terça-feira, maio 19, 2009

O Humor e o Poder


José Vigulino de Alencar

Acho interessante a reação dos apaixonados lulistas ante as críticas que se faz ao presidente da República e ao PT. Não tendo argumentos para rebater a crítica, lá vêm eles afirmando que o crítico vai morrer de raiva e, querendo ser gaiatos, terminam suas besteiradas com uma orkutiana série de RS’s, significando risos.

Ora, os ilustres aparentemente risonhos áulicos do poder precisam saber que, em época nenhuma, em lugar nenhum do mundo, há humor a favor, não existe humor do poder sobre os opositores. Quando tentam fazer graça a favor, geram mesmo é um sorriso amarelado, nada engraçado.

Por outro lado, no mundo inteiro, quando se abre páginas de humor, e são muitas, encontra-se motivo para rir dos poderosos, porque os verdadeiros humoristas são habilidosos observadores da eterna ópera bufonídea encenada pelos donos e vassalos do poder.

Esse riso faz bem à vida, à saúde, às idéias, ao pensamento, à criatividade. Ideal não mata e nem tira o humor de ninguém. O que tira o humor de certas pessoas são as suas próprias alopradas trapalhices, quando se incluem nas troupes que se aboletam nos palácios e perdem totalmente a noção da realidade. Quando flagrados na parlapatice e vêem exibidas as ridicularias, aí sim, eles perdem o humor, perdem a esportiva, partem para a agressão e ficam fuçando à procura de fatos que desqualifiquem o crítico/humorista.

E não é só o humor puro que tira do sério os poderosos. A palavra, mesmo sem intenção de fazer graça, ao contrário, procurando mostrar fatos e verdades, também arrasa o humor dos totalitaristas, autocráticos, ditadores, imperadores e assemelhados.

Não consta que Brecht morreu de raiva ao, com sua palavra certeira, abalar os alicerces do III Reich. Quem deve ter implodido de ódio foi o ditador Adolf Hitler.

Aqui no Brasil, quem ajudou a defenestrar Getúlio do aparentemente inabalável Estado Novo foi a palavra incisiva e verdadeira do paraibano José Américo de Almeida, numa entrevista ao então jornalista Carlos Lacerda.

Getúlio Vargas, que anos depois voltou ao poder, populista, pai dos pobres e mãe dos ricos, deu um tiro no coração, certamente não pelo bom humor do poder, mas as bem humoradas críticas dos jornais e escribas da época definitivamente destruíram sua vontade de rir. E até de viver.

Tomás Antônio Gonzaga, com seu cáustico humor em cima do Fanfarrão Minésio, não matou de raiva, mas chegou perto, o governador Luís da Cunha Menezes, a quem ridicularizou de modo desconcertante, em suas Cartas Chilenas, que é matéria-prima de nossa literatura.

Na atualidade, humoristas como Zé Simão, Marcelo Tass, Jô Soares, Millôr Fernandes, Marcelo Lyra, com o fino traço do humor inteligente, humor entremeado com um ideal de pensador e não pura gaiatice despropositada, têm, com certeza, estragado a alegria de muitos vassalos que nessa hora não aparecem com seus paupérrimos RS’s.

Enfim, o riso do poder é o riso da hiena, é o sarcasmo que não se peja de vomitar seu escárnio sobre uma situação político-social que, no Brasil atual, joga na exclusão uma massa enorme de gente sofrida.

E isso não tem graça nenhuma.

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