúrios, risos. Lembrou dos antigos encontros. Olhavam-na numa cumplicidade como se soubessem dos seus segredos. Passou a mão no rosto enrugado recolheu as lembranças.
Queria, mas não conseguiu chorar.
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