Ipojuca Pontes
1 - O mundo digital, vertiginoso, avança como um maremoto incontrolável. Acabo de receber pela Internet um vídeo que se presume da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt sendo estuprada num cativeiro por supostos integrantes do exército das FARCs, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Seja ela quem for, são imagens de barbárie explícita, captadas por um cérebro doentio - digo, possuído pelo rancor e animalidade.
No desenrolar das cenas, por vezes opacas, vemos doze homens abrutalhados, arquejantes, violentando a mulher indefesa. Os guerrilheiros estão encapuzados ou usam máscaras, mas o rosto da vítima expressa impressionante mescla de angústia, sofrimento e dor. Seus gritos são aflitivos, capazes de levar qualquer espectador à comoção. Para rever, eliminei o som.
Os homens estão vestidos com uniformes verde-oliva, calças arriadas. Vez por outra a câmera pontua o bacanal macabro flagrando a imagem de um prato de frutas tropicais, num contraponto de puro nonsense.
Pode-se desconfiar da autenticidade do vídeo? Ele não seria obra, por exemplo, de encenadores? Sem dúvida, mas acho pouco provável, pois o vídeo se apresenta como uma prova elaborada por quem tem certeza do que faz e projeta, ou seja: atingir um alvo específico (familiares) e traumatizar adversários vacilantes. De todo modo, falso ou não, nele não há nenhum traço de erotismo ou pornografia.
Como se sabe, Ingrid Betancourt, ex-senadora “politicamente correta”, filha de diplomata formada em Ciências Políticas, em Paris, foi seqüestrada em 2002, sendo resgatada em 2008 numa operação planejada pelo exército colombiano, que tinha como ministro da Defesa, à época, o recém eleito presidente Juan Manuel Santos.
A boa pergunta: como teria chegada tal monstruosidade à Internet? Um vazamento da área de segurança do próprio governo colombiano? Tudo é possível, menos a hipótese da distribuição do vídeo pela ex-senadora Ingrid Betancourt, que, intempestiva, depois do extraordinário resgate, voltou-se contra o governo colombiano.
O certo é que esse vídeo vai perturbar o mundo, tal a sua violência. De minha parte penso que, mesmo de origem duvidosa. se faz urgente o envio de copias aos editores da mídia, bem como aos “nossos” representantes no Congresso Nacional.
2 – Uma outra notícia fulminante, a circular na Internet, diz respeito a morte imprevista de Yves Hublet, escritor de livros infantis que, à época do escândalo do mensalão, acertou algumas bengaladas na cabeça do ex-Chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, hoje mentor da candidata à presidência da República Dilma Rousseff.
A notícia dá conta de que em maio passado, Yves Hublet, que estava residindo na Bélgica (tinha dupla nacionalidade), veio ao Brasil tratar da publicação de um livro. Ao regressar, fazendo escala em Brasília, o homem das bengaladas foi preso e mantido incomunicável. Mas logo adoeceu e, dizem, morreu de câncer no dia 26 de julho último, sendo o seu corpo cremado em Brasília.
Segundo o informe, depois da cena das bengaladas, transmitida ao vivo pelos noticiários televisivos, o escritor curitibano enfrentou alguns problemas e resolveu sair do país.
É estranho que a grande imprensa não tenha se reportado ao fato. Afinal, Yves Hublet foi transformado em celebridade da noite para o dia. De fato, ele foi louvado por boa margem da população ao punir com bengaladas o ex-Chefe da Casa Civil .
Pergunta final: por qual motivo os jornalões não noticiaram sua morte, pelo menos como retranca do Obituário?
3 - Ainda na Internet dou de cara com uma entrevista do falso ator Sérgio Brito, um canastrão sem voz e sem alma, que há décadas vem parasitando em cima (e por baixo) do teatro tupiniquim. Numa entrevista concedida a fofoqueira Globo News, ele diz:
- “O Ipojuca sempre procurou me prejudicar. Quando o Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB, estreou em 1981, ele conseguiu fazer com que eu não ficasse lá. Inventou tudo que pôde. Inventou, até, que eu tinha falado mal da mulher do presidente do Banco do Brasil. Eu não conhecia o presidente do Banco do Brasil – nem o nome da mulher. Criou-se uma situação impossível. Tive de sair”.
Além de canastrão, Sérgio Brito é um mentiroso compulsivo. Se ele, que trabalhava no CCBB, não conhecia o presidente do Banco do Brasil, muito menos eu, que tenho horror a banqueiros. O que de fato ocorreu foi o seguinte: em 1989 (e não em 1981), fazendo uma análise da cultura brasileira na era Sarney, para o jornal O Estado de São Paulo, escrevi o seguinte:
- “A idéia de fazer arte a partir do usufruto das benesses oficiais é uma constante para certa camada da vida artística brasileira. Periodicamente, a cada oportunidade, durante congressos, encontros, festivais ou entrevistas, os ativos membros da fauna proclamam aos quatro ventos a necessidade de maior participação (no fundo, intervenção) do Estado na área da cultura. Em tais ocasiões, como num canto coral, os membros da fauna reclamam por maiores verbas públicas, sem as quais – bradam com fúria – o Brasil perderia, como nação, sua própria identidade”.
- “Mais do que simples fauna – continuava eu –, trata-se de verdadeira “casta de serviço”, particularmente empenhada no desfrute do mecenato estatal para consecução de projetos pessoais desde a chegada, no Brasil Colônia, do fugitivo D. João VI com seu entourage de 15 mil cortesãos”.
- “A violência das relações estatizantes na atividade teatral é confirmada pela forma como foi concebido o funcionamento do Centro Cultural Banco do Brasil - o mesmo banco cuja folha de pagamento anual dos funcionários eleva-se acima de US$ 15 bilhões, isto é, mais de uma vez e meia o valor do pagamento do serviço da dívida externa em 1988, considerada por todos uma carga insuportável para os ombros da nação”.
No caso específico da demissão do falso ator Sérgio Brito, ela deu-se a partir das seguintes linhas:
- “Pois bem: o CCBB, instalado numa área cuja reforma ultrapassou a casa de US$ 3 milhões, sem consultar associações, entidades, empresariado da área ou criar conselho temporário, e amparado em tributos provenientes de todo território nacional, concentrou nas mãos de uma só pessoa – o ator Sérgio Brito – o orçamento anual de milhões de dólares, o que o torna um ser todo poderoso, embora represente apenas uma tendência do teatro carioca. A fórmula de atuação cultural (que é a de financiar a fundo perdido e sem aprovação de um conselho pluralista, espetáculos cujo orçamento médio varia em torno de US$ 100 mil), coonestando a ação monopolista e evidenciando a prática do dumping econômico, fatalmente levara à marginalidade o empresário que não contar com tais benesses”.
- “O privilégio torna-se mais acintoso quando o próprio Sérgio Brito, entronizado como o novo czar que detém as chaves do tesouro informa ao jornal “O Globo” (4/10/89) que pretende montar com o dinheiro público “um texto do auge do surrealismo capaz de espantar qualquer patrocinador com sua associação de imagens inspirados em órgãos sexuais, cogumelos e outras formas”.
Como por milagre, em plena era Sarney, ao ler tais linhas, o presidente do Banco do Banco do Brasil (ou talvez do próprio CCBB), que nunca vi mais gordo, demitiu o mentiroso canastrão.
E a partir daí o Centro Cultural Banco do Brasil passou a funcionar de modo democrático, como recomenda a boa ética.
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