quarta-feira, setembro 06, 2006

Introdução aos Conceitos de Platão - A Herança Socrática

Amigos
A cada dia o Blog fica mais importante. Hoje estamos honradíssimos com a bela matéria do Professor Serafim. Se não tomarmos cuidado isso aqui vai se transformar numa nova Academia.
Hugo

Antônio Serafim Rêgo Filho

O ano 407 a. C. foi decisivo para a filosofia grega e, por conseqüência, para todo o pensamento filosófico posterior. Foi nele que Platão, aos vinte anos de idade, tornou-se discípulo de Sócrates, então com sessenta e dois anos, permanecendo em sua companhia até a morte deste, em 399 a. C.

A forte personalidade do mestre, o novo espírito que ele introduzia nos debates intelectuais, com o sobrepujamento da reflexão cosmológica pela antropológica, seu destemor e visão crítica, calaram profundamente no ânimo do jovem discípulo, marcando-o para o resto da vida: “... meu querido e velho amigo Sócrates, a quem não temo proclamar o homem mais justo de seu tempo, ...” (Carta VII, 324 e), afirmará Platão em 354 a. C., aos setenta e três anos de idade, na qualidade de filósofo consagrado, distante quarenta e cinco anos do ocaso fatídico em que Sócrates tomou cicuta, após haver passado o dia no cárcere, cercado por seus amigos, discutindo sobre a alma e propondo uma teoria do conhecimento (Fédon, 117 c e ss.).
Eis por que julgamos conveniente discorrer, em rápidas observações, sobre os princípios socráticos, para que se possa melhor compreender Platão, especialmente nos primeiros escritos.

Numa guinada de 180 graus, em relação aos ensinamentos da Escola de Mileto e aos eleáticos, como também em comparação a seus contemporâneos Anaxágoras e Demócrito, Sócrates dedica-se ao exame dos problemas do homem. Não do homem abstrato, mas do ser humano concreto, do cidadão, tendência que Platão seguirá sempre que tratar dos valores éticos e cívicos do Estado.

“Um homem é assim, a meus olhos ... aquele que harmoniza suas palavras e seus atos segundo o modo dórico e não o jônico, e menos ainda ao frígio ou lídio, mas segundo o único verdadeiramente grego.” (Láques, 188 d)
“Vou raciocinar como se tratasse de cidadãos e atenienses reais e atuais.” (Timeu, 27 b)

Como Sócrates acreditava na exeqüibilidade de atingir uma certeza que independesse de subjetivismos, sem os artifícios dos sofistas, contra este destina grande parte de seus pronunciamentos. Protágoras sustentara que não há nada de fixo, não há verdades universais, que todas as aparências são verdadeiras e que, finalmente, o homem é a medida de todas as coisas. Este ceticismo e relativismo era visto por Sócrates como uma influência dissolvente para a moral. Por isso, procurava incutir na juventude ateniense a necessidade de conceitos claros e definições corretas.

Com a morte de seu mestre, Platão empunhará a bandeira da anti-sofística e não a abandonará mais.
“Protágoras pôde dissimular a toda a Grécia que está enganando e estropiando aos que se acercam dele, que os faz partir de seu lado piores que quando os recebeu.” (Ménon, 91 e)
“Dizendo a verdade, é impossível que seja sábio, posto que estabelecemos que não sabe de nada.” (Sofista, 268 b)

No Teeteto, obra de seu derradeiro período, ridiculariza os sofista declarando que “a ciência não é outra coisa que a sensação” (151 e), o que coincide com uma das teses de Protágoras.
Para Sócrates, conhecer é saber por conceitos, que exprimem o que as coisas, na realidade, são. Dizer o que são os fatos, é dizer a verdade. O conceito revela o percebido, portanto, é, no plano ontológico, a própria essência da realidade, sem deixar de ter, ao mesmo tempo, uma função lógica, e de constituir-se em uma nova ética, já que devemos agir de conformidade com os julgamentos formulados. Virtude é conhecimento, e a felicidade é o resultado da virtude, ou seja, não é possível ser virtuoso sem o saber.

“Conhece-te a ti mesmo”, dizia a inscrição no frontispício do Templo de Delfos, cujo sentido religioso ganha, com Sócrates, uma dimensão não só ética como política. Platão não ficará indiferente ante o postulado délfico-socrático, repetindo-o, inclusive, em fases distintas de seu escritos.
“Envergonhar-me-á menos confessar meu erro que conceder que se possa ser sábio sem sabê-lo, pois, pelo que me diz respeito, definiria gostosamente a sabedoria como o conhecimento de si mesmo, de acordo com o autor da inscrição de Delfos.”
(Cármides, 164 d)
“Nem seria possível que conhecêssemos o que nos convém se não conhecêssemos a nós mesmos.” (Alcibíades, 133 d)
“Acaso todos aqueles que se desconhecem a si mesmos não são necessariamente vítimas desta ilusão? “ (Filebo, 48 d)
O mal, constata-se pelos textos citados, deriva de um desconhecimento de si que é tomado como conhecimento, isto é, ninguém erra por querer, mas por necedade, que é a mais temível das enfermidades, asseverava Sócrates e confirmará Platão.
“ Todos os maus, em todas as suas faltas, são involuntariamente maus.” (Leis, IX, 860 d)

Isto apenas sanciona um posicionamento assumido desde os primeiros diálogos, e que será uma constante em sua filosofia, como o comprovam o Hípias Menor, 370 e; Górgias, 509 e; Protágoras, 357 d-e, 358 c; Alcibíades 117 a, 118 a; Sofista, 228 d, 229 c, 230 a; e o Timeu 86 b, 88 b.

Em suas investigações, Sócrates empregava um método peculiar: a ironia e a maiêutica. Afirmando, logo de início, que nada sabia sobre a proposição a ser debatida, levava seu interlocutor a ajuizar o seu significado.
"... não sou capaz de criar a sabedoria, daí a acusação que muitos me fizeram de que dedico meu tempo a interrogar aos demais sem que eu mesmo descubra coisa alguma por carecer em absoluto de sabedoria, acusação que resulta verdadeira.” (Teeteto, 150 c)

Ato contínuo, através de sucessivas perguntas que conduziam a um fim determinado, induzia seu interlocutor a admitir que a definição proposta era inadequada, que a erudição dele era bem menor do que pensava ou fazia crer.
“... será menos pesado para os que freqüentam tua conversação, e inclusive mais humano, porque já não pensarão que sabes o que realmente não sabes. Esse é todo o poder de minha arte. Nada mais pretende.” (Teeteto, 210 c)

Chegava-se, deste modo, a uma situação paradoxal: aquele que parecia saber, não sabia; o que dissera não saber, sabia.
“Por Héracles! Temos Sócrates outra vez com a sua costumeira ironia. Eu já havia dito a estes que tu não querias contestar e que simularias tuas conhecidas argúcias em vez de responder ao que se te perguntasse.” (República, I, 327 a)

O procedimento pedagógico socrático não se encerrava com a verificação do desacerto. Fazia-se necessário encontrar a verdade ou, no mínimo, indicar caminhos que pudessem levar a ela. Daí a segunda fase do seu método, a maiêutica, que consistia em, mais uma vez por intermédio de consecutivas interrogações e respostas, obter, por indução, um conceito geral do assunto objeto do diálogo que, segundo Sócrates, hibernava no indivíduo. A maiêutica, por conseguinte, assemelha-se a um parto provocado.
“A maior atração desta arte é que permite experimentar a todo evento se é uma imagem falsa, ou fecunda e verdadeira, a que engendra a inteligência do jovem. ... Resulta evidente, entretanto, que nada aprenderam de mim, pelo contrário, encontraram e iluminaram a si mesmos esses numerosos e formosos pensamentos.” (Teeteto, 150 c)
Sem deixar de registrar que lhe havia feito, antes, a apologia no Êutifron, no Sofista (230 b), por meio do Estrangeiro que orienta o contencioso, Platão enuncia ser esta a melhor técnica de ensino.

Sócrates, dirigindo-se a Teeteto, no texto que leva este nome, afirma: “Chegou, pois, o momento, querido Teeteto, de que descubras tua alma e de que eu a examine.” (Teeteto, 145 b)
A partir deste ponto, o método socrático dominará toda esta obra, embora – exceção feita ao Filebo - venha a ser a última vez que, neste período de produção filosófica, que vai do Parmênides ao Epínomis, Sócrates venha a se constituir no principal personagem. Aliás, precisamente no Filebo, não é o mesmo Sócrates dos primeiros escritos que fala, posto que demonstra uma atitude conciliatória entre a espiritualidade absoluta e o relativismo moral anteriormente não tolerado por ele.

Nas páginas dialéticas do Parmênides, Sofista e Político, Sócrates desempenha um papel secundário, cedendo seu ofício tradicional a Parmênides, no texto de idêntico nome, e ao Estrangeiro, nos outros dois diálogos. No Timeu e no Crítias, dominam o debate os personagens que emprestam seus nomes aos títulos. Finalmente, nas Leis e no Epínomis, que têm no Estrangeiro ateniense o condutor das disputas verbais, Sócrates sequer é mencionado.

Denunciado ao tribunal de júri por Meleto, Anito e Lícon no ano 400 a. C., sob uma acusação de caráter estritamente religioso – as inculpações políticas estavam proibidas – de corromper a mocidade ateniense por instigá-la a não crer nos deuses do Estado (Apologia, 29 a), o julgamento, ainda que terminando com a condenação de Sócrates, serviu para consagrá-lo como imbatível na capacidade de argumentar. Por outro lado, coerente com sua própria doutrina, mantém-se impassível, mesmo diante da ameaça real de ter a sua existência ceifada antecipadamente.

“Com efeito, temer a morte não é outra coisa que crer ser sábio sem o ser, pois é o mesmo que crer saber o que não se sabe: ninguém sabe sequer se a morte é para o homem o maior de todos os bens, e, não obstante, temem-na como se tivessem certeza de que seja o maior de todos os males.” (Apologia, 29 a).

“ Por não quererdes esperar um pouco mais de tempo, ireis obter má fama e ser objeto de incriminações: os que querem injuriar a cidade dirão que sois os assassinos de Sócrates, um homem sábio, pois, naturalmente me chamarão de sábio, embora não o seja, os que vos querem desaprovar.” (Apologia, ibidem)

Muitos anos mais tarde, já provecto, Platão ainda lembrará emocionado aquela cena, declarando, enfaticamente, que ela mudou o seu destino.
“ ... quiseram associá-lo a outros encargos de levar por força um cidadão para condena-lo à morte. ... Sócrates não obedeceu e preferiu expor-se aos piores perigos do que fazer-se cúmplice de ações criminosas. À vista de todas estas coisas, e de muitas outras do mesmo tipo e de não menor importância, senti-me cheio de indignação e apartei-me das desgraças desta época.” (Carta VII, 324 e – 325 a)

A convicção moral profunda, a exigência de conceitos universais presentes em todos os textos platônicos, tiveram como fonte de inspiração os ensinamentos socráticos. Não se trata, contudo, de uma repetição porquanto, com Platão, ganharam uma amplitude que não tinham antes. Agora os valores éticos serão questionados, esmiuçados em obras expostas à crítica e associados às virtudes da urbe e do cidadão; em conseqüência, cessarão de restringirem-se somente ao comportamento ético do citadino para estender-se à cidade: como for o primeiro, assim será a segunda.

O seu modelo de homem, entrementes, continuará sendo Sócrates, o especulador, o pensador por excelência. Para provar esta assertiva, nada mais eloqüente que nos lembramos que, exceção feita aos diálogos Leis e Epínomis, quase todas as páginas de Platão têm Sócrates como um dos personagens, senão como o principal interlocutor.
Recordemos também que a Apologia não é um singelo registro da sentença condenatória de Sócrates, mas uma contundente confirmação da sua superioridade sobre os seus acusadores, quer no aspecto moral, quer na habilidade de aduzir os raciocínios. A missão educativa de Sócrates, sua coragem e retidão são de igual modo sublinhadas no Críton e no Êutifron. O Górgias foi redigido com a finalidade precípua de livrá-lo de uma injusta infâmia. O Banquete conclui com um longo e passional elogio de Alcibíades a este filósofo, e as palavras finais do Ménon exaltam-no como ser humano e como pensador.

O desempenha de Platão como reformados do homem e da cidade de seu tempo, sem dúvida, está impregnado do engenho socrático que não pretende ser só espectador privilegiado da circunstância histórica vivenciada, mas que quer incitar seus concidadãos ao que imaginava ser o bem para eles e para a cidade. Sob este prisma, Platão é o continuador das análises, do método e da dialética de Sócrates.

Eis por que os primeiros escritos platônicos são inquirições minuciosas acerca das virtudes cívicas. Neles polemizam-se o dever (Críton), a coragem (Láques), a amizade (Lísis), a piedade (Êutifron), nos quais a figura de Sócrates exercita um recurso único, qual seja, a maiêutica. Em uma de suas felizes observações, Werner Jaeger observa: “Parece que se está a assistir a um curso prático de lógica elementar, dirigido por um cérebro superior.” (Paidéia, p. 555)

Em tais oportunidades, torna-se difícil estabelecer com precisão o que é platônico e o que é socrático. Todos os textos têm, entretanto, uma característica genérica: nenhum deles encerra-se com uma explicação categórica do objeto da investigação, provavelmente porque Platão apenas ensaiava os seus passos iniciais na senda da autonomia filosófica. Neste diálogos, o desfecho quando não é negativo, tem a sua solução interrompida. Exemplos do que acabamos de afirmar são o Hípias Maior, o Cármides, o Láques, o Lísis e o Protágoras. Essa suspensão do tema, deixando-o inconcluso, é peculiar deste primeiro período, denominado socrático.

Com o passar dos anos, as qualidades morais não serão esquecidas. Permanecerão como uma inquietação constante do filósofo até as derradeiras obras, apenas adquirindo uma acentuada tonalidade política.
Este arrebatamento pelas virtudes corre paralelo à sua obsessão invariável pelo bem e pela sabedoria, além de, não raras vezes, estarem intimamente vinculados. Virtude, conhecimento e bem são equiparados e relacionados na filosofia de Platão.

“A sabedoria é a única entre todas as ciências que tem ao mesmo tempo como objeto a si mesma e a todas as demais ciências.” (Cármides, 166 e)
“A sabedoria ocupa o primeiro lugar entre os bens divinos.” (Leis, I, 631 e)
Nesse estágio de seu desenvolvimento intelectual, Platão se revela preocupado em entender a natureza da matéria deste saber, que é o Bem, o que só será explicado através do expediente do Mundo das Idéias.

Sócrates fixara a norma para a cognição do Bem: para tê-lo, são indispensáveis a sabedoria e a virtude. Platão quer encontrar a via que conduz à sua realização, e que suporá haver conseguido ao definir os elementos constituintes da formação de um homem superior: o filósofo, único ser apto a contemplar o Bem e a efetuá-lo na cidade.
“As cidades não cessarão em seus males até que as governem os filósofos.” (República, VI, 487 e)

A realização do Bem pressupõe, em conseqüência, na filosofia platônica, a sabedoria, que é o conhecimento de si mesmo (Cármides, 104 d) pois, somente com a sua posse, é viável aperfeiçoar o ser humano, enquanto a ignorância é por ele tida como uma demência (Timeu, 86 b), a maior das enfermidades (Timeu, 88 b). Uma alma bem formada por uma educação correta deve ser boa, justa e sábia (Epínomis, 979 c).

O Protágoras é o ponto para onde convergem todas as discussões anteriores sobre as virtudes, nele condensadas sob o conceito de arte política que “... não pode ser ensinada, e que é inútil procurar o conhecimento dela em outro homem.” (319 b). A arte política compreende os quatro valores cívicos: a justiça, a prudência, a santidade e o pudor, que “... não são mais que distintos nomes de um único todo.” (Protágoras, 329 d)

Aqui aflora, mais uma vez, a vigorosa influência de Sócrates sofrida por Platão, uma vez que para o própria efetivação da virtude e, como efeito, do Estado modelo, só os bem-nascidos para uma educação exemplar (Político, 309 ab), os que são capazes de chegar à cognição de si mesmos, de avaliar o que cabe a si e aos outros, devem ser considerados aptos para a sua consecução. Por isto, têm a obrigação de encarregarem-se dos negócios da cidade.

Digno de nota é o duelo verbal que, no Protágoras, Platão, por intermédio do personagem Sócrates, trava com Pródicos, Hípias e o próprio Protágoras acerca da questão de se a virtude pode ser ensinada, quando, mais que dois pensamentos antagônicos, ressaltam-se dois métodos contrastantes: os sofistas apegam-se a longas exposições e ao comentário dos poetas, Sócrates aferra-se à discussão dialética. Ao final do diálogo, os interlocutores de Sócrates são flagrados asseverando o que a princípio negavam. E a contradição dá-se sem que eles a percebam.

Platão endereça aos sofistas os adjetivos mais injuriosos. No Sofista (223 b ss), define-os, consecutivamente, como caçadores de jovens ricos, comerciantes, vendedores de ensinamento, atletas de combates verbais, magos da linguagem que convertem o verdadeiro em falso até que exista o que não existe. Persiste em evidenciá-los como venais e, reputando ser a política o mais honroso encargo a que pode ser destinado um cidadão, conclui que os sofistas não podem ser autênticos políticos (Político, 291 c). Sustentando que a técnica sofista tem apenas semelhança com a ciência (Sofista, 231 b, 233 c), sentencia inexorável: “Dizendo a verdade, é impossível que seja sábio posto que concluímos que não sabe nada.”
(Sofista, 268 b)

Platão foi, como esperamos que tenha ficado manifesto, não só o melhor amigo e discípulo de Sócrates, mas igualmente o continuador de sua obra pedagógica e cívica. Os oitos anos de convivência com seu mestre, ouvindo os seus ensinamentos, observando seu processo de lidar com aliados e opositores, extasiando-se com a sua grandeza moral, marcaram-no para sempre. Não é por outra causa que o mais nobre encômio que Platão subscreveu a um contemporâneo em suas páginas, foi dirigido a Sócrates.

“Assim foi, ó Eqüécrates, o fim de nosso amigo, de um varão que, podemos afirmar, foi o melhor além de ser o mais sensato e justo dos homens de seu tempo que nos foi dado conhecer.” (Fédon, 118 a)

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto, esclarecedor e oportuno em um momento tão delicado da história brasileira, em que os sofistas hodiernos tentam embair a sociedade com seus raciocínios tortuosos. Obrigado, mestre, por esse ensinamento.

Hugo Caldas disse...

Além da excelência do texto, o estilo de Serafim superou em muito a minha vã filosofia, a minha expectativa. Aprendi muito. Gracias, Maestro.