Aline Alexandrino
Bela frase, não? Lembrei dela quando li no blog do Hugão a notícia de Yoani Sanchez sobre o jornalista Guillermo Fariñas, o “Coco”, e o subseqüente comentário de Carlos Mello. Essa frase, na minha opinião, ilustra bem o que anda acontecendo conosco, humanidade, tão perdida e tão sozinha, procurando pela Alma que se foi. A última vez que escrevi para este blog falei de um homem que fazia com que achássemos que éramos os melhores, os mais bonitos, os mais inteligentes, os de mais futuro. Fico me perguntando o que ele acharia do Brasil de hoje, dos mensalões, dos apedeutas, dos aloprados, da “rebolation”, um Brasil sem homens a quem admirar, sem modelos.
Aliás, justiça seja feita, isto não acontece só aqui. Detesto ser saudosista e sei que na minha infância e juventude também aconteciam coisas “por baixo dos panos”, mas pelo menos tínhamos a sensação de que os governantes eram mais responsáveis, que levavam mais a sério o que faziam, que levavam em conta o povo que lideravam. Havia um repasse de valores nas casas, as famílias ainda constituíam uma unidade respeitável e respeitada, o “futuro” era sinônimo de avanço, progresso, dias melhores. Fui adolescente nos anos 50/60 e vivi a euforia do que seriam esses dias. Mesmo com a “redentora” (como dizia o saudoso Stanislau Ponte Preta) nos calcanhares e cercando a praça, havia aquela sensação de que “vai passar...”. Os poetas, escritores, artistas plásticos, atores, e os jovens, lutavam por um espaço de expressão que era estreitinho mas dentro do qual operavam milagres. Os políticos ainda despertavam admiração e não eram, de forma tão evidente, “farinha do mesmo saco”.
Depois da segunda década desisti de Cuba. Não me agradava um homem que não admitia a alternância do poder, e à medida que os dias se sucediam isso parecia exalar um odor desagradável. O tempo foi passando e o odor foi se espalhando com mais clareza. O embargo não justificava certas coisas que ouvíamos e que víamos quando alguém trazia algumas fotos da degradação das cidades cubanas. Algo que me chamava atenção era a agressividade dos atletas cubanos, especialmente os do vôlei que é um dos meus esportes favoritos. Depois soube, por alguém que foi estudar lá, que os atletas tinham regalias tipo casa, comida, roupa, assistência médica, que não eram acessíveis ao povo em geral. E que uma vez que perdessem a competição aquilo lhes seria retirado. Não era a toa que brigavam tanto para ganhar.
Aos poucos a história vai se revelando, mesmo a contragosto. Como diziam os mais velhos, “mentira tem perna curta” e como dizia a minha mãe, “mais depressa se pega um mentiroso do que um coxo”. Agora esses episódios de Zapata e Fariñas. E o pior, com o depoimento execrável do presidente do Brasil, que mais do que outro governante, deveria ser o primeiro a rechaçar tal situação. Há um tempo atrás escrevi que devíamos ter nos dado conta dos sinais antes da primeira eleição: a ida à reunião do FMI, o fato de se aposentar pela perda do dedo mínimo (que não atrapalharia a atividade de metalúrgico), de não trabalhar e ser sustentado pelo sindicato e sei lá por quem mais, de nunca querer ser candidato a um cargo executivo a não ser o cargo máximo do país e otras cositas más. Fico me perguntando se exatamente por isso tudo ele não está sendo na verdade é coerente com a sua trajetória.
Mas ele não foi o único. Elis cantou que “nossos ídolos ainda são os mesmos” e hoje isso não é mais verdade. Aqueles ídolos já não falam mais, já não compõem mais poemas e canções, já não se expõem mais. Não agüento mais ouvir “você não vale nada mas eu gosto de você” e atentados semelhantes. As emissoras de rádio tem uma programação musical lamentável na maior parte dos casos. As de TV nem isso. Os programas musicais simplesmente desapareceram, sem deixar rastros. Os discos e filmes são pirateados antes de chegarem às lojas. Nem vou falar das questões morais. Hoje mata-se com uma facilidade que revela a absoluta falta de valor da vida: humana, animal, e vegetal. A questão ambiental está aí e não me deixa mentir.
Yoani tem razão. Coco já fez o suficiente. O ideal é que pessoas como ele fiquem, permaneçam, incomodem, vivam muito, até pra ver o dia em que a situação vai mudar. Carlos Mello tem razão. Temos que fazer barulho, aproveitar a internet, repassar essas notícias. Tudo que começa acaba. Alguma hora isso muda.
P.S. A frase que dá título a esse desabafo é de Chico Buarque. Pena que ele não use mais esse talento para protestar, como fazia antes...
2 comentários:
O artigo da Aline está ótimo. Lúcido, corajoso e bem escrito.
O Chico Buarque não só se calou como as suas poucas palavras são para o endeusamento da Ilha-Prisão.
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