sábado, abril 26, 2008

EPISÓDIOS DA VIDA ESTUDANTIL: DO GINASIAL AO COLEGIAL

Breno Grisi


EPISÓDIO II – O CIENTÍFICO. Ver os colegas de antigamente nos dias de hoje, profissionais com títulos acadêmicos e com destaque na sociedade, competentes, sisudos, não dá para associá-los às figuras irrequietas, energéticas, cheias de idéias criativas e ardilosas, que foram nos cursos ginasial e colegial.

Exemplifico com os episódios vividos por Calui (hoje, médico dermatologista Carlos Fernandes Martins), Sérgio Rolim Mendonça (engenheiro sanitarista de renome internacional) e até mesmo o contador de estórias que ora vos alcança através deste “blog”.

No primeiro ano científico, na bagunçada turma de 1959 no Pio X, um de nossos mestres era o irmão Herman que, já um pouco idoso, era alvo de inúmeras brincadeiras dos (ainda) “pestinhas” adolescentes. O lema dessa turma de desvairados era gritado orgulhosamente por um dos seus comandantes, o Cláudio Macaco-Branco (“vulgo” Cláudio Mello e Silva; hoje advogado, aposentado do Banco Itaú):

- Se a vagabundagem está atrapalhando os estudos ... deixe os estudos!

Certo dia, andava o irmão Herman pelo corredor, num intervalo de aulas, quando foi surpreendido por uma “manguitada” bem no meio das costas; ou seja, um atrevido tinha-lhe acertado um fruto imaturo de manga, conhecido como manguito. O irmão Herman virou-se e pensou ter flagrado o agressor, dissimulando com a leitura de um livro, sentado próximo ao acontecimento. Era o nosso pacato colega Calui lendo um livro de José de Alencar, mas que ao ver o irmão Herman vociferando impropérios acusadores em sua direção (se não me engano um ... “Ah! Foi você, sêo moleque!!!), foi obrigado a correr pelo Colégio afora. Dava para se ouvir alguns gritando, entre risadas, ... pega ... pega!!! O bom preparo físico do Calui versus a idade do irmão Herman resultou na vitória do primeiro, que escapou ileso.

A indisciplina reinante era vez ou outra adicionada de toques inusitados, ou melhor dizendo, ruídos inadequados, como no dia em que Sérgio Rolim encheu uma lata com grilos e os soltou em lugares estratégicos na sala, simulando uma manhã na floresta! Na turma de 1960, que tinha o irmão Herman como regente de classe, arranjava-se qualquer motivo para se interromper as aulas. Carlos Antonio Ribeiro Coutinho (filho de Renato Ribeiro Coutinho, grande usineiro na época) simulou um desmaio e aos comentários do irmão Herman ... “aula dramática ... aula dramática” , era carregado entre as filas das carteiras, esforçando-se para conter o riso, sem conseguir. Paulo Cêta (que apelido hein???) o abanava freneticamente.

Já no terceiro ano colegial, turma noturna concluinte de 1962, o irmão Luiz, apelidado de Tupiniquim (pelos seus esforços inexauríveis em defesa da língua pátria), às vezes repelia energicamente as nossas interferências. E num desses dias, rejeitou um sussurro meu e gritou

– Breno! Pula fora!

Eu até que ia sair obedientemente. Mas, um colega provocador (se não me engano, o hoje engenheiro civil Tadeu Pinto), incitou-me à irreverência, falando-me pelo canto da boca

– Obedece Breno! PULA!

E eu, “obedientemente” abandonei a sala com uma pequena corrida e um grande pulo. Não precisaria dizer que ao fundo ouviram-se tremendas gargalhadas.

– Tô lascado!

Ainda pensei. Mas Tupiniquim era também um ser compreensivo. Talvez por façanhas como essas, fizeram algumas pessoas me chamarem de “sonso”, adjetivo que eu odiava! Dissimulador, talvez fosse uma denominação suavizadora mais adequada.

... e éramos, de verdade, todos felizes.