José Virgolino de Alencar
Torres, muitas e imensas torres, floresta de concreto,
cercam meu universo, minha galáxia, onde vivo;
entrego-me à reflexão, a indagar pensativo
sobre a ameaça de que meu ilhado teto
torne-se irrespirável e eu, cassado o direito a veto,
tenha que resignar-me, mãos atadas, inativo,
ante a força desumana do sistema especulativo,
hedonista, que faz da ambição primacial projeto.
Suprime-se de minha vista o belo e fascinante
nascer e pôr do sol; nem abre, pra meu deleitar,
sequer uma frestinha, por onde, do alto mirante,
possa dar à mente o saudável repouso, vendo o mar;
sinto-me, assim, pássaro aprisionado, vida sufocante,
vagando nos limites do ninho, sem asas para voar.
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