quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Radicalismos sem causa


José Virgulino de Alencar

Desde a queda do muro de Berlim, ruíram, também, muitos ideários políticos e sociais, as lutas ideológicas perderam seu norte e muitos movimentos transformaram-se em radicalismos sem causa. Contudo, no Brasil, como no mundo todo, ainda há gente sonhando em defesa de teorias socialistas e verberando discursos que já tinham perdido a sua força de convencimento em fase bem anterior à derrubada do chamado muro da vergonha.
São muitos os ideólogos que ainda se acham vivendo sob o regime militar, enquanto outros não desceram do palanque das diretas-já, um movimento que empolgou multidões e, além do grito por eleições diretas imediatas, estimulou os oradores a dissertarem sobre outras teses e a defenderem um modelo político incompatível com a realidade econômica do país e até com a formação psico-social do povo brasileiro. As diretas, embora tardiamente, chegaram, mas o mundo foi se globalizando, a economia de mercado adquiriu força e ofere musculatura ao liberalismo, quebrando a onda do Socialismo de Estado. O modelo de regime político estatizante perdeu o fôlego na prática, mas os seus adeptos, como falei, não desceram do palanque e continuam na propagação dos ideais já com um certo sabor de saudosismo. Socialismo de Estado, com a burocracia governamental transformando a estrutura estatal num emaranhado de normas, procedimentos e até de atos sem respaldo em lei formal, onde o agente público faz o que bem quer por não ter o poder limitado por órgão legislativo e nem poder judiciário, pois bem, esse regime de Estado puro, dominador, encontra-se enterrado sob os escombros do muro de Berlim. Muitas cabeças pensantes insistem em bater na tecla da teoria socialista, mas a prática da vida lhes rechaça com o pára-choque da modernidade tecnológica, da universalização e da conformada internacionalização que guia o mundo ideológico, econômico, social, intelectual, artístico e religioso. A tecnologia, com seus erros e acertos, cria e implanta a aldeia global, onde o meu sitio, encravado no que se chamava cafundó, tem hoje parabólica, tv a cabo, celular, computador, que o torna vizinho do Japão, do Nepal, da Groenlândia e dos esquimós. Portanto, as causas que nortearam o ideal socialista perderam consistência que assegure sua concretização na realidade universal atual, transformando-se em radicalismo sem causa, o desejo de criar e dirigir movimentos populares de pressão para mudança do modelo econômico moderno. Esse é apenas um idealismo sonhador, sonho que dificilmente chegará a algum lugar, embora, reconheça-se, não morre. Não desconheço que se deve propugnar por uma alternativa ao modelo concentrador do capitalismo neoliberal, em que as riquezas produzidas tenham uma parcela mais significativa fluindo para as camadas menos favorecidas, retirando uma massa imensa da linha abaixo da qual está a miséria absoluta, inserindo esse contingente na faixa da pobreza com dignidade. Sem isto, é iminente o risco de uma convulsão e da eclosão da pior alternativa, uma alternativa que não tem ideal, mas que tem como móvel a necessidade primária de se alimentar. E quem, ao iniciar o dia, olha para sua família e não tem um pão para alimentá-la, será instintivamente tangido para o gesto de tomar o pão da camada que tem e não aceita dividir espontâneamente. Estimulado pelo primeiro passo na busca forçada por comida, o faminto vai além e toma outros bens da vítima, quando não age com violência em razão do desespero e da revolta pela exclusão. Isto não é teoria socialista, não é tese de revolução de massas, de movimentos ideológicos que defendem modelos de divisão de riquezas por força de regimes estatizantes e autoritários. Na realidade, é mais a defesa da solidariedade humana, dos ideais cristãos que pregam a irmandade e vida digna para o ser que Deus fez com alma e necessidades biológicas, cuja solução de direitos igualitários está na democracia, no sistema de respeito à propriedade e aos bens privados, enfim, no regime de livre iniciativa, com instituições reguladoras fortes, com projetos nacionais que promovam a justa distribuição das riquezas produzidas pelas nações. Fora desse caminho, só vejo a propagação de ideais e radicalismos sem causa e do perigo de se estabelecer o caos, onde todos perdem. Nesse jogo, não tem vitória, nem empate.

Só derrota.

virgulinoalencar@hotmail.com

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