sexta-feira, novembro 19, 2010

Perspectivas (nada alvissareiras) para o Brasil

José Virgolino de Alencar

A vitória da candidata Dilma Rousseff nas urnas e dentro do processo democrático brasileiro, que mesmo atropelado por circunstâncias nada alvissareiras, caminha para uma consolidação, não se vislumbrando perigo de golpe ou garroteamento das instituições.

Porém, não há segurança de que a vitória, no contexto em que foi lançada, desenvolvida e exitosa nas urnas, represente alguma perspectiva de melhora para o país. A candidatura de Dilma e a campanha, com o entorno que a empinou com pilares eleitoralmente seguros, mas moralmente duvidosos, não garante um governo eficaz para o país, dado o saco de gatos da coligação e as velhas farinhas do mesmo velho saco brasileiro onde vicejam as figuras da pior qualidade de homens públicos que formam a base de apoio da candidata vitoriosa.

O PMDB, que desde a implantação da chamada Nova República lançada por Tancredo Neves, mas entregue à figura inconfiável de Sarney, é um partido da base parlamentar de todos os governos de lá pra cá, abiscoitando sempre os ministérios de maior força, força esta vinda das gordas verbas com que eles contam, certamente imporá sua velha estratégia de mando.

Os ministérios dominados pelo PMDB caracterizaram-se por agir à margem das diretrizes do governo, adotando caminhos, planos e ações próprios, administrando os setores importantes da infraestrutura, onde estão as grandes obras, sempre faraônicas e nada subordinadas ao interesse do desenvolvimento do país, obras, inclusive, que se arrastam pelo tempo, muitas abandonadas inconclusas, depois de se gastar quantia superior ao orçamento projetado, ou seja, foram contaminadas pelo superfaturamento, engoliram todos os recursos e ficam os trambolhos desprezados e ninguém dá satisfação a ninguém.

O PT, que se considera o partido do governo, porquanto a candidata é dos seus quadros, limitou-se a rasgar a sua cartilha, abraçar o modelo do mercado neoliberal globalizado, acatar a política monetária adotada a mão de ferro pelo Banco Central, devidamente sintonizada com o capital financeiro nacional e estrangeiro e, sob pretexto do pragmatismo da governança transformou-se em praguismo da comilança, acomodando-se nos cargos públicos bem-remunerados, onde não realizam política pública nenhuma.

As demais siglas aliadas do governo, velhas sanguessugas do tesouro nacional, ficarão na encolha, caladinhas e fazendo o que melhor sabem: sugar as tetas da vaca leiteira em que se transformaram os caixas públicos e pelo ralo da corrupção, às escondidas, escorrerão muito dinheiro para os seus respectivos grupos.

Toda essa gente e seus condenáveis procederes continuarão perpetrando as mesmas bandalheiras, o país viverá dos restos que o banquete das grandes potências mundiais mandarão para cá, um grupo privilegiado de brasileiros, no máximo 10% de 185 milhões de habitantes, conseguirá aumentar seu patrimônio, escondê-lo nos paraísos fiscais, permanecendo incólume a má distribuição de renda, o fosso entre ricos e pobres.

Para estes, os pobres, à medida que indispõem de quaisquer meios de obter rendimento, vão sendo consolados com esmolas, não lhes fazendo chegar educação e saúde, informação e esclarecimentos que lhes proporcionem formação, ficando como manada de bovinos no curral, sempre à disposição dos caciques políticos como matéria prima para uso na indústria eleitoral.

Essas são as perspectivas do Brasil, o novo governo não vai mudar nada, a cantilena será a mesma, o país caminhará desse nada para coisa nenhuma, nada de novo surgirá, as caras e o discurso na mídia serão as mesmas e os nossos ouvidos, queiramos ou não, serão meros urinós a receber a velha e suja micção de seus políticos.

Essa é a sina de nosso país, que ouço e vejo há 50 anos.

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