sábado, julho 07, 2012

Miolo de Pote 20


 W. J. Solha

1) Mais um prêmio para O Som ao Redor (Neighboring Sounds), depois do concedido pela Federação Internacional de Críticos Cinematográficos, em Roterdã, e do Grand Prix de Copenhague. Ganhou, em 23 de junho, o Educons Hungry Days do Cinema City Internatio​nal Film Festival, na Sérvia. Parece que eu e Gustave Jahn (numa cena rodada em Bonito, Pernambuco) comemoramos por antecipação:



   Relatório do júri:
EDUCONS HUNGRY DAYS
at the final session and after careful consideration of the entire film programme of the competition selection Educons Hungry Days unanimously decided to award the following film:
Award for best film in competition programme Hungry Days goes to NEIGHBOURING SOUNDS, directed by Kleber Mendoça Filho
Explication: The jury awards the Brazilian film Neighbouring Sounds for succeeding to transform everyday life in an ordinary neighbourhood of the city of Recife into something unsettling and extraordinary, as well as for the way in which it uses classical film genres for generating its own myths, and not only for a certain effect. These are just some of the reasons why we are pleased to award this small Brazilian (Borges’s) Alef.
De fato. Está lá, no conto de Borges com esse nome:
-¡El Aleph! - repetí.
-Sí, el lugar donde están, sin confundirse, todos los lugares del orbe, vistos desde todos los ángulos
2) Henrique Magalhães informa que seus quadrinhos, mais os dos também paraibanos Shiko e Marcos Nicolau, fazem parte da atual  mostra de quadrinistas da América Latina em Lion, França. A mostra acontece  na Maison de l´Amérique Latine em Ródano-Alpes.
3) Por falar em Shiko: Sempre me sinto estar devendo algum  comentário sobre as pinturas dele no Manaíra Shopping. Desenhista dos melhores que conheço, suas quadrinizações são belíssimas. Sua pintura – bastante afim com as HQ , na temática – empolgaram-me, sempre. E de repente um dia vou almoçar na Praça da Alimentação daquele espaço enorme, entre as compras, e lá está o artista ultimando o retrato de Sivuca! (Fotos de Claudinha Aires)

E, um pouco além, vários outros painéis enormes, entre eles as homenagens ao nosso belo Teatro Santa Roza, ao nosso homem do campo, à maravilhosa fachada da igreja de São Francisco.


Como é bom ver a força desse talento!!!


4) Em Los Angeles, ao mencionar meu personagem no filme O Som ao Redor, o crítico Paul Sbrizzi (http://www.hammertonail.com/reviews/neighboring-sounds-film-review/ ) chama-o  de  Don Francisco.   
Claro, ele é da terra de Zorro, na verdade Don Diego de la Veja que, como seu Francisco, é dono de terras. O tratamento respeitoso me remeteu ao Casón del Buen Retiro, museu de Madri anexo ao Prado, cujo diretor, Jesús Aroca, passou uma tarde inteira ( em 1994 ) tratando-me por  Don Baldemar.  Sempre tive aversão ao meu primeiro nome – daí escondê-lo na sigla W. J. Solha – mas até que aquilo me soou bem...

5)Mensagem que o romancista Esdras do Nascimento me passa lá do Rio:
Pode me mandar sua resenha sobre "O autor da novela", do Tarcísio Pereira? Estou na metade da leitura. Entusiasmado.
Grato por me ter posto em contato com um belo texto de ficção.
6)Mensagem seguinte, dele, agora para o próprio Tarcísio, que me remete uma cópia:
Acabo de ler seu romance.
Excelente.
Há muito tempo eu não lia texto tão bom, tão bem estruturado, tão divertido, com personagens admiravelmente bem criados.
Parabéns.
Por essas e outras é que eu sempre disse que a Paraíba tem o maior número de gênios por metro quadrado!
7) Leitura imperdível: “Lembranças de Houaiss”, do Ivo Barroso, em http://gavetadoivo.wordpress.com/

8) Carta de Olga Savary.
   Rio de Janeiro, 21 de maio de 2012:

Grande escritor Solha,
Agradeço a gentileza do envio de Arkáditch e, após, Marco do Mundo, ambos belos e monumentais, como tudo o que você escreve.
9) Pra quem curte fotografia: no Youtube há uma série denominada  Masters of Photography, que vale a pena ver. Como o caso de Richard Avedon, por exemplo, que está em

Ele é o autor desta imagem trágica e poderosa do poeta Ezra Pound, preso pelos Aliados por colaborar com o fascismo na Itália:



Aliás, eu me servi dessa foto para o ataque cardíaco de meu Rei Lear, no momento em que ele carrega o cadáver da filha Cordélia, numa das 36 telas que formam o painel retangular “Homenagem a Shakespeare”, que está lá no auditório da reitoria da UFPB:




Maravilhosos, também, o fotógrafo Horst P. Horst:... http://www.youtube.com/watch?v=xPPv9_GIA8M


... e o extraordinário Augusto de Luca, de que vão aqui umas obras-primas:: http://www.youtube.com/watch?v=qAanVduAqcY





10) Se preferir uma geral nos melhores fotógrafos de todos os tempos, veja a série Grandes fotógrafos de la Historia, em três partes

1) http://www.youtube.com/watch?v=Y3rGwQ9hZ2M
2)http://www.youtube.com/watch?v=GYyHUqDXhVg&feature=results_video&playnext=1&list=PL056F5DD198B50662
3) http://www.youtube.com/watch?v=7V59TWGSz0c&feature=results_video&playnext=1&list=PL056F5DD198B50662

11) Mensagem que remeti a Cláudio B. Carlos, gaúcho radicado em BH:
Gostei imensamente de O Uniforme e de Um Arado Rasgando a Carne.

     

muito não via histórias curtas tão densas. Lembram-me – por essa densidade e pela concisão – as peças igualmente breves, de Beckett. Lembram-me igualmente, pelo modo como você nos situa quase sempre numa realidade que não conhecemos e que, de repente, conhecemos com minúcia, a técnica do non finito das artes plásticas. Veja isso no começo de uma dessas narrativas:

Das lembranças que tenho, a que sempre me vem COMO UM SONHO recorrente, É A DO PIJAMA AZUL de meu pai.

Isso me leva diretamente a um guache-aquarela de Egon Schiele – Esta Laranja era a única luz


Você parece querer confirmar isso no final de Um Amor Distraído:

E conseguia perceber NO MEIO DO IMENSO NADA, a DISTRAÇÃO.

Ou seja: seus textos, imensamente bem escritos, descritos, nos põem de imediato num breve momento da vida gaúcha, quase sempre de um passado remoto, da infância, com aquele jogo precisão\imprecisão da memória de alguém consciente agora, sobre o que houve num tempo distante em que vivia mais do que analisava a vida.
De repente, plaft: o rato que cai na mesa durante a janta, na agonia nojenta mas finalmente engarfada.
De repente, o minúsculo mas exato ruído das patas da barata na madeira, “como o  de unhas batendo alternadas numa mesa”.  E seu texto certeiro comenta: “Ela era elétrica, rápida”.
O que melhor do que isto, em Balada para Adonai Mellendez?:

Morrera sentado, infiltrado pela mistura dos cheiros: cachaça, suor, nicotina, porra, e o cigarro queimara entre os dedos murchos.


Ou, em A Caravana Passa:


Fechou o zíper, puxou a descarga, voltou ao espelho e com o pente de um e noventa em nove, que retirara do bolso de trás da calça, penteou meticulosamente os cabelos estilo sertanejo pop.



Em O Corpo, o enevoado toma conta de tudo, com o personagem de olhos fechados. “Ouço o barulho da rua ao longe, através das pálpebras cerradas sinto a luminosidade da televisão ligada (OUÇO AS VOZES AO FUNDO COMO SE ESTIVESSE COM A CABEÇA DENTRO DE UMA LATA), não consigo abrir os olhos, A CAMA PARECE FLUTUAR LEVEMENTE.
Em A Santa, uma descrição soberba de algo também insignificante:



Uma medalhinha amassada com a imagem de uma santa que carrega um guri no colo.


Só vi algo tão bonito, a respeito disso, em Vinicius:


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesus Cristinho



Mais um detalhe insignificante que se torna tão poderoso quanto este garfo de Oldenburgh:


Deu entrevero de gente. Todos queriam ver o resultado de mais de trinta dias de trabalho. (... )No centro, um dos engenheiros desatarraxava a geringonça. Eu era guri e fiquei impressionado: como podia caber tanta água dentro daquilo que os doutores chamavam de torneira....

Trabalho de mestre, Cláudio!

12) Eis uma obra fabulosa, deslumbrante:

Vá com calma e passeie neste longo quadro.  Desloque o cursor de um lado para o outro, ou simplesmente parando com o  mouse para fixar aquela parte que deseja ver.
Logo que apareçam os quadrados brancos cliquem neles. São 3 e verão o imaginário desenrolar-se de forma animada, para além do que está no quadro.

 É um quadro chinês muito célebre.
 As pessoas fazem fila de horas no museu de Xangai para o ver.  Foi pintado cerca de 1085-1145, durante a dinastia da "Canção do Norte".  Foi repintado durante a dinastia Qing.

 Mede 5,28m de comprimento e 24,8cm de altura.

 É considerado como um dos grandes tesouros da China e foi exposto no museu  de arte de Hong-Kong no ano passado.

http://www.npm.gov.tw/exh96/orientation/flash_4/index.html