sexta-feira, outubro 31, 2008

Na Casa Da Mãe Joana

Hugo Caldas

Recém saído de uma forte gripe, fui este último fim de semana ao cinema, coisa que não acontecia desde pelo menos a Era Mesozóica. Devo, no entanto confessar, que gosto muito de cinema, mas prefiro não ir. Explico. Na hora em que se apagam as luzes aquela sala escura se transforma em uma caixa mágica com ares de realidade. É como a quebra da quarta parede no teatro. Nunca entendi muito bem o porquê de evitar ir ao cinema. Acho que é isso mesmo. Gosto tanto que dificilmente suporto o sujeito mal educado sentado atrás de mim conversando, falando ao celular, se empanturrando das gulodices venenosas de um Mac qualquer coisa, esse tipo de sucesso. Quando não metem os pés no encosto da minha cadeira. Para evitar confusão, prefiro o recesso do meu terraço.

Desta vez fui praticamente arrastado assistir ao filme, "A Casa Da Mãe Joana".

Sempre gostei muito dos trabalhos do Hugo Carvana, razão pela qual acho até que não foi assim tão difícil me arrancar da rede. Carvana talvez seja um dos poucos cineastas que eu conheço a retratar com a devida verossimilhança o espírito carioca. Sou fã dos seus filmes desde "Vai trabalhar Vagabundo", "Bar Esperança, o último que fecha", "Se Segura, Malandro", "O homem nu" etc. Todos no mais puro, digamos, neo-realismo carioca onde não se usam praticamente cenários e filmagens de estúdio. É tudo real. Cenas de hotel são feitas em um hotel, cenas de escritório, idem, apartamento e assim vai.

Mas, vamos ao filme que é o que interessa. Aviso logo aos navegantes que não me arvoro em crítico cinematográfico. Vão aqui apenas algumas mal traçadas de alguém que iniciou sua carreira de cinéfilo nas matinées do velho Plaza, de saudosa memória, alí no antigo Ponto de Cem Réis. Mas o filme, em verdade vos digo: Estava mais para novela da Globo.

Vejam pois o elenco: Pedro Cardoso, o Agostinho de "A Grande Família", o belo ator de sempre. Paulo Betti, que tempos atrás fez "Mauá”, “Lamarca", o mesmo "scholar" que proferiu a brilhante frase na defesa dos desmandos e mensalões do PT: "Pra fazer política tem mais é que meter a mão na merda". Estava lá, mais apagado do que o estádio do Santa Cruz Futebol Clube. O sujeito desaprendeu tudo. Virou atorzinho de fancaria. Não convenceu e foi realmente o ponto fraco da película. Perfeitamente dispensável. Também um indivíduo que deixa uma mulher como a Eliane Giardini só deve entender mesmo é de m....! Agildo Ribeiro, Claudio Marzo, Roberto Maia e Miele, em pontas que não comprometeriam o bom andamento da odisséia. Laura Cardoso, (sempre muito bem em qualquer cena), Juliana Paes fazendo o papel de Jeannie é um Gênio tupiniquim. Fernanda de Freitas alter-ego de Debora Secco, menos exuberante, porém dando canja ao desfilar sua beleza peladona pelo set. Malu Mader, representando todas as suas personagens vividas na TV Globo e, em aparições relâmpago, Arlete Salles e Beth Goulart que também não convenceram nem disseram a que vieram. Antonio Pedro o correto ator de sempre e José Wilker muito à vontade, no papel de... José Wilker.

Forçoso é admitir a hiper exposição da cara de todo o elenco na telona bem como na telinha. Não existem outros atores e atrizes nesta Terra de Santa Cruz? Passamos uma semana inteira nos fartando dos frontispícios de artistas globais em suas respectivas novelas de encheção de saco e chega no domingo novamente nos é imposto o mesmo sacrifício, dessa vez na tela grande e ainda por cima, pagando! Mas, fazer o que? Será que vale a pena sair de casa, enfrentar um trânsito desvairado e ainda se expor a um belo de um assalto, por exemplo?

Fiquei, entretanto ressabiado, quando dei de cara com um retrato de Che Guevara candidamente dependurado em uma das paredes do escritório do personagem de Antonio Pedro. Citação absolutamente dispensável na minha opinião. A essas alturas, qual a razão da homenagem? E principalmente em uma comédia? Não estou criticando, mas constatando que ainda há pessoas que não abdicaram dos seus ídolos falsos. Eu já fiz o meu mea-culpa há muito tempo. Todos aqueles ícones que povoaram a minha alma foram uma farsa monumental. Infelizmente uma grande decepção, devo acrescentar.

O roteiro foi baseado em uma história real e conta as aventuras de três malandros que fazem de tudo para manter o apartamento em que vivem e que está hipotecado. E tome golpes e tome expedientes. Realmente não chega a ser bolorento por evocar o "espírito cafajeste" dos anos 50. Carvana, Roberto Maia e Miele dizem, foram os reais personagens que inspiraram o filme pois viveram situações semelhantes às mostradas na história. O filme, entretanto não me fez rir. Em se tratando do Hugo Carvana, a gente sempre procura uma maneira de passar a mão pela cabeça dele. Tendo perpetrado coisas muito boas, não seria agora um deslize bobo que iria comprometê-lo. O filme não o compromete evidentemente e chega a ser engraçado em certas ocasiões. Mas ficou faltando algo que não sei explicar bem o que seja. Contudo reconheço, o Xará Carvana já fez coisas bem melhores. Confiram.

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Hugão, acho pertinente a sua crítica, principalmente se tratando de um cineasta.
Contudo gostei do filme, uma comédia leve sem muitas pretensões de melhor filme do ano, acho mesmo que o Carvana queria brincar de recordar os "good old times" e se deu bem pq dei boas gargalhadas.
Laura Cardoso e Agildo Ribeiro roubam qualquer cena mas José Wilker e Pedro Cardoso estão bem engraçados.
Quanto ao set estar na telinha da Globo, que fazer se esta emissora paga os melhores salários e arrebanha os melhores artistas brasileiros? Bom pra ela e pra todos nós humildes telespectadores melhor ainda para o cinema nacional.
Mary