segunda-feira, dezembro 28, 2009

Mocidade Baiano?

Atenção Paraibanada. Concordam que o nosso Mocidade era baiano?

Lição aos Moços

Do Blog de Ricardo Noblat 28-12-09

Em João Pessoa, no final dos anos 60, havia um baiano conhecido como "Mocidade".

O apelido derivou do seu gosto de participar ativamente no centro da cidade de manifestações políticas promovidas por estudantes.

Era um tipo maduro, inteligente, com razoável cultura e oratória incendiária. Não trabalhava. Vivia de quem lhe pagasse as contas.

Uma vez eleito governador da Paraíba, João Agripino, tio do atual senador José Agripino Maia (DEM-RN), tomou-se de amores por Mocidade.

Admirava seus ditos populares e o raciocínio rápido. Dava-lhe trocados e roupas. E mais tarde ofereceu-lhe abrigo. Mocidade passou a dormir no alojamento da Casa Militar no Palácio da Redenção, sede do governo do Estado.

Quando se sentia aborrecido ou exausto, Agripino relaxava conversando longamente com ele.

Certo dia, o secretário de Segurança Pública telefonou para Agripino a propósito de uma manifestação estudantil que ameaçava escapar ao seu controle.

“Os estudantes estão fazendo confusão no Ponto Cem Réis”, contou o secretário.

O Ponto Cem Réis era uma espécie de Cinelândia de João Pessoa. Equivalia também à Boca Maldita de Curitiba porque era freqüentado por deputados, secretários do governo e políticos de outros Estados em visita à Paraíba.

- Não prenda ninguém - ordenou Agripino, um dos líderes da ala liberal da então extinta União Democrática Nacional (UDN).

“Mas o senhor sabe quem lidera a manifestação, sabe? Quer saber?” – insistiu o secretário com raiva.

E foi logo dizendo antes mesmo de obter o consentimento do governador: “É o Mocidade. Está agitando e falando muito mal do governo.”.

Sem hesitar, Agripino ordenou: “Então prenda ele. Prenda e traga à minha presença”.

Esperto, Mocidade escapou de ser preso. E à noite, ao chegar mais tarde do que de costume para dormir com os seguranças do governador, foi convocado por ele para um encontro na ala residencial do palácio.

“Mocidade, quem paga sua comida?” - perguntou Agripino enquanto acendia um cigarro.

“Bem, é o senhor, não é?” – devolveu Mocidade, desconfiado e à espera do pior.

“Não. Quem paga é o governo da Paraíba”, observou Agripino sem alterar o tom da voz.

Mocidade concordou com um maneio da cabeça.

“Quem lhe dá um teto?” - prosseguiu Agripino, certo de que em pouco tempo Mocidade estaria encurralado.

“Bem, nesse caso é o governo” – ele respondeu. “É isso mesmo”, avalizou Agripino.

Em seguida fez uma pausa, deu um trago no cigarro e encaixou o golpe sem disfarçar mais a irritação: “E como é que o senhor, logo o senhor, tem coragem de ir para as ruas falar mal do governo, do meu governo?”

A resposta não demorou.

Mocidade passou a mão direita sobre os cabelos, tomou fôlego, olhou dentro dos olhos de Agripino e disse – sem empáfia, mas também sem subserviência:

- Sabe o que é mesmo doutor? É que governo foi feito para apanhar.

6 comentários:

Manfredo Caldas disse...

Que 2010 seja de boas realizações.

Nunca soube de Mocidade baiano.

Abraços,
Manfredo & Vanda

Raul Cordula disse...

Hugo,
pelo que sei Mocidade era de Patos, e seu apelido lá, quando menino, era Carne Verde, por ser sarará e por ter a pele sempre vermelha com o sol do sertão.
Do amigo Raul

Carlos Mello disse...

Hugão, o Noblat está enganado quanto à origem do nome de Mocidade, que não se deveu ao fato de ele estar sempre participando de movimentos estudantis, mas de ter sido contratado como locutor-anunciante da antiga Festa da Mocidade, e assim repetir esse nome muitas vezes pelo alto-falante. Abrs Carlim

Ipojuca Pontes disse...

Se o jornalismo político de Noblat, de O Globo, for o apresentado no artigo "Lições aos Moços", sobre o doido "baiano" Mocidade, o leitor deveria recorrer, urgente, ao Procon.

Ele é pura informação enganosa; "Mocidade", um tipo baboso que passava por Bobo da Corte, era um interno na Colonia Penal de Camaratuba, brejo da Paraíba, em meados de 1945. Nasceu naquelas imediações e quem o trouxe para João Pessoa foi o médico da Colonia, Arnaldo Tavares, pai do Serginho, geógrafo e ex-ator do Teatro de Cultura, da família Cordeiro.
Digo isto porque minha mãe, D. Lais, era auxiliar do Dr. Arnaldo e alimentava Mocidade de conselhos e "Baião-de-dois" (grude de feijão com fubá, refeição de luxo, em Havana).
O seu apelido, "Mocidade", foi dado pelo pessoal da Casa dos Estudantes, da Rua da Areia. Certa vez ele começou um discurso assim, na Praça João Pessoa (no início de "carreira", no aniversário da morte do patrono da capital): "Porque essa mocidade moça..." Pronto, foi o suficiente para os estudantes estigmatizá-lo.
De minha parte considerava "Mocidade". com a sua tola oratória, um tipo de doido chato e desagradável. Mas havia controversia. Adolfo Bloch, o visceral dono da Manchete, apadrinhou "Mocidade" e fez dele. no Rio, objeto de gozo público e privado. Depois encheu o saco e mandou-o de volta à Paraíba.
No meu livro "Politicamente Corretissimos", num registro sobre "Os Loucos da Paraíba", traço em duas linhas a piada de Mocidade contada pelo próprio João Agripino, um tipo cavernoso:

Agripino - Mocidade, você é um ingrato. Come, bebe e dorme na minha casa e depois vai atacar o governo em praça pública?...
Ao que Mocidade retrucou: Ora, João. Governo é pra sofrer.

O que é, de fato, engraçado, mas pura fantasia, visto que o poder é a "Alegria dos Homens" - título. por sinal, de um livro sobre políticos paraibanos que, nos anos 1960, ajudei a escrever. Ipojuca

Jorge Zaupa disse...

Hugo, folgo em saber que os ''milico''se pronunciaram.
Alguém tinha que faze-lo. Sair da retórica. Mostrar que ainda tem gente com dignidade. Eles têm a oportunidade que a maioria não tem.
Quanto a sua amiga lá do outro lado do mundo: ela gosta de povo culto, de povo com saúde ou de um povo que está sendo,no dia a dia, ensinado a ser um ''pedinte oficial''. É só ver o bolsa isso, o bolsa aquilo, o bolsa...
Que ela venha ver o que está se passando aqui.
Parabéns, o blog tá com a tua cara. Com conteúdo.

Guy Joseph disse...

Hugão: me desculpe o enxerimento, mas, a versão de Ipojuca traduz a verdadeira origem de "mocidade" e a estória de seu diálogo com o Magro de Catolé. Desde menino, com dez anos, já sabia da existência de "mocidade", "coquinho", "bode-rouco", "macaxeira", "pão-de-bico", entre outros
Feliz ano novo. De novo!
Guy Joseph