terça-feira, dezembro 14, 2010

Inabilitados para opinar

Do Blog Generacion Y

Estudou medicina, colocou o uniforme branco e entrou num hospital para exercer sua especialidade acreditando cegamente nos postulados de Hipócrates. Num primeiro momento – imbuído pela fascinação das células, dos músculos e dos tendões - apenas notou que seus colegas andavam com os sapatos remendados e ele mesmo não alimentava a família com o que ganhava. Viu muito nesse hospital de Artemisa: a grandeza profissional de alguns e o descalabro material de todos. Num dia de 2005 foi anunciado com fanfarra que aumentariam o salário dos trabalhadores da saúde. Contudo, apenas 48 pesos – o equivalente a 2.00 CUC ou 1.60 US$ - foram somados ao seu magro soldo mensal.

Foi assim que escreveu uma carta junto com um amigo comunicando ao ministro do seu ramo o inconformismo dos médicos ante tão ridículo aumento. Conseguiram captar 300 assinaturas que entregaram no Ministério da Saúde, no Conselho de Estado e em quantos órgãos de poder existentes nesta Ilha. A resposta chegou algumas semanas depois na forma de expulsão da especialidade que exerciam. Cinco meses mais tarde ambos foram despedidos do trabalho e tiveram inabilitados os seus títulos universitários. Já se passaram cinco anos daqueles fatos, porém nenhum dos dois pôde voltar a atuar como médico.

Na semana passada, Geovany Jiménez Veja – protagonista e vítima desta história – decidiu entrar em greve de fome no parque Martí de Guajanay para reclamar, ante a Direção do Ministério de Saúde Pública, a reabilitação dele e do seu companheiro, o Dr. Rodolfo Martínez Vigoa, no exercício da medicina. Nesses mesmos dias o noticiário cubano mostrava a greve dos controladores na Espanha e os protestos dos trabalhadores na Grécia; dois homens se consumiam muito próximo de nós e não nos inteirávamos. Ontem, afortunadamente, voltaram a comer porque Geovany decidiu fazer um blog, contar ao mundo, não optar pela inanição, mas sim pela informação. Percebeu que aquela carta que só uns poucos assinaram poderia recolher milhares de adesões se passasse a ser pública, se chegasse a todos os doutores capacitados e não privilegiados que este país tem.

Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto

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