quinta-feira, maio 14, 2009
Rupestre
Dormem, no fundo da alma, sinais, ícones, signos, e outras marcas arcaicas. Às vezes, porém, elas acordam, ganham vida, se revelam. Então aparecem nos muros da cidade, no cimento úmido das calçadas, nos papéis que ficam ao lado dos telefones aonde os falantes escrevem inconscientemente garatujas, nas areias das praias, nas pedras, por todo lugar. São manifestações rupestres, as mesmas que nossos ancestrais pré-históricos faziam para se comunicarem, como a carimbada da mão melada de sangue sobre a parede rochosa da caverna, ou o bisão pintado com carvão e ocre ou as insculturas das estelas celtas.
Assim é esta série de pinturas de Plínio Palhano. Materialmente os quadros são carimbados com matizes de couro de boi melado de tinta, como as mãos eram as mãos do artista antigo. Signaleticamente são referências ao boi, como fez Picasso em Guernica, que ele cita pictoricamente. A iconografia se refere à guerra pela carne e à invocação do guerreiro. À guerra quando a imagem do boi rupestre se manifesta na tela, à invocação
quando signos da cultura religiosa africana sinalizam crenças e ritos.
Trata-se de um trabalho importante, obra de quem se renova sempre, integrante da geração dos grandes artistas do Recife. Um profissional perene que representa a maior tradição da arte pernambucana: a pintura.
Raul Córdula
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