quarta-feira, novembro 24, 2010

AI QUE SAUDADES DA PANAIR!…

Peguei emprestado no Blog: http://www.aguinaldosilvadigital.com.br/2010/?p=1492

Aguinaldo Silva

A primeira vez em que viajei de avião foi num Douglas DC-8 igual a este que vocês viram na foto aí de cima. Ele era da Panair – of course! – , a icônica empresa aérea brasileira, a maior de todas, vilmente destruída pelo jogo de interesses que habitava os subterrâneos da ditadura militar: a Panair dava lucro, suas agências espalhadas pelo mundo eram verdadeiros consulados brasileiros, mas ela foi fechada e proibida de voar do dia pra noite, sem maiores explicações, num processo sumário que permanece em mistério até hoje.

Ah, na Panair principalmente, mas em quase todas as empresas aéreas: como era bom voar naquele tempo!… Os aviões eram menores, porém, estranhamente, eram muito mais espaçosos. E voavam a menor altura, mas não enfrentavam tantas turbulências como os super-jumbos enfrentam hoje. Você se sentia acarinhado, paparicado, considerado, e não como uma espécie de frango num garajau improvisado, que é como nós, passageiros de aviões, nos sentimos nos vôos de agora.

Por que estou escrevendo isso? Porque, nos últimos tempos, vivo praticameante na ponte aérea, estou sempre descendo de um avião para subir em outro… E o pior é que minhas viagens não são na execrável rota Rio-São Paulo, mas pra Lisboa, Paris, Nova Iorque ou qualquer outra dessas cidades que, quando se sai do Rio de Janeiro, não ficam a menos de nove horas de distância… E aí, passar nove horas naquele espaço minúsculo – estou falando da classe executiva, já que a Primeira Classe na maioria das empresas aéres, ó: já era -, com o avião a balançar como se fosse um pau-de-arara na rota Bodocongó-Juazeiro do Norte… Bem, Joana Darc que me desculpe, eu sei que ela foi queimada na fogueira… Mas o martírio de viajar de avião pra nós é maior que o dela!

Em matéria de inovações nas viagens aéreas o objetivo parece ser apenas um: aumentar a sensação de claustrofobia e desamparo do passageiro. Não vou nem falar da comida péssima (sai dessa, Dânio Braga, teu nome está em jogo!), das atendentes que fazem bico o tempo todo, dos comissários que batem na porta do sanitário se você demorar lá mais do que 45 segundos… Não: vou falar de medidas explícitas, como decidir que o pessoal da classe executiva – 32 pessoas ao todo – tenham direito apenas a um sanitário, já que o outro fica fechado e só pode ser usado pela tripulação do assim chamado “aparelho”, ou seja: você paga uma fortuna pra viajar com mais conforto, mas mesmo assim tem que entrar na fila pra fazer xixi… E, uma vez dentro do banheiro, não se atreva a baixar as calças, porque não pode demorar lá mais que um minuto!

Enfim: como Milton Nascimento, Elis Regina e milhares de outros brasileiros, eu viajei nas asas da Panair e morro de saudades delas. E não me conformo com o fato de estar num avião, a dez mil metros de altura, e ter a sensação de que estou num galinheiro improvisado da favela.

Diante das viagens aéreas de hoje em dia, talvez fosse melhor voltar aos tempos das carruagens!

(Ah sim: aos antigtos funcionários da Panair, que insistem em manter acesa a velha chama da empresa, a minha solidariedade eterna).

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