Texto que fará parte do próximo livro A MORTE CEGA, de Djanira. H.C.
DJANIRA SILVA
Preciso pontuar minha vida antes e depois do nada. Entre os dois pontos e as reticências me crucifico. Coloco-me entre aspas e parênteses. A vírgula e o ponto e vírgula, me perseguem.
Calculo o tamanho dos meus passos para não cair nos abismos nem nas certezas. Tenho medo de dormir e acordar esquecida do que pensei, do que sonhei. Sempre esqueço. Nunca sei onde estão as coisas já pensadas. Gastas? Rotas? Ou não pensei?
O pensamento inventa, mistura idéias e sonhos sem começo e sem fim, parte-se, multiplica-se.
Escrava desta alquimia escrevo e vigio, caminho nas linhas para não cair nos espaços vazios. Seguro as palavras, domino-as, sufoco-as. Igual às crianças elas precisam de controle, de freio dos castigos da pontuação
Um dia escrevi a história de uma menina que fugiu de casa correu sem parar entrou no mundo pela porta da frente e saiu pela de trás desceu subiu degraus e desapareceu nas curvas dos caminhos sem pontos sem vírgulas sem nada.
Assim quero minha alma, alegre, fugidia, livre e ligeira, passando por todas as portas pulando todos os obstáculos, livre de pontuações.
Preciso apenas dos sinais: atenção pare, siga, ou de linhas paralelas, pare, olhe escute.
Vírgula, indo e voltando. Ponto. Afinal!
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