segunda-feira, outubro 22, 2007

Cheguei a uma idade...

HUGO CALDAS

...e já lá se vai uma data desde que em certa quarta-feira de Novembro de 1937, exatamente às sete e dez da manhã, iniciei o meu aprendizado para saber, tomar conhecimento e ter portanto a mais perfeita, e absoluta certeza daquilo que é certo ou errado neste mundo de meu Deus. Aprendi senão tudo, pelo menos consegui um respeitável cabedal. Tenho hoje, a devida clareza sobre quem são os meus amigos. Também sei daqueles que nos consagram aversão, ódio, antipatia, repugnância, inveja, rancor, fora e até mesmo dentro da própria familia. Sei, por exemplo, de pessoa bastante chegada a mim que à simples menção do nome deste humilde marquês, costuma apregoar, "esse aí não diz coisa com coisa". Razão da agressão gratuita? Única e exclusivamente por não comungar das suas idéias desencontradas. Por eu não sair por aí repetindo ad nauseam trechos de uma encardida cartilha marxista. Não faz para mim, o menor sentido. Aliás, nunca fez! Isso já era velho no tempo de Nabucodonosor. A inveja é sem nenhuma dúvida uma arma mortífera. Geralmente esse tipo de arma é usada pelos aproveitadores de todas as cores, pessoas que nunca deram duro, oito horas de aulas de segunda à sexta trinta dias por mês durante anos. Será que é pecado, será que existe alguma proibição eclesiástica ou "dialética" para se trabalhar e ganhar dinheiro? E usufruir efetivamente desse dinheiro?

Esse povo não vive, não teve nem deverá ter uma boa história para contar. Um livro que os tenha marcado, um belo filme para recordar. Nunca foram generosos com ninguém, e acima de tudo, não sabem o que é senso de humor. É um eterno ranger de dentes. Melhor seguir o figurino de Júlia uma antiga empregada da casa da minha mãe: "Vamos dar o calado como resposta."

Continuando com a "dialética"...

Conheci um "camarada," que era tido e havido como uma espécie de ícone do partidão, cabra corajoso, sincero franco e honesto. Uma figura. Mas ao melhor estilo dos filmes B de Hollywood, para reunir-se com os companheiros, nos anos de chumbo, disfarçava-se de pescador de caranguejo e passava horas e horas no mangue, conspirando e derrubando todos os governos do mundo. Convenhamos o ridículo da situação. Não dá para levar esse tipo de obtusidade à sério. Contudo, jamais o critiquei ou o desmereci. Respeitava-o então, como o respeito agora, que sei da sua passagem para o andar de cima.

Isso tudo vem à propósito do filme da moda, "Tropa de Elite". Vou logo avisando: Não vi e não gostei! Eis a minha "dialética." Há poucos dias declinei de convite para assisti-lo. Aleguei que tudo o que pudesse aparecer na tela muito provavelmente iria ser mostrado às oito da noite no Jornal Nacional. Ao vivo. Dia seguinte o Bom Dia Brasil estava pegando fogo. Um helicóptero da polícia em caçada implacável, onde alguns bandidos terminaram sendo mortos. Bela maneira de iniciar um dia de trabalho, pois não? A OAB já se manifestou contra o "genocídio".

Agora mesmo, são 21:45 do dia 19-10 ouço rajadas, tiros, muito provavelmente de arma automática. Deve estar acontecendo algo bem próximo da sala onde me encontro. Eu não sou maluco de botar a cara de fora para ver o que ocorre. Temo pelos meus dois filhos que ainda não voltaram para casa.

Voltando ao filme:

Acho que a única qualidade do melhor filme americano feito no Brasil, foi talvez, a de nos devolver o conceito, há muito esquecido, de que bandido é bandido e não um coitadinho vítima das diferênças sociais. As pessoas vivem a repetir certos chavões e terminam por acreditar no que estão dizendo.

À propósito, há tempos participei de uma reunião em entidade de defesa do bairro onde moro e se cuidava de impedir o trottoir de algumas garotas de programa em uma das mais conhecidas avenidas de Boa Viagem. Havia duas correntes. Uma, sabe-se lá porque, queria fazer vista grossa e a outra demandava a mudança da atividade para local mais distante evitando assim ferir o recato das tradiconais familias. Defensora ardorosa da primeira corrente, uma jovem socióloga advogava que as ditas senhorinhas não participavam do abominável passeio porque gostavam. Era pura e simples necessidade. Eram a fome e a probeza as culpadas. O local sugerido pela corrente oposta fora considerado perigoso, e era mesmo. Nisso tudo um velhote com a cara de Grouch Marx ouvia silencioso a tudo. Pediu um aparte:

- A prezada socióloga realmente acredita no que está dizendo?
- Mas claro, foi a resposta. A culpa é da fome e da pobreza.
- Então minha cara doutora, a seguir o seu raciocínio, "a India seria um puteiro só!"

Gargalhada geral encerrou a inapropriada reunião e ficou o dito pelo não dito.

Voltando às vacas frias:

Não será novidade para ninguém que o mal existe. Como então explicar a lógica de arrastar uma criança presa ao carro, até a morte? E pior, ficar tudo por isso mesmo?! E a policia bandida? Lembro de um marginal da década de 70 no Rio de Janeiro, chamado Lucio Flávio, cuja história inspirou um outro filme, -"Lucio Flavio Passageiro da Agonia," - que dizia "Bandido é bandido - Polícia é polícia." Será que essa premissa ainda se sustenta? Ou todo mundo é bandido?

O escritor húngaro ganhador do Nobel, Imre Kertész, que comeu da banda podre de Hitler e Stálin, pontifica:

"O mal sempre parte de interesses individuais; o bem, no entanto, se situa além da capacidade de raciocínio. O ruim do mal é que se apresenta como bem. Os verdadeiros canalhas sempre vêm salvar o mundo e tudo acontece com a melhor das intenções."

Relaxo e vou dormir. Os meus filhos voltaram sãos e salvos.

hugocaldas.blogspot.com
hucaldas@gmail.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Hugão, a gente roda, roda, ouve teorias incríveis sobre caráter, personalidade etc., mas no fim da vida percebemos essa única coisa: aqui no mundo não há pessoas perfeitas. Mas há grandes pessoas, que dedicaram a vida inteira a cuidar dos outros, dos abandonados, desvalidos, o lixo do mundo. Como Madre Teresa. Ou como muitos outros católicos, evangélicos, espíritas, etc. totalmente anônimos, que fazem tudo apenas por ver no outro a figura do seu irmão ferido, açoitado, levado aos pontapés para ser pregado numa cruz. Isso não é religião, não depende de rituais, igrejas, incensos e outras baboseiras. Depende de ser bom, de ter bom coração, de comover-se com a dor alheia. Essa qualidade vem sempre acompanhada da mansidão e da humildade. Talvez por isso seja tão rara. Há uma segunda espécie, (na qual penso que nos incluímos), a das pessoas que zelam pelo seu caráter, que trabalham duro, que não enganam nem humilham ninguém, que ajudam a todos e que jamais se beneficiaram de sinecuras. E há a espécie oposta a essas outras, a dessa gente abominável, capaz de elogiar uma ditadura (de direita ou de esquerda) para se manter em seu bem-remunerado emprego público, que aliás não serve pra nada. Aliás, essas pessoas também não servem pra nada. Delas, diria o Riobaldo que são "uma doençazinha no mundo". São abomináveis, e a única coisa que podemos fazer é ficar longe delas. Têm uma vida oca, terão uma velhice solitária e triste. É o que penso. Carlos

Anônimo disse...

Huguíssimo
Muito oportuno o tema desta semana. Comungo com voce: NÃO VI, NÃO GOSTEI E NÃO RECOMENDO!!! Voce viu a repercussão negativa?! Alunos em escolas reproduzindo a cena de tortura do filme. Como também dizia uma empregada da minha mãe: é o fim dos tempos! Na verdade, a sensação que tenho é de que estamos colhendo o que plantamos. Essa lassidão, esse deixa ficar, essa preguiça macunaímica do brasileiro estão começando a dar frutos. Pôdres!!! Essa mania de querer ser muito moderno, ou "in", como diríamos na língua mãe, está começando a dar resultados. Criança não pode mais apanhar (ai de mim se não tivesse levado umas boas lapadas e uns cascudos!), não pode ser contrariada, senão fica traumatizada. Ah, faça-me o favor! Uma das coisas que o indivíduo precisa aprender é que tudo tem limites na vida, pessoal e social, senão vira baderna, anarquia, caos, bagunça (nunca Casa da Mãe Joana, nem Zona, porque lá havia regras). Eu via pelos meus alunos na universidade. Aqueles garotos e garotas não tem a mais elementar educação doméstica, algo que faz uma falta danada. Por favor, obrigado e com licença pra eles nem chegam a ser palavrões, porque desconhecem os citados vocábulos. É pena porque são eles quem mais vão sofrer com as consequências. Nós conseguimos chegar a uma vetusta (?!) idade e eles quando chegam aos 40 sem infartos, gastrites e que tais, podem se considerar privilegiados. Mas o que dói mesmo é saber que tudo isso tem jeito, que é só uma questão de decisão política, não dos políticos que eles não querem que as coisas sejam consertadas, senão vão viver do que?, mas do povo que parece que está relutante e timidamente começando a sair do berço esplêndido. Não sei se eu ou voce vamos ver esse amanhecer mas me recuso a entregar o ouro aos bandidos. Reclamos, reclamo e reclamo, de tudo e de todos porque sempre tem alguém que escuta. Que o digam nossos deputados e senadores, a quem tenho o prazer de incomodar por e-mail, toda vez que eles me incomodam. E como diz o João Ubaldo: VIVA O POVO BRASILEIRO! Ósculos e amplexos
Aline

Anônimo disse...

Sr Hugo, hoje (24/10/2007) li seu blog, por coincidência teve um stress muito grande por causa da falsidade, que quase me prejudicava, mas sai viva. Enfim, o que vc escreveu relacionado a inveja, concordo em genero n° e grau.
Já com relação a marginalidade de nosso país, posso lhe assegurar que não existe "criminoso é criminoso" e polícia é polícia" todos são marginais infelizmente, mas claro existe algumas exceções porém muito poucas, poucas mesmo!

Já vou que tenho que trabalhar, BEIJOS SAUDOSOS...

Quarta-feira, Outubro 24, 2007