Delmar Fontoura
A Gênese
Ó Camões! Como tu és em culpa responsável por teres declamado em loas as virtudes lusitanas, que aqui não chegaram, pois nos trouxeram, em Naus e Caravelas, junto a ratazanas, que por certo aqui desembarcaram só as Nevoas sujo-escura, sujas, que de certo não se fazia ver em teu Castelo de Belmonte nas terras de Beira Baixa!...
I
Mas foram de Cabral
As Caravelas, em que
Da gênese, vindas, aqui chegaram.
Em lusitanas terras concebidas,
Mas aqui nascidas e crescidas
As nevoas sujo-escura, sujas!...
II
São as ondas e o mar de Caymmi,
Que sem o Mestre se contradizem agora
Uma que morre em marolinha... O outro
Que não leva mais das praias
As nevoas sujo-escura, sujas!...
III
São o Tempo e o Vento de Veríssimo,
Que sem o Mestre se contradizem agora
O que o tetra-entrevado não leva
E o que não sopra a longe
As nevoas sujo-escura, sujas!...
IV
São os versos diversos sem Drummod;
São as letras sem as rimas de Vinicius;
São as melodias sem o “tom” de Jobim;
São letras e melodias sem a voz de Elis;
São verdades não ditas nas letras de Roberto;
São os encaracolados de Caetano que se alisaram;
São as “línguas soltas” de Gilberto que se travaram;
Que sem os mestres se contradizem agora,
Mas que agora os ausentes nada podem e
Os indiferentes se dignam com
As nevoas sujo-escura, sujas!...
V
Tristes lembranças dos tempos,
Não sei se piores em que havia esperança.
Que tristes contradições dos tempos
Com certeza agora piores, sem esperança, com
As nevoas sujo-escura, sujas!...
VI
Que saudade da sábia coragem atrevida de um Ulisses;
Que saudade dos acomodados bastidores de Tancredo;
Que saudade das inconseqüências de Brizola;
Que saudade dos gritos das Diretas Já;
Que saudade dos Caras Pintadas;
Faltam agora os gritos de decência já;
Faltam corações e almas pintados de verde e de amarelo
As nevoas sujo-escura, sujas!...
VII
Mas nada disso adiantaria agora sem os Mestres;
Sem aquele desarmamento de armas e alma;
E sem os nobres reconhecimentos dos erros, com
As nevoas sujo-escura, sujas!...
VIII
Agora é a vez dos “vermes”
Se banquetearem com o que jaz
Inerte, sem as sábias vozes e letras,
Em agonia, imperfeito sim, mas o meu País.
Não se tem mais o reconhecimento do erro,
Não importa se implícito ou explicito, com
As nevoas sujo-escura, sujas!...
É a gênese lusitana confirmando o meio entre o princípio e o fim!...
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