Hugo Caldas
Recebo do amigo Breno Grisi, um PDF com um "Safa-Onça" e mil instruções para bem escrever a nossa tão maltratada Língua Portuguesa. Sempre que algo suscita uma controvérsia, por pequena que seja, me faço a perguntinha impertinente: "A quem interessa tudo isso?" É triste a indagação pois, subentende a constatação de que existe alguém com a mão na cumbuca. Ou não estamos no Brasil!? Estranho a destreza, a sede com que correram a modificar compêndios, manuais, cartilhas para que tudo se adequasse aos novos critérios. Imortais, editoras de livros didáticos, muito provavelmente alguém está levando algum por fora. Tem lingüiça por debaixo desse angu. Há algo de podre no reino da dona marta. Essa nova maneira de tratar a Última Flor do Lácio... é de uma inutilidade atroz.
Dizia Manuel Bandeira na sua “Evocação do Recife"
“Foi há muito tempo...”.
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo
Na língua errada do povo
Língua certa do povo...”
Realmente quem faz uma língua é o povo que a fala.
Falas português? Tens certeza?
Olha que na terra de Cabral...
...esparadrapo é adesivo, carpete é alcatifa, alfinete é broche, gari é almeida, calcinha é cueca, camisinha é durex, camiseta é camisola, persiana é estore, crocante é estaladiço, vitrine é montra, pedestre é peão, pessoa jurídica é pessoa colectiva, vaso sanitário é retrete, conquistador é marialva, encanador é picheleiro, usuário é utente, fila é bicha e bicha é paneleiro. Igualzinho aqui, pois não? Sempre foi assim. "Morreu Galêgo," por acaso?
Bernard Shaw disse certa vez que a Inglaterra e os Estados Unidos eram dois países irmãos separados pelo idioma. E, completo eu, não seria apenas uma questão de sotaque, escreve-se e fala-se diferentemente também. Exemplo?
Colour - Color, Labour - Labor, na escrita. Either, Neither, Dance e Gárage, pronúncia aproximada em inglês americano: IDAR, NIDAR, DENS, GÁRAGE e em inglês britânico: Aidar, Naider, Dans, Garáge. Há anos que é assim e nunca ninguém por lá, se deu ao tresloucado gesto de instituir reformas ortográficas e fonéticas. Eles, pelo que eu sei, se comunicam, e muito bem!
Sem querer desmerecer os monges da Idade Média que tanto se esforçaram em copiar tudo que lhes caía nas mãos posto que não havia sido inventada a máquina impressora por Gutemberg que possivelmente dormitava em alguma nuvenzinha cor-de-rosa. Durante os vários anos de trabalho dando aulas de inglês uma coisa sempre me ficou patente. "A língua falada é a mais importante". A linguagem escrita é apenas a maneira pela qual nós tentamos representar graficamente aquilo que falamos. Disse "tentamos" e esta é a mais cristalina verdade. Exemplo?
Alguém já se deu ao trabalho de verificar que escrevemos: Carro e pronunciamos Carru? Escrevemos Manoel e pronunciamos Manuéu? Jornal - Jornáu - Papel - Papéu? Então meus caros, será como no jogo do bicho: vale o que está escrito? Não, "vale o que está falado!"
Tem muito Manoel ou Joaquim em Portugal e África chiando com essa última reforma. Só mesmo em Pindorama é que nós aceitamos sem mexer um dedinho sequer. Herança dos nossos antepassados escravos? Aqui, até refinaria de petróleo nos roubam e fica por isso mesmo. Então, essa bobagem de idioma é no fundo, no fundo, uma bobagem mesmo.
Comunico então aos meus diletos três leitores: Não darei a mínima para essa reforma. Agradeço ao Breno Grisi pela gentileza do envio, mas vou continuar como antes no quartel do Abrantes. Renunciar ao charme do trema, nem pensar! Conseqüentemente não vou subir pelas paredes nem dançar numa só perna para garatujar de acordo com as novas diretrizes. É que não pretendo mesmo escrever, seja uma carta ou um telegrama para os imortais da ABL, muito menos para o apedeuta mor deste país. Também, pudera, ele sente azia quando lê e eu, como bom patriota, devo zelar pelo estômago de Sua Excelência. Melhor deixá-lo ir ao sanitário com o livrinho de colorir. Até porque papel de livros, para ele, deve ter outra serventia.
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Nota: Estaremos temporariamente fora do ar devido mudança de residência. Até a transferência se efetuar ficaremos sem internet. Este Blog e o Bulletin Board também estarão suspensos. Até breve! Hugo
3 comentários:
Concordo, Hugo. Comprei uma gramática com a nova ortografia, mas nem abri para não ficar desatando nó na cabeça.
Vou continuar escrevendo como sempre escrevi, errando, acertando, corrigindo, sendo corrigido, sem me preocupar com prosopopeia gramatical.
Caro Amigo,
Também não estou nem ai para a tal reforma. Conseqüentemente, também não vou abandonar o elegante trema.
Grande abraço
Osnaldo
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