quinta-feira, junho 07, 2007

SOU BREGA COM MUITO ORGULHO E ATEU...


Elpídio Navarro


Sou brega com muito orgulho e ateu graças às religiões. Não nego. Me amarro na música de Sidney da Conceição e Augusto César interpretada por Luiz Ayrão "qualquer dia, qualquer hora, a gente se encontra, seja onde for, pra falar de amor..." e também na de Carlos Imperial cantada por Ronnie Von "Hoje eu acordei com saudades de você... na mesma praça, no mesmo banco..." e também ainda na de Wando "você é luz, é raio estrela e luar...", não esquecendo de Chico Buarque, Vinícius e Gonzaguinha. Outros tantos.

Agora, tem uma balada que marcou a mais feliz fase da minha vida e que até hoje não sai da minha emoção: "Quando estou nos braços teus, sinto o mundo bocejar, quando estais nos braços meus, sinto a vida descansar..." O Prelúdio Para Ninar Gente Grande ou Menino Passarinho como é mais conhecida. Para mim Luis Vieira inventou a mais simples, expressiva e bela canção de amor. Se preferir esse tipo de música é ser brega eu o sou com muito orgulho, mesmo porque não consigo gostar do aché, dos forrós eletrônicos tipo Banda Calýpson e dos discursos cantados dos grupos de funk.

É porque eu já sou um velho? Pode ser. Mas quando eu era moço gostava de Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Silvio Caldas e muitos outros românticos. Depois Agostinho dos Santos, Maysa e Dolores Duran. O tempo passou e comecei a cantar Valsinha de Chico Buarque. Isso sem nunca ter esquecido Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Sou de um tempo de se sair do cabaré e ir pra casa e não o inverso. Não é falso moralismo não, é, sim, gosto musical mesmo. E isso não se discute não. É como religião e futebol.

E por falar em religião fui batizado, fiz Primeira Comunhão, fui da Cruzada Eucarística, ajudei Missa e Terços no mês de maio e casei, tudo dentro do Catolicismo. Do batizado e da comunhão foram responsáveis meus pais. Na Cruzada da Igreja da Conceição tinha Cleide, uma linda e apaixonante loura, que despertava o interesse dos meninos para a religião. Ajudar missas e terços era para aparecer diante dela. O casamento religioso foi mais por conta da família da noiva mas, em compensação, ocorreu na casa dela e celebrado por um padre amigo que tremia mais que os noivos durante o ato. Chegou a ser hilariante. No entanto, mesmo com toda essa relação com a religião nunca fui religioso. Nunca acreditei na história do homem através da versão mística. Lembro que na igreja que eu freqüentava o padre tinha carro e motorista. E estávamos no fim dos anos 40 e início dos 50. Esse padre aposentou-se, vendeu o carro e apenas dispensou o velho motorista, que ficou sem o ganha pão e sem conseguir novo emprego devido a sua avançada idade. A CLT se já existia não funcionava contra a Igreja. Acho que foi essa a minha primeira grande decepção de ordem religiosa.

Hoje vejo a fortuna gasta com o aparato para a visita do Papa Bento ao Estado de São Paulo. Dinheiro que melhor seria empregado com a saúde e a fome do povo necessitado, e não para uma demonstração de força diante do crescente número de outras religiões que se instalaram no País para sugar os minguados reais dos incautos crentes. E como sugam! Tudo objetiva dinheiro e muito dinheiro. É só dar uma espiada na suntuosa construção feita pela tal Igreja Universal na Avenida Epitácio Pessoa, área nobre de João Pessoa. E a sede mundial no Rio de Janeiro com 63 mil metros quadrados de construção com dinheiro tomado do povo que crê no Inferno e no Céu? Um estúpido atentado à situação de sucateamento das Universidades Brasileiras.

E para completar nos chega a notícia enviada por Manfredo Caldas: "O senador (bispo) Crivela do PL e da Igreja Universal, está prestes a aprovar, no Senado Federal, uma emenda à Lei da Rouanet que permite a construção e reforma de templos religiosos com renúncia fiscal , passando a disputar verbas com a cultura. Quem for contra deve se manifestar o quanto antes!!! A emenda, que teve o parecer favorável do senador Paulo Paim (PT-RS), foi aprovada pela Comissão de Educação e deixa mais claro que o Pronac poderá ser usado para contemplar não só museus, bibliotecas, arquivos e entidades culturais, como também "templos de qualquer natureza ou credo religioso"". E ele não está só nesse grande escuso negócio que pretende tornar legal. Tem muita gente no Congresso interessada nos votos dos "fieis".

Fosse vivo Daniel, funcionário aposentado do Estado, estaria gritando no Ponto de Cem Reis: "para os casacudos venais da Nação, só forca!" Enquanto eu, no máximo digo que sou ateu e não pretendo rasgar meus versos e crer na eternidade. Graças a eles, os artistas das religiões.

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