quinta-feira, junho 19, 2008


Caríssimos.
A polêmica das fogueiras continua. Recebo do Marcus Aranha dois testemunhos que acho devem ser aqui postados. Tirem suas próprias conclusões. Ou mandem um protesto. Alguém se habilita a botar mais lenha? (epa) H.C.



Taí...
Não sou somente eu que sou contra proibir as foguiras de São João.

Marcus Aranha

Reacendendo a Fogueira

GONZAGA RODRIGUES

Testemunho 1.

Antes que a força-tarefa saísse constrangida apagando as fogueiras da sua própria devoção, veio um puxão de orelha e apagou o fogo da medida proibitiva. Era o que se esperava do bom senso. Não será proibindo a queima de lenha e dessas fogueiras que iremos respirar mais folgado. Como Agnaldo Almeida lembrou, não será por conta da poluição desses gravetos que vai depender o buraco do ozônio.

Mesmo sendo assunto encerrado fora da jurisdição de Campina Grande, o que não deixa de ser um contra-senso, cabe um comentário: a fogueira, por mais que venha arder em nossos olhos, não é um poluente comum. Não é somente uma tradição. É um fogo religioso. Veio com os portugueses que não sabem quando nem onde o apanharam. E era aceso, como devoção, no calendário imemorial dos povos de Europa, Ásia e África.

No tempo em que o Ministério Público era menos abrangente, quem se incomodava com as fogueiras eram os prefeitos. Muitos tentaram disciplinar a queima, não por que a mata sofresse devastação, mas principalmente, porque ardia nos olhos deles. Sem baixar nenhuma portaria, Oliveira Lima saía pedindo que não se armasse fogueira com lenha verde. Embora durasse mais, provocava menos lágrimas e menos espirros. Mas para proibir a fogueira ele achava, como homem de religião e cultor do Direito, que lhe faltava autoridade.

Há também a questão do ritual, a mistura da fé religiosa, fé que leva o devoto a pisar em brasa, com o prazer ritualístico da comida, do milho assado, à roda da família.

A Torre era a campeã de tudo isso, principalmente do fumaceiro. Difícil a casa da Bento da Gama até a descida do morro, que não fizesse o foguinho de sua devoção. Uma devoção sem penitência, alegre, festiva, secular, incluída no livro de Fernando Cardim como forte elemento de ligação entre portugueses e indígenas. Foi um elo entre as duas culturas, num tempo em que do português o índio só conhecia o massacre.

Como se vê, vem queimando lenha a séculos e nem por isso a lenha se acaba. Acabou-a, em parte, a indústria do açúcar, cedendo à cana as terras de mata.

O promotor e a Sudema vão levar tempo para apagar essa devoção. Quando todos estiverem pensando como eles, aí sim ela apaga. Mas dêem um tempo...

Testemunho 2.

Olha aí!
Até o padre Djacy Brasileiro, sertanejo do Vale do Piancó, é contra proibir as fogueiras.

ACABAR COM A FOGUEIRA? ESSA NÃO!

É inadmissível, inconcebível, querer erradicar uma cultura cristã católica, que é a fogueira na noite de São João. A fogueira, como é notório, faz parte inerente da cultura do nordestino, que mora, sobretudo, no sertão. Portanto, querer extirpar, acabar com essa cultura é acabar com o espírito festivo junino do homem do sertão, que, afinal, não tem outra diversão, a não ser acender sua fogueirinha, na noite de São João.

Acho uma decisão precipitada e tomada sem levar em consideração, o lado cultural da região. Jamais uma fogueira vai prejudicar o meio ambiente, até por que é uma vez ao ano. Agora sim, o que polui o planeta são os carrões dos poderosos ,dos ricos,das grandes autoridades, que circulam todos os dias pelas ruas das cidades.Deveria proibir desses carrões circularem,pelo menos uma vez ao mês.Pergunto, então:quem polui mais ,uma fogueira,uma vez ao ano,ou os carrões da elite ,soltando a todo vapor gás carbônico?

Infelizmente, o pau só quebra no pinhaços dos pobres. Se o Estado proíbe dos pobres fazerem suas fogueiras, então pergunto: onde está a mão do Estado, quando a violência assola nosso sertão? Onde está a mão do Estado, quando centenas de pobres morrem nas filas dos hospitais? Onde está a mão do Estado, quando milhares de pobres não dispõem de educação de qualidade? Onde está a mão do Estado ,quando tantos pobres vivem assolados na miséria,na doença, na fome, no desemprego...?

Penso que, em vez de proibir os pobres fazerem sua fogueira, o Estado deveria era garantir-lhes segurança, saúde, educação de qualidade, políticas públicas...

Se estamos sob a égide de um Estado Democrático de Direito, então todas as decisões por parte das autoridades constituídas deveriam,penso eu, passar por consulta popular, como no caso da proibição de fazer fogueira. Penso que a Igreja Católica deveria reagir.

Enquanto os pobres não podem fazer sua fogueirinha, os grandes do dinheiro estão acabando com a Amazônia. Gente grande é gente grande. Pobre é pobre e tem que obedecer.

Estou revoltado e constrangido com essa decisão. Uma coisa é certa: vou fazer minha fogueira, aqui no sertão, e ao lado dela, com meus irmãos sertanejos, celebrar a noite de São João assando milho e ouvindo nosso puro forró.

PADRE DJACY BRASILEIRO

Tel.83-3536-1119

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