sábado, maio 01, 2010

SUPERPOPULAÇÃO: COMPROMETE A SUSTENTABILIDADE???


Recebido do Breno Grisi:
Caso ache pertinente... e na devida oportunidade, este artigo de maio de 2009 pode ser um atendimento parcial à sugestão de Carlos Melo.

Deverei participar de painel sobre Biodiversidade, no auditório do Hotel Tambaú, em primeiro de junho, em comemoração ao dia do meio ambiente, a convite da Sudema. Falarei por irrisórios 15 minutos sobre a "improbabilidade de sucesso em conciliar crescimento populacional humano sem controle com conservação da biodiversidade". Deverei também escrever algo mais sobre controle populacional que poderá ir "direto para o blog do Hugão". Abraço, Breno

"Optimum Population Trust"
"Towards environmentally sustainable populations"

6.836.207.421
6.836.278.034

Os números que vemos acima foram registrados a partir do “tic-tac” do Relógio da População Mundial: o primeiro foi registrado às 10 horas e oito minutos, na manhã deste domingo, 17 de maio de 2009; e o segundo, ainda no domingo, mas às 17 horas e 26 minutos. Esta contagem refere-se ao crescimento da população humana no nosso planeta, sendo mostrada em tempo real no site http://www.optimumpopulation.org/. Este é mantido pela “Optimum Population Trust” “towards environmentally sustainable populations”, que significa literalmente, Fundação da População Ótima, direcionada a populações ambientalmente sustentáveis. A velocidade com que os números aumentam impressiona tanto quanto a velocidade com que nos deparamos diariamente com os problemas mundiais. Acrescentem-se aos problemas da rotina diária mundial da luta pela sobrevivência, os impactos ambientais (os “acidentes de percurso”) que nos acostumamos a chamar de tragédias: secas, tempestades de neve, chuvas torrenciais, enchentes, terremotos, incêndios em florestas, furacões etc. E no meio dos eventos geoclimáticos, o ser humano que “quando escapa com vida de tais tragédias”, corre o risco cada vez maior de morrer de fome ou como vítima da assistência precária de governos para amenizar seu sofrimento. Pelo menos é isso que acontece com a maioria, pobre. Fatos estes aos quais também nos acostumamos. Isto sem falar da má qualidade de vida, que a cada dia atinge parcelas maiores da população mundial. Nossos recursos naturais (a fonte de vida do planeta) estão sendo consumidos em taxas que vêm se tornando difícil serem mantidas nos “níveis sustentáveis”. O consumo dos recursos aumenta nas classes sociais de maior poder aquisitivo. A parte melhor desses recursos: para os ricos. A sobra: para pobres e miseráveis. A má distribuição de renda e o aumento no número de pessoas ditas pobres (se não miseráveis), que consomem apenas um mínimo, formam o quadro geral da dificuldade em se manter a sustentabilidade com boa qualidade de vida (é bom não esquecermos!). Um paradoxo: estatísticas mundiais revelam que as taxas de natalidade vêm caindo espontaneamente. Estima-se que dois terços dos casais nos países em desenvolvimento utilizam controle de natalidade. Bangladesh e Irã são exemplos de que se for dada oportunidade às pessoas, estas terão menos filhos. Ações coercivas de controle da natalidade, como a praticada na China, em que as pessoas são pagas para não terem filhos, vêm sendo abandonadas devido a resultados duvidosos e por gerarem conseqüências trágicas (um exemplo: bebês do sexo feminino abandonados por representarem “prejuízos como força de trabalho”).
Segundo a especialista Debora Mackenzie, consultora da revista inglesa New Scientist, na Ásia e América Latina cada mulher gera, em média, 2,5 bebês. A maioria das mulheres afirma que gostaria de ter menos filhos. Um em cada cinco nascimentos e 36 milhões de abortos nos países em desenvolvimento não aconteceriam se às mulheres fosse dada a chance para que tal não acontecesse.
A ONU prevê que no ano 2050 a população mundial atingirá 9,2 bilhões. Mesmo que cada mulher venha a gerar a partir de agora, apenas duas crianças, a população mundial será de 8,5 bilhões. Um excesso às condições de sustentabilidade com boa qualidade de vida. Em alguns países, como na África, calamidades como a AIDS têm levado famílias a aumentarem sua prole, uma vez que mais filhos significam compensação pelas que morreram e maior ajuda na sobrevivência no campo. SE as meninas de países em desenvolvimento tivessem maior e melhor acesso à educação, é bem possível que os excessos de nascimentos pudessem ser controlados; ou seja, meninas teriam a oportunidade de entender melhor seu papel na sociedade, igualando-se à força de trabalho masculina, não gerando filhos precocemente (no início da puberdade, como muito acontece hoje) e gerando menos filhos. Quisera Deus que tal acontecesse na África, Ásia e América Latina!!!
O órgão das Nações Unidas “UNFPA” (Fundo das Nações Unidas para a População) prevê que alimento e água são temas críticos para os países em desenvolvimento, devido principalmente à pobreza, instabilidade política, e ineficiência econômica e desigualdade social. Especialmente para os países subsaarianos. A “FAO – Food and Agricultural Organization” (organização para alimentos, também ligada à ONU) prevê que até 2020 a produção de alimentos tenha que duplicar para atender à crescente população mundial.
Educação, planejamento familiar, além de distribuição mais justa da renda, em suma, justiça social, são pontos essenciais para se começar a pensar em controle populacional humano. Enquanto isso não acontece, a observância aos outros aspectos fundamentais da sustentabilidade, como a capacidade suporte dos ecossistemas, deve ser praticada. Antes que seja tarde!

Um comentário:

Carlos Mello disse...

Muito bom. Mestre é mestre. Mas a cada artigo do Grisi despontam novas interrogações e desejos de ver outros temas serem tratados com a mesma argúcia e conhecimento. Um deles, decorrente deste texto, é o desperdício. Aqui perto de casa há duas feiras semanais - às quintas e domingos - e ao final delas vejo quantos caminhões levam para o lixão toneladas de frutas, legumes e verduras que poderiam certamente ser ainda consumidos, por humanos ou por animais, ou destinados à produção de adubo orgânico. Em, minha ignorância, pergunto: se fosse possível - e é! - separar o lixo orgânico e depositá-lo em grandes valões, a serem psteriormente cobertos com terra, esses tais terrenos, ao cabo de algum tempo, não se tornariam férteis? Isso é impraticável? Se não é, por que ninguém faz? São questões que não vejo a mídia abordar, preocupada como vive com BBBs e outras porcarias do gênero. Carlos.