segunda-feira, outubro 04, 2010

O Aeroclube


MARCUS ARANHA

A Assembléia Legislativa poderá discutir um projeto para transformar a área do Aeroclube da Paraíba em parque urbano, à semelhança do Ibirapuera em São Paulo.

O Aeroclube ocupa trinta hectares no meio de uma área residencial no bairro do Bessa, hoje uma das mais densamente habitadas da cidade. É lá que, em meio aos edifícios residenciais, está o “Aeródromo José Targino Maranhão”.

Embora se saiba que ele pilota pequenos aviões desde a década de 60, só batizaram o campo de pouso com o seu nome depois dele eleito Governador da Paraíba, numa prova evidente que a coisa não foi uma homenagem de companheiros aeronautas ao colega piloto experiente, mas sim uma bajulação servil à autoridade política máxima no Estado, de cuja caneta podia brotar favores, benefícios e nomeações.

Dizem que os 30 hectares do aeroclube estão a servir a três aviões velhos e a uma dúzia de pessoas privilegiadas. Quantos são aviões e pilotos do Aeroclube não sei, mas tenho certeza que não são nem 0,1% dos que seriam beneficiados com lazer na nova área.

João Pessoa está precisando de um novo parque. Era bom que o aeroclube se fosse de mudança e os trinta hectares dele fossem transformados num parque como o “Parque da Cidade” em Brasília: gramado e árvores!

No meio delas, quadras de esportes, área para piquenique, ciclovia, lugar para armar redes, trilha para caminhadas, churrasqueiras à disposição do povo, área para realização de shows, um teatro de arena, um pavilhão para exposições e outros babados.

João Pessoa, apesar de Segunda Cidade Mais Verde do planeta está a precisar de mais verde ainda para compensar o que vem sendo desmatado para construção de conjuntos habitacionais. O novo parque vem a calhar e encaixa em João Pessoa mais certo que dedo mindinho na venta.

E tem mais. Esse negócio de avião subindo e descendo entre os prédios do Bessa pode terminar em tragédia. Imagine um teco-teco daqueles entrando pelas vidraças de um apartamento, repetindo em miniatura a tragédia do 11 de setembro no World Trade Center.

Há um advogado do Aeroclube requerendo que a Justiça mande desocupar e por abaixo, dezenove edifícios que estão no “cone de vôo” da agremiação. Pelo que entendi o tal cone de vôo é o espaço por onde os aviões sobem ou descem e deve ter no mínimo quatro quilômetros!

Aí é dose! O cidadão contrata com uma construtora comprando um apartamento para morar com mulher e filhos. O prédio vai sendo construído com licença formal e legal da Prefeitura e o cidadão pagando com o suor do rosto. Um dia lhe entregam a chave, ele se muda feliz da vida, pois vai deixar de pagar aluguel. Continua pagando as prestações, mas alegre por estar pagando o que é dele.

Aí vem o advogado do Aeroclube e consegue mandar derrubar o prédio onde está o apartamentozinho dele, deixando-o no meio da rua. Somente pra que uns pouquíssimos ricos donos de aviões, nos domingos e feriados, possam sair de suas mansões e subir em segurança em suas aeronaves, sem nada na frente delas, com muito espaço no cone de vôo, inclusive aquele cabível às barbeiragens que possam cometer no comando de seus maravilhosos brinquedos voadores.

Ou para que desportistas, alunos de pilotagem, pára-quedismo ou aeromodelismo, possam ser treinados. Ora, tudo isso pode ser feito longe do Bessa, em completa segurança, numa nova área disponibilizada pela Prefeitura. Bem distante dos pobres mortais que, sem ter aviões, contentam-se em subir às alturas no elevador que serve ao prédio de apartamentos onde moram.

Pois é... Levem o aeroclube para longe da gente e venha o parque!

Um comentário:

Fábia disse...

Que possamos ter os parques para compensar a quantidade de aranha-céus e fazer justiça ào que se diz ser a cidade de J.Pessoa: a segunda mais verde do Mundo?
E que os aviõeszinhos possam voar sem obstáculos. Concordo que o sol deve brilhar para todos.
Abraço,
Fabia Livia