sexta-feira, junho 20, 2008

A minha primeira vez...


Elpídio Navarro

Estou falando de dançar quadrilha junina. Foi assim e já se vão quase 60 anos. Meu amigo Geraldo Oliveira (Geraldo Padre como era conhecido por ter estudado no Seminário Arquidiocesano) hoje artista plástico e morando na Cidade de Santa Rita, residia no Bairro de São Miguel, numa rua que era chamada de Cordão Encarnado. No quintal da casa uma vacaria e num terreno ao lado um curral. Lá, todo ano, era organizada uma quadrilha com a participação dos amigos de Geraldo e das amigas das suas irmãs. E eu no meio.
Na primeira vez que participei quase que fui expulso. A cocheira, onde o gado era alimentado, lavada a capricho ainda cheirando a creolina, era o salão de dança todo ornamentado. Duas fogueiras: uma pequena no fundo do quintal era para assar milho e soltar fogos; uma bem maior dentro do cercado (o gado havia sido transferido para outro local) era para louvar aos santos, fazer promessas para eles e as tradicionais adivinhas, prática indispensável às mocinhas casadoiras.

Eu fazia par com Waldenice Nunes, amiga de infância. Aos meus 14 anos, já com um metro e setenta, fui escolhido para conduzir o "caminho da roça", que consistia, ao comando do "marcador", em guiar todo o grupo em torno da fogueira menor e voltar para o salão de dança. Na hora, eu quis inventar e rumei para dentro do cercado, em torno da fogueira grande. Foi um desastre! O cercado estava cheio de merda das vacas e as sandálias e sapatos dos participantes assim também ficaram. Fui removido da minha função. E nos anos seguintes só fui convidado por ser muito amigo do filho do dona da casa.

A quadrilha junina (no Brasil e joanina em Portugal) é de origem européia. "De acordo com historiadores, esta festividade foi trazida para o Brasil pelos portugueses, ainda durante o período colonial (época em que o Brasil foi colonizado e governado por Portugal). Nesta época, havia uma grande influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses. Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha. Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas."

O Nordeste Brasileiro foi a região que mais assumiu como tradição festejar o período que começa em maio e termina em Julho, denominado de junino. Quadrilhas, fogos de artifícios, adivinhações, culinária à base do milho verde na maior parte, "inocentes" balões (que antes subiam ao céu e o tornava lindo sem causar a notícia de ter prejudicado alguma coisa ou alguém) e as tradicionais fogueiras.

Hoje cria-se uma polêmica sobre ser correta ou não a prática de queimar fogueiras em homenagem aos santos do período, sob a alegação que contribui ainda mais para o aquecimento do planeta. É possível que contribua sim, mas de uma forma tão ínfima que é até ridículo defender essa tese. As fogueiras de São João são uma agulha no palheiro e duram apenas uma noite. Aquecer o planeta é propriedade das grandes queimadas dos plantadores de soja principalmente no Brasil Central e na Amazônia, que duram dias e até meses e contra elas nenhum governo toma providências de verdade para não perder seus aliados ruralistas no Congresso; aquece o planeta a combustão dos veículos automotores em profusão que podem ser adquiridos para pagar em sessenta meses, com a primeira prestação três meses após a compra; aquece o planeta as explosões diárias de bombas nas guerras acobertadas pelo país mais poluidor do planeta, a América do Norte, onde os constantes incêndios em florestas chegam a matar pessoas e que de quebra ainda oferece as muitas chaminés poluidoras das suas fábricas.

Então, querer apagar as fogueiras do São João como um ato em defesa do planeta é o mesmo que matar uma formiga sem destruir o formigueiro. Um amigo meu apregoava: "faça sua boa ação de hoje - mate um americano" (do Norte). Mas o que ia adiantar? Nasciam mil todos os dias. Por isso nunca matei nenhum!

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